sábado, 25 de fevereiro de 2012

Os Melhores filmes do mundo


Mais uma vez, essa é apenas uma forma de expressão baseado em meu próprio gosto, não significa a verdade absoluta. 



Como pode ver, se você andou lendo meus textos ultimamente, mudei a fonte. É como cortar o cabelo, muda um pouco mas continua a mesma coisa. Ontem pela noite, no banho, fiquei pensando em quais seriam os melhores filmes que vi na vida. Vieram tantos na cabeça. Tantos que tive que tica-los num bloquinho que ando escrevendo as letras e anotações do próximo disco do Oito Mãos. Enfim... Lá vamos nós para mais uma viagem sem noção, coisa que ninguém perguntou, sabe? 

Antes de mais nada, na minha lista tinha alguns filmes dos posts "Os Melhores Filmes de Porrada" e "Os Melhores filmes de Terror", então não vou falar sobre eles, já que já foi elaborado uma ceda rasgada em prol dessas películas. São eles: O Exorscista; Rock Balboa; O Grande Dragão Branco; Karatê Kid; Falcão - O campeão dos campeões. 


Ok, então...

Os Goonies - Não lembro o nome dos personagens, infelizmente. Mas não acho necessário dar um Google para isso, porque não vai fazer diferença. Era o gordinho (sempre tem um), o maluco (sempre tem), o forte irmão do esperto (sempre tem isso também e o esperto também tem), o japonês (que é fera em alguma coisa que ninguém mais é)e as mina (sim, no plural com singular, do jeito que os mano fala tá ligado?) - a gata e a estranha. Uma história qualquer daria certo, desde que haja a evolução carismática dos personagens, coisa que naquela época neguinho fazia mesmo. Um marco na minha geração (sou de 82). Um filme que dá vontade de chamar a galera e dar aquela volta no bairro caçando problemas por tudo quanto é lugar. 


Conta Comigo - A amizade é intrigante. Não se entende, não se sabe o que sente. Os mais românticos falam no amor... Sei lá. Atá acredito nisso, mas quando a criança é durona, é capaz de certas coisas duvidosas, coisas que só acontecem nos filmes... Ou não. Os quatro amigos, assim com nos Goonies, partem para uma aventura contada num clima nostálgico pelo protagonista. Um elenco de primeira. Frases de primeira. Trilha sonora de primeira. O cigarro longe dos pais, as regras estabelecias por eles próprios, os contos (o do gordão vomitando na galera é inesquecível) morte, vida e quem é melhor: Superman ou Supermouse?


O Poderoso Chefão - Pô... até hoje meu pai dá o dedo mindinho para mostrar a soberania na minha família. É claro que ele faz de sacanagem, mas a sacada é o significado da palavra respeito, este que, na trilogia de Mario Puzzo dirigida por Copolla e estrelada por Pacino, De Niro e Brando, é algo conquistado na base do mais frio e calculista meio possível. Matar, seguir um padrão de regras, debochar do "poder", é coisa de gente fria. Aquele olhar sereno de Michael, aquela soberania de Vito, o ódio esplêndido de Sony, o raciocínio de Tom... Uma família aparentemente no controle. Um crime aparentemente organizado. Um poder que pula de gangorra, no qual o Estado parece nem existir. Junta isso tudo com uma história pra lá de prendedora, tem-se um dos maiores filmes de todos os tempos. Hollywood não precisa ser burra para vender. O Poderoso Chefão é uma prova disso. 


Gladiador - Sabe... É a coisa do poder sendo enfrentado pelo mais fraco. A coisa da humilhação. A coisa da monarquia sendo massacrada pela ideia da república. A inveja, soberana sobre todas as virtudes. Sim, inveja é uma virtude! Ela te faz repugnar todas as coisas belas, todas as coisas que incomodam. A vaidade é outra virtude! O pecado é uma virtude! Ou você acha que um homem cresce na vida apenas sendo bonzinho? No caso de Gladiador, nem o bandido e nem o mocinho são bons. É uma questão de justiça, essa que é cega e infeliz. 


