quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

As 10 maiores bandas da minha vida.

É fim de ano e o povo começa a vomitar as listinhas que deixam alguns artistas bem felizes, outros bem putinhos. Aqui vai a minha, que não tem nada a ver com o fim do ano e com novos artistas. 

Pois agora eu pego o barco rumo ao mar de águas turvas que é falar sobre suas bandas preferidas. Você, caro e não tão raro leitor (as proporções não me iludem, quantidade é algo há muito tempo superado) por muitas vezes se indignará com tais citações, poucas vezes concordará comigo. Talvez isso aqui não saia como eu imaginei. O tempo todo eu imagino as coisas. E já adianto: trata-se de um post longo, talvez eu nem termine hoje ou nessa mesma folha. No fim das contas eu direi quantos dias levei para fazer isso aqui. Num primeiro momento pensei em escrever um livro, mas eu já tenho um e ninguém comprou (não vou cair na contradição da quantidade) o problema é que ficou caro pacas... Talvez eu reconsidere, ia ser bem legal um livro que desse de dez a zero naquela merda que o Zeca Camargo escreveu certa vez sobre suas entrevistas, onde cada capítulo era uma banda. Pensei em fazer assim também. Mas daí lembrei do blog, etc... 

O critério usado foi bem simples: as 10 bandas da minha vida vieram a tona no que diz respeito ao meu nível de conhecimento das tais. Se eu conheço todos os discos e ponto final. Depois pensei nas bandas que eu sei que são impecáveis e que deveriam entrar em qualquer lista que se mereça o respeito. Não quer dizer, em hipótese alguma, que uma é melhor que a outra por causa dos algarismos em que ela se posicionam. Só quer dizer que essas são as 10 bandas que me fazem ter vontade de ter uma banda também. Não estou considerando artistas solos. Banda é aquela coisa de quatro cabeças criando, brigando e tocando. 

Isso aqui não se trata de um concurso literário ou porra alguma. É só mais um post, pois eu realmente gosto de escrever. Vamos lá.





LED ZEPPELIN 

O que eu sei - desde os tempos em que meu pai passava suas bolachas da época em que ele tinha seus 18 anos para nós - é que John Bohan merece o título de melhor baterista do mundo. O nome da banda já remete ao nó na garganta, ao álcool na veia, seu nível de chapadeira carregando um peso de bigorna que voava e pegou fogo. O Zeppelin era perfeito, mas havia seus defeitos. Os caras eram muito loucos! Pra falar a verdade, todo mundo é louco - já diziam os Lucidas em "Até o Fim", nosso último disco. Quando ouço Led Zeppelin, tenho a impressão de que eles estão na minha sala. Robert Plant cantava com as mãos na cintura, sem o menor esforço não é mesmo? Aquelas frases épicas, aqueles gritos e gemidos sem o menor pudor, com a maior cara de pau que só o rock and roll pode proporcionar. John Paul Jones não se intimidava e caía com tudo em cima dos grooves. Recentemente li na Rolling Stones que é dele o riff de Black Dog! Mas eu fico me perguntando se o riff foi criado no baixo ou na guitarra... O que é mais fácil de se tocar, baixo ou guitarra? Não tenho a resposta para isso. De qualquer modo, Paul Jones desempatava no órgão. Daí o time se completava com o produtor da banda, além, é claro, de ser o guitarrista e o fundador. Diz ele que criou a sua banda para ele tocara seus riffs (sério, li na tal Rolling Stone, uma entrevista). Jimmy Page é de uma genialidade que agride. Seus quase dois metros de altura o elevavam a um pedestal de iluminação sonora pra lá de paralela. No mais delicado foda-se, ele passeava pelas seis cordas como se nada importava, como se tudo o que te dizem ser certo ou errado fosse a maior babaquice e cafonice de todos os tempos. Ele é o cara que pegou todo o modismo da guitarra elétrica e jogou num caldo em ebulição. O que se ouve nos discos do Led Zeppelin é de fazer o cérebro tremer, de querer pegar qualquer instrumento e partir para a estrada. A única banda dessa lista que não dá para apontar o pior integrante, os caras eram impressionantes. Sabiam misturar a técnica do peso (o que chamam por aí de "pressão") com as palavras e os riffs (que eram verdadeiros refrões). A ficha caiu pra valer em mim quando vi "Celebration Day", o DVD ao vivo, que meu amigo Guilherme Morais nos trouxe numa noite dos solteiros aqui em casa. Abrimos várias latinhas de cerveja enquanto eu ficava babando - ele apenas fazia aquela expressão de "te falei", com o orgulho explícito no olhar. Ao ver os coroas descendo a porrada no palco, me veio à mente que o Led Zeppelin é uma das melhores bandas do mundo, não só por tudo isso que escrevi, mas por tudo o que ainda não tive como colocar aqui, talvez por ter de desbravar ainda mais essa filosófica maravilha da música desses ingleses. Ah, os ingleses!!!





