quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

The Dark Side Of The Moon - Pink Floyd, 1973



O meu relacionamento com o Pink Floyd é uma coisa perturbadora. Na minha mente, eles foram os únicos que enfrentaram os Beatles. Não que um fosse melhor que o outro. Quer dizer, estou mentindo. Os Beach Boys foram os que mexeram nas estruturas da razão musical pós Beatles. Só que os Beach Boys têm aquela coisa das vozes, Califórnia, Surf Music, etc...; e depois vieram com a própria revolução com Pet Sounds e Smile. O Pink Floyd é uma banda que dá-se a impressão de que não beberam em fonte alguma, criaram o seu próprio curso das águas. Desde então há um ranking suspenso em minha mente quanto a esses ramos artísticos muscais: The Beatles, Brian Wilson e Pink Floyd... aí vem o Oasis, Guns n' Roses e Radiohead... esse é meu top 6. 

Mas como se faz uma música? Numa matéria da revista Rolling Stones, intitulada "A Maldição do Pink Floyd" (aff), David Gilmour começa a entrevista dedilhando seu Martin e passa a cantarolar qualquer coisa - "Foi assim que nasceu Wish You Where Here, num momento desses". Como pode ver, meu caro leitor, não existe um laboratório com válvulas pegando fogo, um cara vestido de branco manchado de carvão, bolhas de sabão multicoloridas voando e explodindo alegremente ao ar, tubos de ensaio. Não existe horário de trabalho, força da razão, pensamento coletivo ou coisa parecida que não faz porra de sentido algum. As mensagens estão circulando a cima de nós, numa correnteza cósmica que sabe-se lá de onde vem. Eu digo isso porque me familiarizei com o que disse Gilmour sobre dedilhar e brincar, e do nada a coisa vem, toda, começo meio e fim. Hey Jude nasceu em um sonho - UM SONHO! 

Enxergo o compositor como um mensageiro. É um puta dum clichê, eu sei. Mas é verdade. Nessas horas a coisa da psicografia faz muito sentido. Quando faço minhas músicas, eu costumo dizer que não fui eu quem fez, mas que foi enviado de alguma dimensão pra lá de foda. Não é questão de fama, não é questão de ser bom ou não. Esses caras que tanto vangloriamos estavam no momento certo, na hora exata e com a mente completamente receptora de tais vibrações cósmicas, e há a passagem do cósmico para o material. Esse material é gravado e prensado. É distribuído. Por mais que você possa ser um defensor da arte alternativa e independente, não pode negar que um disco que vendeu zilhões de cópias e que continua vendendo - um disco que todos os dias alguma pessoa ouve no mundo - mesmo que você seja um socialista mala que esnoba o dinheiro e os mais afortunados, você não pode negar que The Dark Side Of The Moon, apesar de toda a merda por trás de sua história - é um diamante negro. 

Não conheço Roger Waters. Nem ao menos já sonhei em entrevistá-lo. O que posso afirmar, com tamanha certeza, é que ele não é um ser humano perfeito. David Gilmour também não. Waters é cheio de marra, do tipo pior que John Lennon, um verdadeiro britânico que despreza qualquer um que não reconheça a sua genialidade. Um cara de pouco talento, e foi aí que percebi que não é preciso talento para ser gênio. Na mesma matéria citada, ele diz que toda a banda fazia um esforço imenso para dizer a ele que era um cantor desafinado e que não sabia ao menos afinar o contra-baixo. Ele disse que isso era uma grande besteira. A banda não queria aceitar que ele era o grande mentor da captação cósmica. Além do mais - e foi a única coisa que li nessa matéria que valeu a pena - Roger disse que até podeira ser um mal cantor, mas compensava cantando com sentimento e caráter. 

Caráter não se compra, não se vende, não se acha. Você nasce com um e ele se torna verdadeiro quando seu ideais são colocados a prova. Perde-se de tudo pelo tal do caráter. Mas cantar com caráter é algo espantoso. Roger fazia assim mesmo. Nas raras vezes que sua voz aparece em Dark Side, fica claro o seu caráter, trazendo toda a experiência letrística á tona. 

David Gilmour, coitado, ao meu ver - na verdade nunca saberemos o que aconteceu, pois eles falam, falam e falam e não dizem porra nenhuma - é o grande músico, que caminha entre a técnica e o sentimento, onde eu acho que o sentimento fala bem mais alto. O tipo de guitarrista que toca como se escrevesse uma história, como se estivesse num filme. Da mesma forma que Roger captava as palavras e o enredo no cósmo, Gilmour fazia a mesma coisa com a guitarra. Mas também não é um ser humano perfeito. 

A dupla se desfez por causa do Ego. Um não suporta a genialidade do outro. Os dois estão sempre em processo de pé de guerra, dois caras muito competitivos. O Pink Floyd, apesar de toda o furacão egocêntrico, ainda resistiu e nos brindou com grandes clássicos que perpetuaram na história da música. 

A escuridão é a ausência de luz. Na verdade, como diz o guardinha do Abbey Road no final do disco, "não existe o lado escuro da lua. Ela é toda escura, é o Sol que a faz brilhar"  A música de Dark Side é escura, sua base é escura, é incerta, é cega. Um disco que assusta e que perturba. Momentos de loucura, da total falta da razão. Gritos, risadas, como se demônios estivessem prestes a levá-lo para o tal lado escuro da realidade mental. Estar vivo, estar morto, estar lá e cá. A incompreensível força do tempo, o tempo invisível, sem sentido, que passa e bate na tua cara que já era, já foi, não há o que se possa fazer. A vida que machuca, destrói. A vida que caminha para a luz, lá longe, impressionantemente nos solos de guitarra de David Gilmour, nos tempos da bateria de Nick Mason, na harmonia dos teclados de Richard Wright, nas palavras perturbadoras de Roger Waters. A luz vem chegando e aos poucos vai afastando o frio do escuro. O escuro não mais existe, ele fica lá no lado da Lua que ninguém mais vê. A vida faz sentido em tudo que fazemos, em tudo que tocamos, vemos, provamos, sentimos, amamos, odiamos, confiamos, salvamos, comemos, todos que conhecemos, todos que brigamos, tudo que é agora, que já foi, tudo ao mesmo tempo, e tudo está em total harmonia com a luz, no Sol, mas o Sol está sendo eclipsado pela Lua. 

Como eu disse, esse disco é um diamante negro. nível fodástico: TODAS. 

2 comentários:

  1. Legal o blog Felippe...Minha experiência com o Dark Side foi legal. Encontrei o disco na coleção do meu pai quando tinha uns 13 anos e coloquei pra tocar , me lembro até hj da sensação de "onde é que começa a música ? " Os passos , relógios, vozes , a capa estranha do disco me causaram medo e lembro que não terminei de escutar e achei muito chato...Quando um pouco mais "maduro" , acho que com 17 anos tentei de novo e a coisa mudou, as coisas se tornaram mágicas e tudo já tinha mais sentido e a sensação de liberdade e melancolia me pegaram, ae ferrou , roubei o disco do meu pai que está comigo até hj, fui atrás dos outros discos e o Pink Floyd ganhou meu mundo...
    Qualquer hora a gente continua esse assunto..

    Abraço do Vizinho Egidiense

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  2. porra... não é que isso rolou comigo também? eu ganhei o PULSE (que tem o Dark Side ao vivo) de um tio meu num Natal que eu tinha uns 12 anos... achei um lixo, não entendi nada, da mesma forma que rolou com você. Anos mais tarde, a descoberta!

    Abraço meu querido vizinho. (esse papo de vizinho é estranho...heheheh).. é nóis!

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