Matrix - "Suas escolhas já estão feitas, basta você entendê-las..." Com essa frase do Oráculo, meu modo de enxergar o Livre Arbítrio criou um amplo sentido. Se Deus sabe todas as coisas, então não há livre arbítrio. Se há livre arbítrio, então Deus não mexe pauzinhos nenhum, ele fica lá em cima, apenas existindo. Sendo que todas as escolhas já estão feitas, num modo irreversível e insubstituível, mesmo que na vida nós tenhamos a ilusão dos caminhos a seguir, nossos passos estando já traçados (pois não somos nada na humanidade) e compreendê-los, senti-los e aceitando-os, tudo faz a porra do sentido. Duvida? Pense em sua vida há 15 anos... Os passos que você deu e os caminhos que percorreu... Teria como, em alguma hipótese, ser diferente? Cheears, Matrix!


O Exterminador do Futuro - O conceito de inteligência - segundo vi no Discovery Channel - é o "penso, logo existo". Creio, de um modo ou de outro, que as máquinas têm condições de criarem inteligência. O problema é a falta de emoção, essa que interfere os seres humanos a agirem, num misto confuso de razão e emoção. Uma máquina teria condições disso? O que pode acontecer se elas se revolucionarem ao botão on, off? No filme, o roteirista traça a história dos responsáveis e envolvidos nessa revolução. 


De Volta para o Futuro - O futuro, o passado e o presente. O homem nunca entendeu isso direito. Esse filme, em particular, fala do assunto com uma propriedade surreal, te dando a notória certeza de que viajar no tempo seria daquele jeito. Tudo é altamente apaixonante nessa história. Hoje em dia o filme é ainda mais loco, porque os anos 80 já não existem mais, fazendo parte de uma passado distante. E o ano 2000 também é uma grande ilusão, uma coisa que o homem ainda espera que vá acontecer. A máquina do tempo é algo útil, mas de um perigo sem prescindentes. Interferir nos caminhos já escolhidos... Seria como brincar de Deus, negligenciar o livre arbítrio, ignorar as regras da vida pura e absoluta. Seria, como é no filme, uma grande aventura!


Batman, o Cavaleiro das Trevas - Não só pelo Coringa, mas pela obscuridade que o enredo proporciona. Ele não começa "tá tudo bem", "fudeu", "ah, agora tá beleza", como é a franquia de Missão Impossível... Esse filme é todo: fudeu!!! Uma fotografia escura, mas não forçada. Uma trilha que parece que só eu percebi que existe, pois toda vez que to vendo o filme com alguém, eu pergunto "tá ouvindo isso? tenso", e ninguém saca. Perceba que toda vez que fica tenso, há um barulho estranho que o diretor coloca ali para dar um clima melancólico e insuportável, principalmente quando o Batman interroga o Coringa. Eu chamo de trilha, porque dá a impressão de que foi usado algum instrumento, sei lá... O crime perfeito, a insanidade do poder, a procura da justiça feita as próprias mãos. O melhor herói, o herói humano. 


A Procura da Felicidade - A vida é uma merda para muita gente, porque simplesmente parece não ter felicidade. Felicidade é um estado de espírito, baseado em suas conquistas e derrotas. A gente releva algumas coisas, engrandece outras. Mas e quando tudo dá errado? Há luz no fim do túnel? Deus é tão cruel assim? Há algo para aprendermos? A luta só pode ser vencida por quem está passando pela batalha. Ninguém vai mexer uma palha por você, e se se fizer, estará devendo. A gentileza deveria ser regra na constituição, pois ela gera boas novas. Um corre aqui, outro ali. Chorar é preciso para não explodir. Viver é preciso para não sucumbir. Quando a coisa tá apertada, é melhor ser forte e saber que a felicidade está sempre a teu favor, basta você enxergar longe. 