QUEEN

Como eu disse: Ah, os Ingleses!!! Acho que é o sotaque. Talvez seja o clima. Eu ainda não conheço a Inglaterra, mas tenho a impressão de que aquele lugar vive e transpira refrões. Imagino que em quase toda casa tem um piano e que é de praxe nas festinhas caseiras rolar um som depois do jantar, o povo bêbado de vinho bão, debruçados sobre o sofá, cantando sobre coisas antigas, canções populares, do jeito que eles sabem fazer muito bem. Penso que o inglês é friamente calculado. Talvez seja nesse clima que nasceu o Queen. Tinham a pretensão der ser uma banda que não iriam sair batendo de porta em porta nas gravadoras, mas sim as gravadoras que disputariam a tapas o contrato com eles. Acho que assim foi. Cheios de pompa, um visual estranho até para a época. Eles fizeram os refrões que ecoam na duvidosa história da música mundial. Freddie Mercury é o tipo de cantor que merecia muito bem o título de melhor cantor do mundo. Recentemente vazou na net uma trilha da voz dele cantando alguns clássicos sem a música no fundo. Ele não tinha medo do microfone. Ele era um sem vergonha danado da porra, além de ser um gênio pra lá de impecável. Sua maneira de liderar o palco foi de um jeito que nunca mais vimos. Aquela coisa de fazer um "êêêrô!" e a galera responder. Tem aquela cena do show do Wembley, onde um helicóptero com o logo tipo de A Kind Of Magic circula, filmando a galera correndo de felicidade quando o portão se abre. A arena vai entupindo, lotando, coisa de banda gigante mesmo. Mostra-se atras do palco, Freddie está se alongando no jeitão mais molenga possível, aquele bigode taturana tomando todas as proporções da câmera. Vestido de camisa branca regata, ele pula para dentro do palco, fazendo milhões de pessoas irem ao delírio extremo. Seus delírios, seus berros, seus dentes enormes que quase não cabiam na boca. Então temos Brian May e sua distorção com chorus na introdução de One Man. Mais épico, impossível! Com uma moeda de one dolar , May faz da guitarra coisas que não são possíveis de fazer com uma palheta de verdade. Seu tamanho desengonçado faz parecer que sua Guild vermelha nasceu apenas para ele em suas devidas proporções. Ainda vou provar que foi ele quem ensinou o Iron Maiden a tocar guitarra com aqueles riffs de terças e quintas. Um solo mais lindo que o outro, um wah wah de virar o estômago, de fazer cair de costas. Roger Taylor detonava os tambores de sua Tama. Sempre gostei muito de sua condução no chimbal, muito preciso. Suas viradas quase óbvias serviam o rock and roll numa taça profunda, onde John Deacon se debatia todo com seu preciso contra-baixo, o tipo de baixista que toda banda deve ter, calmo e sereno, dono da mais pura pulsação sonora do magnífico Jazz Bass. O Queen é uma banda de hinos, de fazer amigos se abraçarem ao ouvir We Are The Champions, de cair lágrimas na reprodução de Somebody To Love, de bater palmas em We Will Rock You e Radio Ga Ga, e tudo quanto é música que não tem outra palavra: foda!





