terça-feira, 28 de abril de 2015

Nunca mais eu volto!

Eu nunca mais volto nesse lugar! Quantas vezes você já disse isso e cumpriu com o que disse? Quando eu falo, pode ter certeza - nunca mais piso no local. Hoje pela manhã estava vindo para o trabalho e vi um cara na rua que me lembrou disso. Então esse é um post idiota sobre estabelecimentos que nunca mais voltei, sem a pretensão de queimar o filme desses, mesmo porque são lugares de sucesso e que não dependem da minha presença para continuar com seu sucesso. Antes de tudo, sucesso à todos!

Eu costumava frequentar o Bar Azul. Ia muito com o pessoal da Oito Mãos. Todos os nossos encontros eram lá. Talvez foi lá que passei a tomar Brahma. Certa vez estava com um dos caras e no meio da bebedeira pedimos uma porção de amendoim japonês. Na conta, a surpresa: um potinho por algo em torno de R$28,00. Já saiu para comer nesses botecos no bairro do Cambuí? Pra quem é de fora e lê essa coisa aqui, o Cambuí é o bairro mais nariz empinado de Campinas. Eu sei porque trabalho aqui... Não, não somos nariz empinado. E é aí que ganhamos muitos clientes e ouvimos merdas de outros por não nos curvarmos ao dinheiro - entenda como quiser. Mas isso é outra história. Paguei a conta e disse "nunca mais eu volto aqui". O bar ainda está lá, azul escuro de tão sujo. Mas com sua clientela fiel que não liga por pagar tão caro para comer amendoim. 

Também no Cambuí, na esquina da General Osório com a Júlia de Mesquita, está o famoso City Bar, com o prepotente slogan "O melhor bolinho de bacalhau do mundo". Nem sei, só sei que a torta de frango (quando eu comia frango) dá de dez a zero no tal bolinho de bacalhau. Há também o pastel de belém... Nunca comi, mas deve ser bom. Frequentado por pseudos intelectuais e professores e alunos de jornalismo - e mais uma galera que se diz letrado em qualquer assunto de mesa de bar, assuntos interessantes no geral - o City é de longe o bar mais famoso da cidade. Seu balcão é tão disputado quanto o banheiro (só tem um para cada sexo) e sempre (SEMPRE) a fila para mijar é uma tortura. Mas não é por conta do banheiro que não volto mais lá. O atendimento dos garçons é algo que não dá para entender. Ninguém diz boa noite, ninguém diz obrigado, ninguém sorri. Dá-se a impressão de que uma empresa desse porte não precisa mais agradar a ninguém a não ser a eles mesmos. A parada vende tanto que é problema teu se você quer ou não sentar lá para consumir. É tipo assim: você chega, senta com a galera e chega um garçom dizendo "Brahma ou Skol?" E se eu quiser bater um papo? Nunca mais eu volto lá. Mas é claro, sempre lotado. Tem gente que não liga pra isso. 

Fui levar meu banco do carro para arrumar no seu Nelson, num lugar chamado Estocar. Fica ali, atrás da Barão de Itapura, ao lado da Unimed, escondido do vai e vem dos carros, mas tão famoso que é o primeiro a aparecer no Google quando digitamos "estofamento automotivo" Campinas. Pra começar me deram um chá de espera de quinze minutos porque a única pessoa que poderia me passar orçamento de estofado estava saindo da hora de almoço. A pessoa? O seu Nelson, é claro. Um cara trabalhador, me diz que abre a loja as sete da manhã e fecha as seis. De sábado vai até as duas da tarde. Puta rotina filha da puta. Ou seja, são fodas. Mas não bati com ele. Depois do chá de espera, lá vem seu Nelson empalitando os dentes passando reto por mim. Alguém disse a ele que eu estava esperando. Ele veio com um breve "opa, tudo bom?" e já olhando o que havia de errado no meu banco. Enquanto isso, olhava o carro todinho dizendo "isso aqui também pode trocar, aquilo ali também" e eu dizendo que maneiro saber mas tudo o que eu precisava era arrumar o banco porque não estava aguentando o estado dele quebrado. Passou o orçamento a R$200. Eu disse "e pagando em dinheiro, à vista?" Ele disse "ééé rapaz, fica em R$200 mesmo porque esse é o preço do serviço, vai fazer?" Olhei pra ele e pensei no meu bem estar. Aceitei. O cara fez uma ordem de serviço e escreveu no orçamento: preço, R$220. Desconto de R$20 à vista. Total R$200. Olhei, sorri e disse "Mas o senhor me cobrou duzentos antes de eu pedir o desconto, que raio de desconto é esse?". Ele respondeu "O serviço completo é R$220 garoto, o desconto é esse". Fingi que não ouvi e dei ok. Ele me emprestou um banco dele e ficou com o meu.  No dia seguinte volto lá e um funcionário efetua a troca do banco pronto. Pago os R$200 e vou embora. Mas o banco ficou ruim. Esqueceram de ativar uma trava e o banco saía do lugar. Voltei no dia seguinte e o funcionário, ao invés de dizer "putz cara, viajei, foi mal", disse que não ativou a trava por que tem gente que gosta de usar o banco no máximo pra trás. Eu respondi que do jeito que sempre foi seria ótimo. Ele arrumou a trava. Depois cismei que o banco ficou torto, o funcionário concordou comigo e tentou arrumar o banco colocando o pé nas costas do mesmo - com o detalhe de usar um pedaço de carpete para não sujar. Daí ele pediu ajuda do seu Nelson e veio a gota d'água. O cara jogou o pedaço de carpete pra longe e meteu o sapatão sujo no banco. Depois de não ter sucesso, me disse que banco de Uno é frágil, é pra pessoas com no máximo sessenta quilos e pra eu tomar cuidado ao entrar e sair do carro. Puta que pariu. Minha última resposta foi, ao funcionário, "cara, brigado... eu não vou discutir com ele". Nunca mais eu volto lá. 