Amor Além da Vida - Foda-se a crença religiosa. O que vale nesse filme é a frase do protagonista: "Por ela, eu vou até o inferno". E ele foi, de fato. Depois deixa claro que nunca vai desistir da sua amada. O amor, piegas na maioria das vezes, cafona em todas as vezes, é visto como brega ou coisa que o valha. Nos tempos de hoje, crer que existe a pessoa que nasceu para você é coisa de filme mesmo. Mas, mesmo nos filmes, o amor é irresistível. Eu sou uma pessoa completamente aberta ao amor em todas as suas formas e valores. Lutar pelo o que se acredita - muito além de valer a pena - é coisa de pessoas fortes. Desistir é para os fracos. 


Uma Lição de Amor - Lindo de cabo a rabo. Para ajudar, a trilha sonora é dos Beatles (releituras) e o protagonista, um cara que tem autismo, é fanático pelos Beatles. Aqui não só se trara de lutar pelo amor, mas sim de que tudo o que precisamos é de amor, uma das frases mais felizes de John Lennon. Mais uma vez a gentileza está em risco, mostrando o seu valor. A vida é um emaranhado de coisas, entrelaçadas por pessoas que entram em nossas linhas do tempo, onde cada um é absurdamente único e tem a sua jornada protegida por sete chaves pelo o poder da mente - essa que ninguém consegue ler. O que isso tem a ver? Tem tudo a ver, pois esse filme é mais uma história de superação emocional, onde devemos nos preocupar com o andar da carruagem que cada um persegue, todos os dias. Ah, lembre-se: sempre que passar ao lado de uma pessoa, dê bom dia, boa tarde ou boa noite. 


Curtindo a Vida Adoidado - Eu prefiro chamar esse filme carinhosamente de "Save Ferris". Um tremendo cara de pau, mas irresistível. Pois o lema dele faz sentido, ô se faz. Foda-se essa merda! Nem que seja apenas por um dia. O filme é friamente calculado no time da comédia - se é que isso é algo para ser levado a sério. Não há drogas, não há álcool, não há cigarros, não há putaria; apenas a boa disposição dos personagens em serem completamente non sense. O diretor da escola é o Skinner (dos Simpsons), só pode ser! Só se fode, e a cada fodida que ele se mete, é de doer o queixo de tão engraçado. Ferris e seu amigo que tem um pai que tem um Porshe (ou seria Ferrari?) são unha e carne, a ponto de se conhecerem perfeitamente e saberem os limites um do outro. Mais um filme bacana que fala de amizade e curtição sem forçar a barra. Ah, e tem Beatles!




Um Lugar Chamado Nothing Hill - Desculpem o comentário, e podem me chamar de homofóbico, não tenho que me explicar para ninguém.... Mas esse filme me faz parecer um viadinho. Toda vez que está passando eu paro para assistir. Minha mulher já sabe, tá na grade da programação, esqueça... Vou assistir! Esse filme é ridículo, mas eu ao adoro de uma tal forma... Não sei dizer ao certo a razão. Talvez o humor sarcástico do britânico, talvez aquele Spike ser tão desdenhosamente irresistível, talvez por ser o papel mais simpático de Julia Roberts, talvez por ter aquela coisa da amizade mais uma vez - podem perceber que sou profundamente tocado pela boa socialização. O clima do bairro londrino Nothing Hill ou a casa com a porta verde bem ao estilo inglês... Uma livraria, uma cafeteira, jantar regado a vinho e piano... Não tem a porra do sonho americano? Então, enfia no cu... Gosto mesmo é desse sonho inglês. 


Mudança de Hábito - O que os produtores musicais fizeram com as músicas tradicionais cristãs foi algo de tirar o chapéu e bater palma por 10 minutos sem parar. Deve ter algum significado especial a coisa da transformação. E, de uma vez por todas, não há barreiras entre o secular e o evangélico, toda música é divina, queria você ou não. Uma pecadora chegar chutando o pau da barraca numa igreja e transformar o que era um tédio num grande louvor feliz e gratificante, isso é coisa para poucos. E, acreditem, isso acontece! O louvor é coisa séria e o testemunho não é o que você faz fora da igreja, mas sim o que você faz estando dentro da igreja. Na continuação, Lauryn Hill e cia arrebentam no caminho entre humildade e agressividade. Não é um musical - mesmo porque eu odeio musicais - mas sim um filme que mexe com quem já esteve desbravando seu instrumento em nome do criador. 