THE BEACH BOYS

Mal cheguei aos 31 anos e já me vejo como Didi Mocó contando as mesmas histórias de sempre. No caso dos Beach Boys, acho que já falei o que vou contar inúmeras vezes, mas vamos lá. Fiquei sabendo, não sei quando, que a famosa lista da Rolling Stones gringa (olha as listinhas de novo, e a RS de novo!!! Pablo Myazawa, me chama pra trampar na revista!!!) em que enumeram os melhores álbuns de todos os tempos, Sgt Pepper (Beatles) sempre aparece em primeiro lugar seguido de Pet Sounds (Beach Boys). E eu fiquei com a pulga aqui, quem diabos são esses caras? Fui na extinta CD WAY, uma locadora de CD's aqui em Campinas, onde Thiago Cury trabalhava e formávamos altos papos, pedi o tal do Canções dos Animais e fui pra casa ouvir. Achei estranho em todos os sentidos e devolvi ao Thiago dizendo o seguinte: "Tem que fumar uma vela para entender isso". Só que, por via das dúvidas, gravei o CD (no tempo em que queimadores de CD eram caríssimos) e guardei. Depois fui pra faculdade e conhecia um cara, Ericson Cunha, que manjava de música boa e me disse que os Beach Boys eram do caralho, que Brian Wilson havia lançado um tal de Smile e que eu deveria ouvir. Não sei o que me deu quando topei com o tal do Smile na Saraiva, capa branca, lindo, escrito BRIAN WILSON PRESENTES SMILE, comprei na hora. Cheguei em casa e ouvi. Novamente me veio à mente que eu precisava fumar uma vela para entender o trampo do cara. Mas não era possível! Daí ouvi e ouvi e ouvi até que TCHUM! Bateu! Daí lembrei do Pet Sounds e o revisitei. TCHUM BUM! Bateu! Daí eu corri na CD Way e peguei Smile Smiley e Wild Honey. FLAU! Bateu de novo! Daí eu ouvi tudo deles, e me apaixonei pelos Beach Boys e Brain Wilson. Li tudo o que eu encontrei a respeito deles e comprei DVDs e o caralho. É uma mística sem tamanhos a história de Brian Wilson. Tempos depois me vi novamente na CD Way, papeando com o Thiago, e lá tinha um CD player para ouvir um tiquinho do CD a ser levado pra casa. Uma moça perguntou dos Beach Boys, eu disse imediatamente "ouça Pet Sounds". Ela colocou no aparelho usando fones. Resolveu levar dizendo "é um disco bem romântico". FLOU! Bateu de novo! Mas é claro! Se trata e sempre se tratou do romantismo! O bão e danado do amor. Brian Wilson é um cara que enxerga sua música no ar, como ele mesmo disse. Vê as notas voando em sua frente e as escreve na partitura. Se trata de um loco? Mas é claro que sim!!! Artistas abrem sua mente para um completo de distorcido paradoxo. Seria magnífico, se não enlouquecesse. Duvida? Pesquise a história do fodástico sr. Wilson.