Também já aconteceu de eu ouvir isso, mas foi um alívio. Tem uma empresa - claro que não vou dar o nome, afinal são meus clientes - que compra comigo no informal. Vão fazendo uma continha e no dia dez pagam tudo. Uma funcionária de lá quis fazer o mesmo e tomei calote, pois ela saiu fora e ninguém respondeu por ela. Fiquei esperto. Daí uma outra comprava um (sim, UM) galão de limpa pedras e pedia para pagar no dia dez. Certa vez ela não mandou o pagamento. Eu mandei a cobrança. Ela ficou puta da cara, acho que entendeu tudo errado, e me ligou gritando dizendo "você acha que eu sou aquela moça que te deu o calote? Pois fique sabendo que não sou, eu NUNCA MAIS COMPRO COM VOCÊ". O gozado é que ela tem que engolir eu entrar na empresa para entregar pelo menos umas 4 vezes por mês... Quem perdeu foi ela. Mas nunca mais comprou... 

E quando eu trabalho com música também acontece coisas desse tipo. O Andarilho é um bar incrível - pra quem gosta, é claro. Eu, como cliente, jamais piso lá. Não é o meu tipo de lugar, mas respeito quem vai. E como músico fui praticamente proibido de ser chamado para trampar. Explico. As duas vezes que apareci fui recepcionado num clima meio que de cobrança, como se fossem meus patrões. Isso acontece, é normal. Mas a gente mostra profissionalismo e tenta fazer o melhor possível. Eu devia estar atrasado, não lembro. Mas o Amaral é um cara massa a gostou do que viu. Tocamos eu, meu irmão e o Gaúcho. Esse trio era maneiro, uma bagunça daquelas. Nós éramos em dois malucos que não levam desaforo pra casa (eu e meu irmão) e um que tentava conciliar as coisas em prol do trabalho (o Gaúcho, talvez o mais profissional nessas situações). Mas eu já tenho onde engolir sapos. Na música eu não engulo. Daí o dono do lugar tem costume de subir no palco para falar suas coisas. Eu já acho isso uma falta de noção tamanha, mas tem tanto músico que toca lá e aceita essa parada que quem sou eu para dizer não? E a noite foi-se. Até que chegou um momento engraçado. Estávamos tocando Light My Fire do The Doors e na hora do solo eu enlouqueço. Tipo, é o meu momento manja? E estávamos com o público nas mãos. Enquanto eu solava, uma mina foi subindo no palco - bêbada de dar dó - para cantar a canção, sem ser convidada. Eu meti meu corpo enorme como muro e disse "não". Ela falou "mas o Ley deixou". Eu respondi "ele pode ser o dono do bar, mas no palco quem manda sou eu". Eu não sei se foi algo do tipo "aquele cara nunca mais toca aqui". Mas eu sei que eu não piso mais lá nem se o Paul McCartney tocar. Quer dizer, o Paul me leva lá sim.. 

Nossa... Tem tanto assunto com essa coisa de música. Tem gente que não dá. Eu me faço de idiota, mas para alguns caras que agitam noites eu nunca mais trabalho. Gosto da simplicidade da Cachaçaria Água Doce de Barão e da camaradagem dos irmãos do Ponto 1. Certeza que eles já ouviram essa coisa de nunca mais também, todo mundo ouve... É normal. Mas tem uns caras que vou te contar viu... Nunca mais.