Jurassic Park - Os dinossauros são reais! A carne do T-Rex é texturizada. Não há computação gráfica sobressaindo e ofuscando a imaginação do diretor, que é passada diretamente ao expectador. Quando esse filme saiu, eu fiquei perplexo. Eu era uma criança e fiz minha mãe me levar no cinema. Fizemos contagem regressiva para a estréia do filme. Na capa da revista Veja, Spielberg entre as patas de sua criação. Todo um alvoroço que não foi em vão. O resultado é absolutamente real, pavoroso e divertido. Ninguém mais conseguiu fazer isso e o que mais me espanta é que foi utilizada uma tecnologia ultrapassada. Você pode alugar o filme em HD e vê-lo numa tela mais foda de todas e duvido que vai achar um erro de digitalização ou coisa parecida - algo que aparece até mesmo na visual de O Senhor dos Anéis (não estou comparando, mas já comparando...). Peter Jackson é fantástico, mas foda mesmo são os robozinhos de dinossauros criado por esse que já veio fazendo história em E.T.


Irreversível - Tenho um grande amigo que morou por uns anos na França. Ele viu esse filme lá. Então um dia ele veio para minha casa. Estávamos a toa, zapeando a net, quando vimos a chamada do filme "a seguir, Irreversível". Ele exclamou, bem carioqueix : "Mermão, esse filme é sinixtro!" A começar pelas cenas iniciais que dá enjoo por causa das tomadas da câmera, o filme já te deixa tonto. E o decorrer da vida dos envolvidos, de frente pra trás, deixa claro que as coisas acontecem por que têm que acontecer e não há nada que você possa fazer para impedi-las. Um filme altamente repugnante, chocante e impressionante. Uma viagem a podridão humana e ao que o homem é capaz de fazer pela total falta de bom senso. Um bom exemplo sobre as consequências da falta do amor na vida de certas pessoas. E, também, sobre o que somos capazes de fazer quando mexem com nossos queridos de um modo injusto. Mais uma vez, a justiça é completamente cega. 


Meia Noite em Paris - Já dizia Sandra de Sá: "Que tempo bom que não volta nunca mais". E Cazuza "Eu vejo um museu de grandes novidades". A nostalgia é a nossa maior ameaça. Ficamos cegos com as grandes novidades do mundo moderno. O novo já nasce velho. Qualquer filme de Woody Allen é garantia de diversão. Mas eu não sabia que ele também era capaz de sedução. Sedução no sentido de ver a história e ver uma profunda semelhança com sua vida. Ou seja, eu não estou sozinho nessa. Não se faz mais nada como antigamente. Sinto saudade de um tempo que nem vivi. Tudo no passado me parece mais saboroso, sincero. É por isso que quando você vê algo do passado na sua frente, mesmo que ele esteja velho e cansado, a energia da glória está presente, e não há outro resultado senão as lágrimas. E, como uma avalanche retrocedida, sempre vão falar em nostalgia, pois uma coisa influencia a outra, e por aí vai. Nunca estaremos satisfeitos. Os grandes alicerces e tijolos que moldaram a história da arte sempre serão os grandes, os perfeitos, os mestres. Não é uma questão obvia de pioneirismo, mas sim de culto ao seu molde, até o fim dos tempos, amém. 






Há tantos outros filmes...


















quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Os Piores Filmes do Mundo.



               Isso é um post baseado no meu gosto. Se você não viu nenhum dos filmes apontados aqui, não se preocupe - você não está perdendo nada. 