RADIOHEAD

Meu amigo Ramirez tinha (ou tem, eu sei lá... ele vive perdendo as coisas na sua zona) o The Bends, com Fake Plastic Trees, a música do Carlinhos. Aquela capa esquisita do jeito que só o Radiohead consegue ser. Antes mesmo de existir Ok Computer (o álbum que me fisgou de vez). Só que eu não dava a mínima para esse disco e essa banda. Mas eu me lembro que sempre pegava a capa e ficava olhando, olhando... Anos mais tarde fui fazer gastronomia com dois irmão que acabaram virando meus grandes amigos, os Bocchese, e é bem legal quando há gente por perto que ouve coisas que você nunca ouviu: há muito o que aprender. Lucas (um dos irmãos) nos guiava em seu Prisma preto até a cidade de Itu, todos os dias, sempre atrasados. Ele tinha um subwoofer (eu odeio isso, mas a gente estudava a tarde e o grave estúpido que batia no banco traseiro do automóvel ajudava a nos manter acordados depois do almoço) com um som da Sony. Raramente eu levava coisas que eu gostava. Na maioria das vezes eram eles quem levavam tudo. Entre inúmeras coisas que eles ouviam e eu ficava babando, pois os caras têm bom gosto (Rage Agains The Machine, Queens of The Stone Age, Pink Floyd, etc) certo dia eles colocaram o último lançamento do tal Radiohead, que era o In Rainbows. Foi na primeira e eu já virei fã. Simplesmente não acreditava na junção do eletrônico com o Rock And Roll contida em 15 Steps, e a cada música que avançava eu ficava ainda mais surpreso. In Raninbows foi, literalmente, o pote de ouro no fim do arco-íris para mim. A gente ouviu o disco um zilhão de vezes. Depois Lucas me arrumou uma cópia barata do Ok Computer e foi aí que tudo fez o maior sentido. Onde é que eu estava e como foi que vivi sem isso todo esse tempo? Que banda surpreendente! Depois, é claro, cacei tudo dos caras e a coisa só foi melhorando, tirando Pablo Honey, que eu não gostei. E, naquele mesmo ano em que tudo isso aconteceu, o Radiohead resolve vir tocar no Brasil. Nunca vi um show daquele. As luzes, ah meu Deus, as luzes! Os bastões que se iluminavam inteligentemente, acompanhavam cada vibração sonora, as cores vivas e quentes em momentos tensos, as cores frias e leves em momentos delicados e doces, aquele telão na maior resolução de todos os tempos focando a banda e cada pingo de suor, o olhar esquisito e emblemático de cantor nos encarando através da câmera, nos desafiando, com sua voz de anjo. O som daquelas guitarras, algumas vezes robóticas, outras vezes clássicas, mesclando com os racks e periféricos que trouxeram pro palco - o tipo de coisa que nem o Reason eu consigo imaginar como se faz - e cinquenta mil pessoas cantando Creep. Foi o suficiente para saber que o Radiohead acabava de entrar no top 10 da minha vida.





LOS HERMANOS

Tudo que é genial, gera birras. Aqui, no meu caso, os fãs que surgiram das faculdades e o povo mala que teimam em dizer que Camelo e Amarante são as maiores compositores que surgiram nos últimos 15 anos e - o pior - tudo que fizeram depois é parecido ou lembra os Hermanos por se tratar simplesmente de Rock And Roll com notas dissonantes (algo que os Beatles sempre fizeram). Diga-se, de uma vez por todas, que Camelo e Amarante são os melhores compositores conhecidos dos últimos 15 anos. Pois há muito e muitos outros caras por aí, conhecidos ou não. De qualquer modo, os Hermanos inauguraram uma safra de desprendimento econômico da música popular (mesmo que, para tal coisa, eles tiveram que lançar um sucesso estrondoso meramente comercial, temos aí uma perfeita contradição). Hoje gozam do status de celebridades do sub mundo, no mais perfeito estilo "foda-se o que você acha de mim". Camelo lançou dois discos e Amarante acaba de lançar o seu, reforçando cada vez mais que a genialidade dos dois aflora quando estão juntos. O Los Hermanos é do grande caralho. Sou da época em que eles eram uns bostas. Eles vieram numa festa junina aqui do Círculo Militar fazer um show do seu primeiro disco e com um único sucesso - Anna Júlia. Eu não fui, mas alguns chegados foram e voltaram dizendo que LH era uma bosta. Acho que veio daí a teimosia de alguns que realmente não conhecem a banda dizerem que eles são uns bostas (volto a dizer: tudo que é genial gera birras). Daí teve um colega da escola, o Rafael Ploch, que me emprestou o CD deles, dizendo que era bem legal. Ouvi e achei, sim, bem legal. Mas não saiu disso. Nessa época não existia O Bar do Zé, na Unicamp ninguém falava do LH, não havia Orkut e muito menos Facebook. Não existia banda cover dos caras e ninguém, absolutamente ninguém, pedia Los Hermanos numa rodinha de violão. Tenha Dó, Quem Sabe, Pierrot, essas coisas ae... Eu e mais uns 200 caras apenas ouvia isso e achava legal, ok. Foi quando, justamente nesse mar de "ah, beleza, a banda é bacana" que eles apareceram com Todo Carnaval Tem Seu Fim na Mtv, pegando carona no sucesso de Anna Júlia (caso contrário nunca conseguiriam entrar no canal com uma música dessas). Fiquei atordoado no que diz respeito à dúvida. Como é que uma banda que fazia aquele hard core de letras frouxas e melosas (mas até que bacanas) passou a dizer algo do tipo "toda rosa é rosa porque assim ela é chamada, toda bossa é nova e você não liga se é usada"? Corri no camelô para comprar o tal do Bloco do eu Sozinho. É claro que tinha no camelô, pois eles eram bem comercias, lembra? Além do mais, eu não quis arriscar minha grana e comprar um disco que eu não saberia se iria gostar. Napster e essas coisas eram complicadas na época. Corri pra casa e coloquei o tal disco pra ouvir. Quando chegou em A Flor, o mundo virou. Sentado no tapete de casa, sem meus pais por perto, eu entrava em mundos maravilhosos com a audição desse disco sem palavras, sem medidas. Retrato pra Ia Ia só firmou a pilastra da condição de fã. E assim foi. Logo eles soltaram o Ventura, o 4, e eles viraram o que hoje dizem ser a maior banda do país. Concordo, em partes, mas concordo. Eles são incríveis e um show do Los Hermanos, se você, como eu, conhece todas as canções deles, é garantia de felicidade infinita em coisa de duas horas.





