sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Tulipa Ruiz no SESI AMOREIRAS



No dia 9 de agosto de 2012 eu postei meu parecer sobre o segundo disco da Tulipa Ruiz, "Tudo Tanto". Quarenta e nove dias depois (se eu não errei na conta) estou lá, sentado acho que na oitava fila, no corredor de um teatro bem bacana que eu nem sabia que existia na minha cidade - o SESI Amoreiras, Campinas-SP. 

A começar pela grande dádiva do valor da arte (ainda mais uma arte do cacife de Tulipa) - de graça! E  eu achando que seria o único interessado em conferir a continuação de Efêmera ao vivo. Da última vez que a vi, Tulipa gozava do sucesso da já citada "canção-tútulo". A coisa ainda um tanto nova. O sucesso rondando na cara, no palco, no publico. Para mim, como espectador, tudo desconhecido. Fui a convite de minha mulher - "vai ter Tulipa, aquela moça que canta aquela música tal, que eu ouço quase todos os dias... Não quero ir sozinha, vamos comigo?". Ora, mas é claro... Gosto de música e o show, naquela época, custou três mangos... Fui surpreendido e passei a ouvir Efêmera todos os dias por uns 3 meses. 

Daí a cantora consegue patrocínio da Natura (até onde li) e grava mais um disco. E tudo está relatado no post de 9 de agosto. 

O tempo que separa Efêmera de Tudo Tanto é o mesmo que separa o "muito obrigada" do último show para o de ontem. Fila tranquila, povo muito educado (dá orgulho de estar lá), gente bonita e respeitável. O teatro se abre, todos sentam. Um aviso sobre segurança e suas portas com travas. Lá fora aquele puta frio de oito graus com sensação de quatro. As luzes se apagam, o irmão dela entra e pega a guitarra, o pai dela faz o mesmo. Os dois amigos no baixo e na bateria. Todos prontos. Até aí todo mundo batendo palma. Então a Tulipa aparece trajando um vestido preto com alguns detalhes brilhantes, com um ar de maluca mas não tanto. Nem sorri. Séria de meter respeito. A virada espetacular de bateria e começa-se o espetáculo que vale certamente uns cento e vinte reais. "Pode ser ou é". Absurdamente perfeito, uma competência de ensinar na faculdade de música com ênfase em palco. A banda, o que se vê, é de uma sutiliza pesada fora do comum. O looping rolando como o quinto músico - a aqui não me interessa teu pre conceito com quem usa isso, pois bem usado é tão lindo como uma harpa. Tudo que foi gravado no disco e que não há quem execute ao vivo está nos loopings, das dobras das vozes de Tulipa ao arranjo de cordas. A impressão que se dá é que apertaram o play do CD. O pai dela é de uma precisão que só os anciãos tem - seu vibrato nas cordas é bonito de ver. O irmão dela caça cada nota como se fosse a última coisa mais importante do mundo.

Aos poucos o olhar sério de Tulipa vai dando espaço aos seus comentários divertidos, dando a certeza de que ela é uma pessoa muito bacana e que o tempo deve passar tão rápido quanto o seu show numa mesa de bar junto dela. Fez algumas confissões quanto à letras e a equívocos de encarte e gravação. Falou que não tocaria Efêmera: "Vamos desapegar gente, para nós também é difícil". E, o que mais me chamou atenção, dizendo que a primeira vez que esteve em Campinas foi no SESC, como artista secundária, tocando na piscina para um povo que estava mais preocupado em nadar e tomar cafezinho do que ver o seu trabalho, e que estar ali naquele momento era muito gratificante. 

O que será daqui pra frente? "Ah, eu não ligo... Vou lançar mais um disco, e os críticos vão meter o pau. E mais um e por aí vai". Penso "mas como é que deve ter gente metendo o pau? Ela está se gabando, só pode". Ela diz "sabe-se lá... quando eu tiver velhinha vou estar cantando ainda" e aqui ela imitou a própria voz tremula de velhice "vou ficar mais um pouquinho" tirando risada de todos os presentes. Daí aquela pausa e diz "ou não". Um show intimista que quando chegou em Brocal Dourado fez todo mundo ficar de pé e os mais empolgados irem ao pé do palco. 

Cara, a Tulipa é muito foda.