Piranhas - Americano continua achando que a fórmula do sucesso é peito, bunda, festa e sangue. Mesmo porque o sucesso, para esses caras, deve ser a conta bancária engordando a cada lançamento. Eu adoraria ver uma reunião de negócios no que diz respeito em pauta o lançamento de filmes ruins, que subestimam a inteligência do público. É que nem música... Sempre haverá público para esse tipo de película. No meu caso, a curiosidade me levou a parar no Telecine (é aí que eu gasto meu dinheiro) para ver esse incrível enredo de piranhas mutantes num lago tal de uma cidade tal no tal país de estados unidos. Eu não sabia que haviam piranhas naquele país. A coisa é de tão mal gosto que nem as tripas para fora ou a mocinha gostosa decapitada ou o fortinho partido ao meio deixando exposto sua coluna vertebral me deixou chocado. Nada é de chocar. Bem, na realidade o chocante é o nível dos atores, o nível dos romances repentinos, o excesso de nudez e erotismo. As piranhas mutantes são verdadeiros monstros Pré-Históricos inteligentes e tudo mais, famintas por sangue e carne. Junta isso com uma completa falta de noção do ridículo e temos o resultado. Sofrível.  

FIM DOS TEMPOS - É outra piada infame de muito mal gosto. Nada é explicado (se há uma explicação, a hipótese das árvores terem um certo complô entre os humanos só é considerável nos filmes de Peter Jackson e etc). Uma toxina que deixa a galera doidona? Um casal com o relacionamento à deriva? Uma menina que precisa de proteção extra? O problema de filmes desse jeito é que quando há o desastre, tentar romantizar e sintetizar o instinto de sobrevivência do ser humano em padrões de Hollywood, o resultado é sempre um desastre. Aliás, filmes de desastre geralmente são superfulos e com finais "oh God, why?". Eles acham que somos estúpidos. É por isso que temos mania de dizer, com um certo orgulho no peito, que americano é tudo idiota. Não são burros, de modo algum. Fazem os melhores efeitos do mundo. Mas em questão de conteúdo, é quase raro se deparar com um filme passa tempo inteligente. E, para ser inteligente, não precisa ser difícil. 

AVATAR - Toda vez que um filme faz um puta sucesso - ainda mais quando a coisa dele é o visual - eu penso "la vem merda". Ok, visuais são foda. Mas tem o céu aí do teu lado para ficar viajando apenas em visual. Filme tem que ter conteúdo convincente. Clichês existem para serem usados na medida do possível, para ter aquele leve tom de familiarização, aquele deboche de nós mesmos, aquela coisa de tirar um sarrinho com o próprio ser humano. Clichês reais, não uma lista de "o que vende e o que não vende". James Cameron tem capacidade para chamar roteiristas mais competentes, que é o caso de "O Segredo do Abismo ou "O Exterminador do Futuro". Absolutamente tudo que há em Avatar, menos o visual, já foi visto. Esse filme é uma grande perda de tempo, porque não acrescenta nada, não muda nada e você não sai da sala de cinema viajado no filme. Tenho sérios problemas com coisas "já te vi".

Marley e Eu - Esse filme é lindo? Peraí... Tá de sacanagem né? É a mesma coisa que colocar Didi Mocó no meio de um monte de moleque chato pra caralho que só querem saber de quebrar tudo e fazer a maior zona e colocar um finalzinho merreco de arrancar lágrimas (ah, as mulheres se derreteram). O cachorro é um pentelho! Dennis, o pimentinha em quatro patas. Um bicho desse não é bonitinho, é caso de psiquiatria canina. Mas aí o foco vai para o protagonista... Mas quem é o protagonista? O Marley ou o Eu? Aí o cara entra em crise existencial de ego tripp no trampo dele, aí tem a mulher que engravida três (TRÊS) vezes. Aí a criançada toda cresce pra caralho o Marley ainda tá vivo! E vai aquele num fode e não sai de cima até a porra do cachorro ficar velho (não bastava morrer de velho) e tem que ser sacrificado? E tem a continuação? Aff.