OITO MÃOS

Eu poderia estar roubando, matando ou fugindo da minha própria vida, do meu próprio ego. Eu poderia escrever infinitamente sobre essa banda aqui. Mas vamos por partes, pois esta é a minha banda. Num primeiro momento, vamos falar como fã. Sou fã das músicas, antes mesmo de ser minha banda. Vejo Cores nas Coisas e Aliás carregam uma sagaz busca pela história completa da humanidade - o que gostamos de chamar de maior que a vida. Não consigo falar da Oito Mãos sem me incluir na coisa toda. Eu poderia estar me escondendo, metendo o pau em tudo quanto é trabalho sem dar a própria cara pra bater (como fazem muitos, muito, muitos, por aí!). Eu poderia me fechar na minha casa e guardar as minhas canções no meu HD. Eu poderia desistir por conta de tanta briga, tanto rancor e ódio que isso tudo causa. Poderíamos, talvez, nunca ter nascido e ter ido adiante. A vida é perfeita e nunca vou duvidar disso. Acho que somos isso ae porque nos levamos muito a sério, talvez por isso tomamos uns capotes - como um lindo show para ciclistas que fizemos e ninguém deu o menor ouvido à nossa linda canção. A gente sobe no palco e algo negativo acontece, quase sempre. Não sei explicar o quê. Seria a ansiedade? Seria o lema contrário dos 3 mosqueteiros? Cada um por si e o resto que se foda? Confesso que isso ocorre muitas vezes, inúmeras vezes, nos shows. Mas tem momentos - raros, diga-se de passagem - que a banda consegue juntar cada mão em uma coisa só. Daí quem está vendo simplesmente cai de queixo. Poucos entendem, poucos comentam. O povo quer novidade, quer gringo cantando na esquina. O povo quer ver o cover do Los Hermanos cada vez mais. O povo está quase burro. Não que nós sejamos a salvação do rock. Somos nada! Mas nós somos de verdade, nós somos reais. Quando você nos ouve no CD, você pode seguir a mente de cada um de nós, como se nós nos abríssemos num mapa de cada alma envolvida no processo todo. Dá um trabalho do cão criar um disco da Oito Mãos. Daí quando vê a banda na tua frente - é claro, se você estiver ligado e entender - você nunca mais vai esquecer e com certeza entraremos na sua lista de top 10 das bandas da sua vida. Você, fã de internet, faça um esforço e vá nos ver ao vivo. Somos incríveis.






PINK FLOYD

Talvez o som do Floyd se pareça cada vez mais com um sonho. Uma fumaça densa que não vai embora. O lado escuro das coisas, aquilo que a gente sabe que está lá mas não vê. Seria uma ilusão? Pink Floyd, até que se argumente no nível técnico da criação (coisa de artista louco) é puramente simples. Quase todas as canções estão em 4/4, carregadas de um bbm lento. A ponta da montanha na carreira do Floyd é , sem a menor sombra de dúvidas, a santíssima trindade - Dark Side of The Moon, Wish You Where Here e Animals - e o que vem antes e depois são os anjos e toda a humanidade. Embora o conceito impregnado em The Wall seja de avacalhar qualquer tentativa do mesmo nos dias de hoje, pelos artistas de hoje - a começar por mim no meu subestimado SOL. Mais uma vez os Ingleses e a sua capacidade ímpar de encarar as coisas - uma seriedade quase cômica, ou uma comédia quase séria. A música do Floyd não é apenas música, é história lapidada, você pode tocar as densas camadas produzidas pela grandiosa pretensão humana. O vinil era pequeno - ou as canções eram enormes - e suas capas absolutamente sem sentido, me disseram  que a música não deveria ter sentido algum. Ou sei lá, talvez exatamente o contrário. A loucura breve no primeiro disco, vinda de Syd Barrett, o fundador, o cara que não participou da verdadeira farra, apenas viu de longe e eu duvido que deu a mínima - era louco, oras bolas! O tapa buraco David Gilmour - foi dada a ele a função de fazer as guitarras de Syd - rapidamente se mostrou um componente único, uma chave em todo o motor da banda, enquanto a liga de tudo isso chamada Roger Waters resolvia a matemática da música certeira, errando e acertando, assinando a criação das canções. Nos vemos no meio de uma paisagem - a calmaria sombria da música do Floyd. O sorriso tímido de Richard Wright, sempre absurdamente perfeito, na sua característica do acorde certo na hora certa, aquele integrante que pouca gente percebe que está no palco. Toda a desenvoltura da nota certa e do desenho perfeito de Nick Mason.  Uma explosão, eram especialistas! Seus discos começavam no total silêncio e terminavam na explosão cósmica do orgasmo auditivo. Quer dizer, ainda começam e terminam desse jeito, está tudo documentado, na net, nos sebos, nos shows e nas histórias.





GUNS AND ROSES

Foi a primeira banda que me despertou para a condição de fã. Em 1990 eu tinha oito anos. Embora o primeiro disco do Guns seja de 1987 - me lembro parcialmente de Sweet Child O'Mine tocar sem parar nas rádios de todos os lugares em que eu estava presente - foi apenas quando me mudei para o prédio em Niterói que fomos introduzidos ao maravilhoso universo da tietagem. Era o que todo mundo ouvia, toda a molecada do prédio, em especial um querido amigo dessa infância, Paulo Vidal Bussad, que nos levava a seu apartamento e ficávamos ouvindo Appetite For Destruction infinitamente, imitando cada movimento de Axl Rose - eu acabei ficando com o teatro de imitar Slash. Eu lembro que foi uma época muito gostosa. Graças a Deus, eu apenas me lembro das épocas boas da minha vida. As ruins eu tendo a esquecer. De qualquer modo, nós vivíamos o sonho da maior banda do planeta. Alguns falavam do Skid Row, outros do Aerosmith, e outros do Nirvana e do Iron Maiden. Mas eu só queria saber do Guns. Colocava a vitrola no talo e ficava imitando incansavelmente os integrantes dessa banda. A parede do meu quarto era forrada com pôsters da banda. O símbolo das armas envolvidas em rosas eram meu talismã. Eles eram a banda do momento e eu seguia cada passo dos caras - não havia internet. Certa vez alguém jogou fora um monte de revista Bizz com o Guns na capa. Eu já sabia ler e caçava todas as informações (a maioria inútil, como por exemplo a cerveja preferida de Axl). Quando vieram ao Rock In Rio, acho que um simples olhar de meu pai foi o suficiente para me dizer que eu não ia. Não chorei nem fiz birra. Acho que entendi que eu era novo demais pra essas coisas. Poxa, ele poderia ter me levado... Tudo bem. Daí certo dia houve nova correria: O Exterminador do Futuro 2 apareceu no cinema com a trilha de uma música nova do Guns, onde o clipe acabou estreando no Fantástico. Naquele tempo a gente colocava a fita pronta pra gravar no VHS. "Paaaaaai, não vai perder hein! Grava, por favor!". Nunca vou me esquecer dessa cena. Ele vendo outro canal qualquer e eu cuidando da programação do Fantástico da TV do meu quarto. Na hora que anunciaram, eu berrei "vai pai, vai começar!!!". Acho que estragamos aquela fita de tanto que a vimos depois. Ou não, as coisas eram feitas para durar pra sempre. Acho que a perdi. Perceba como o You Tube, ao mesmo tempo que é genial, fez perder a magia de algumas coisas. Em seguida eles lançaram o impressionante Use Your Ullusion, dois discos duplos. Fizeram uma turnê mundial e nada mais importava no mundo, apenas o Guns. Num dos meus aniversários meu pai me deu o Use Your Illusion 2 e o Appetite (a gente gravava tudo dos outros, dava um jeito de piratear, mas pra ganhar um disco mesmo, tinha que ser merecido). Depois dei um jeito de pegar emprestado Use 1 e não sabia dizer qual deles era meu preferido. Os anos se passaram e muita coisa mudou. Fui bombardado de novas emoções, novos refrões, novos timbres de guitarra. Mas até hoje, quando coloco um disco do Guns para ouvir, a sensação é a mesma: que banda incrível!!! Vibro, canto e faço air guitar e air drums para cada virgula de qualquer um dos discos deles (menos o do espaguete, leia um outro texto aqui sobre artistas incríveis e seus piores discos). Assim foi até chegar 1996, quando a Mtv anunciava a resposta britânica para o hard rock americano. Surgia em meus olhos Dont Look Back in Anger, do Oasis.





OASIS

Se o Guns foi a banda da minha infância, o Oasis foi a banda da minha adolescência. E é muito bom aquela sensação de todos odiarem aquilo que você ama, parece que sobra mais pra você, ou dá aquele sentimento "é, todo mundo é burro". É claro que as pessoas não são burras e é bem mais certo de que o burro seja eu. Meu irmão, por exemplo, não suporta ouvir a voz de Liam Gallagher. Era foda-se no talo, no volume 11.  What's The Story Morning Glory foi o primeiro CD (a nova geração de mídia) que tive. Cheguei em casa e coloquei diretamente na música 4. A vida fazia sentido. Eu nem lembrava mais do Guns nesse momento. Esse CD foi comigo pra baixo e pra cima, para todos os lados. Pipocava clipe dos caras - Wonderwall, Don't Look Back, Morning Glory, Champagne Supernova... Consegui - não me lembro como -  VHS do show que eles nunca mais fizeram igual, o There and Them, e conheci canções como Live Forever, Supersonic, Acquiesce, Round Are Away, The Masterplan... Eu sei que eles são uns bostas de músicos... Mas quem não é? Malabarismo, no rock and roll, é muito babaca. Por falar em babaca, a arrogância teatral dos irmãos Gallagher é de foder a parada toda, animal... Sempre animal! E foram eles que fizeram a coisa da música maior que a vida, quando nos doaram ao mundo o impecável Be Here Know, explodindo de vez, ofuscando bandas antigas, seu brilho seco das guitarras Epiphones distorcidas no Marshall, no talo, e os melhores refrões do mundo. Uma banda nascida nos anos 90 lotando estádios na Inglaterra e meu sonho era estar ali no meio. Oasis se define pelos 3 primeiros discos, embora os últimos discos sejam incríveis - diferentes do que os mad fer it chamam de Oasis tradicional, com Bonehead na guitarra, Paul McGuigan no baixo e Alan White na bateria. Mas eu nunca fui de querer parecer um britânico mal encarado ou coisa do tipo. Gosto da música do Oasis, e só. Acho ridículo esses fãs que se acham os próprios caras, que metem o pau e odeiam qualquer outro artista ou trabalho, os famosos haters, e que só sabem tocar Wonderwall no violão. Rs... Isso não foi um recado pra ninguém, mas é a realidade de muitos haters, chatos pra caralho. Converso de igual pra igual com eles, mas não faço parte disso. Falando em haters, muita gente odeia o Oasis. Confesso que entendo o ponto de vista desse povo. É um conceito estabelecido na ponta do iceberg. Do rock clássico dos 3 primeiros discos ao psicodelismo de Dig Out Your Soul, Oasis é uma banda que pra sempre estará nas minhas prateleiras.






THE BEATLES

A coisa é simples: eu sou apaixonado pelos Beatles. É um caso de amor que eu não sei como nasceu e ficou em mim. A maior banda do mundo é tão avassaladora que qualquer discussão sobre essa coisa de maior ou menor morre com a simples menção dos Fab. Contra eles não há argumentos. Você pode até falar do Dylan ou Elvis, mas eles eram solos. The Beatles revolucionou o modo de enxergar e fazer música pop. Eles deixaram os velhos da época enfurecidos com a novidade do yeah yeah yeah. Aqui no Brasil o povo que fazia bossa nova se emputeceu com a avalanche dos queridinhos de Liverpool. Mas, o que fazer? O mundo era um lugar quase virgem para esse tipo de música, a música em si como a conhecemos hoje. Não há como meter o dedo na história e achar falhas - a vida é perfeita. Depois dos Beatles tivemos conhecimento de tudo o que é absoluto no rock and roll. Há inúmeros textos meus sobre os Beatles, há um número infinito de coisas sobre eles espalhado no mundo, a única banda propagada aos quatro cantos do universo. Sei, evidentemente, que há outros tipos de música no mundo. Mas se falando de pop, eles são absolutos. John, George, Ringo e Paul. Liverpool foi um lugar abençoado, um berço reservado para quatro caras se encontrarem. A rota da vida absoluta, o momento exato, as primeiras canções. São inúmeros sucessos que remetem a tempos maravilhosos, não apenas os anos 60, mas os tempos de hoje e de tudo o que a música representa, como da primeira vez que ouvi Shes Leaving Home - chorei sem entender a razão. Ou quando ouvi All You Need is Love - senti o amor que a música proporciona. Ou quando ouvi Hello Godbye - minha alma foi elevada. E, meu Deus, quando ouvi She Loves You- a melhor música do mundo. Não se trata de um clichê, se trata da origem. E tudo isso apenas se confirmou com os shows do Paul aqui no Brasil, um beatle vivo e cheio de energia, apenas UM, derrubando os lugares por onde passou, para aquele povo realmente ligado e que saca das coisas, gente de 12 anos a 60, do colado na grade ao último lá no fundo na arquibancada onde a sua situação financeira pôde comprar, todos cantando e chorando. Me pergunto: o que é essa coisa da Música? Teimo em pensar que é um presente de Deus. Uma benção, a verdadeira benção. A comunicação que quebra barreiras e limites, une gente em comum e põe tantos outros para pensar, debater e muitas vezes brigar. Porque será que a gente defende com unhas e dentes a banda da nossa vida? Nossa vida é moldada pelos refrões, pelos acodes, pela métrica, pela mensagem. Nós temos a capacidade de amar aquilo que esses meros seres humanos conseguem criar. Vejo, na criação da música, o toque mágico que todos nós tanto procuramos no dia a dia e nos deixamos cegar pelo consumo. Nós criamos a ponto de achar, por muitas vezes, que da criação virá a nossa chance do consumo. Será mesmo que precisamos de muito mais do que a Terra e o ser humano pode nos dar? A arte é um brinde, uma eterna felicidade. E, fazer o que, esses artistas geniais ficam ricos, eu sei! É uma contradição e o mundo está cheio de contradições, inclusive os artistas que tanto amamos. Perceba o quanto eu usei a palavra amor. É disso que se trata. É disso que sempre se tratará. Com grana ou não. Os verdadeiros artistas fazem, criam, produzem, por amor. E é disso que nós precisamos.


Que seu ano de 2014 seja muito legal. Sim, legal, porque maravilhoso nós nunca saberemos. A vida é recheada de prós e contras e ultimamente ouço muito falar de equilíbrio. Que teus erros te façam crescer. Que teus acertos te façam uma pessoa centrada. Nunca deixe achar que o jogo já está ganho. No Natal e no Ano-Novo - ouça muita música! E nunca deixe de visitar as bandas e artistas que fizeram e fazem a sua vida. Pois é disso que se trata, A VIDA, e não apenas de um aninho qualquer que passou.

Paz.