Deborah Secco em Bruna Surfistinha -  É esse mesmo o nome do filme, não tem outro. Os seios de Deborah Secco são os dois protagonistas do filme, tudo gira em torno de mostrar o que tondos nós já vimos nas páginas da revista Playbloy. A vida da prostituta (porque chamar de puta é sacanagem... Puta é aquela que se entrega pro seu puto em quatro paredes) mais socialite do Brasil é de acabar com qualquer humor. Que novidade há no uso de drogas? Que novidade há em vidas regadas de baladas, sexo, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro e dinheiro? Rock and Roll? Nem fodendo, o roqueiro dá seus toques para a sociedade, seja nos discos, em entrevistas ou em discursos nos palcos. Um filme que parece mingau de farinha de trigo... Com gosto de porra nenhuma. Pô, e precisa falar da atriz querendo ser sexy? Sexy de um modo forçado... O filme não presta nem pra deixar os marmanjos excitados, a lá Instinto Selvagem, uma coisinha mais ousada. Dá a impressão de que essa Raquel Pacheco é uma moça que veio ao mundo para nos fazer passar por papel de palhaço. 

A SAGA CREPÚSCULO - De duas, uma: Ou você é fã de carteirinha ou você odeia tanto que não consegue olhar para uma foto de Bella ou de Edward e não pensar "vai tomar no cu". Quando eu soube dessa história, uma amiga minha que dividimos gostos sobre histórias me contou sobre essa ae. Vislumbramos no que poderia ser alguma coisa no sentido de Anne Rice. Ela me fez uma resenha oral sobre o livro. Pensamos que era algo interessante, a coisa da mortal loucamente apaixonada por um vampiro, e que tem clãs de lobos numa briga sensata por amor, ódio e ciúmes. Ok. Um tanto macabro, me parece, com um leve toque de romantismo vindo de Lestat e Lowis. Não! Não, não, não e não! O filme é uma merda. Tudo é uma merda. O livro pode até ser bom. Estou falando do filme. Edward é uma gazela, uma fada, uma mentira, um sonho besta americanizado de meninas idiotas - aquela mesmo que a macharada fica babando no colegial, mas ela sonha com o do terceiro ano. Um bando de marmanjo pagando de adolescente. Uns vampiros nada assustadores, nem mesmo quando aparece o dente pontiagudo. Nem mesmo quando voam e saem detonado tudo. Um lobisomem que anda praticamente pelado? Wolverine mandou um abraço. Uma mocinha que não presta nem pra filme de bang-bang. Onde foi parar a inteligência de nossas meninas adolescentes? Onde foi parar filmes como "Titanic" e os seus galãs que interpretam com uma propriedade fora do comum? Imagina só como será daqui 10, 15, 20 anos... As grandes merdas que teremos que aturar em prol de grana e burrice alheia? Não to julgando quem gosta e se diverte com essas merdas, mas também não me dizer que é bom. 

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Qualquer filme do bruxo foi lamentável. Mas o grande final... Eles conseguiram piorar e tenho o palpite de que esse era o objetivo. Eu li todos os livros, conheço a história e não acho a das melhores que já foi escrita. Por exemplo: "As Crônicas de Nárnia" - os livros - me agradam muito mais. Infelizmente a coisa da grana e do vendável é algo levado muito a sério por esses produtores. E eu duvido muito que o padrão de qualidade seja algo levado a sério. Duvido muito que eles não sabiam que estavam fazendo um filme de merda. Eles sabiam... O comércio estraga o raciocínio artístico. Poucos artistas se dão ao luxo de deixar o faturamento de lado e fazer a coisa com a razão, mesmo sendo um do tipo que lucra milhões e milhões. O prestígio que esse personagem alcançou através de seus livros foi por mérito próprio. Não precisava dar aquela pitada comercial. Seria o alvoroço? Harry Potter tornou-se um clichê dele mesmo. Draco Malfoy, em minha cabeça, é um cara muito mais filho da puta que passou nas telas, sendo que o mal impregnado nesse menino passou longe das expectativas. Harry, quado sarcástico, é um perfeito britânico em sua mais pura personificação do humor negro - isso não tem no filme. Hermione não é bonita. Ronny não é um pateta. Voldemort é mais egocêntrico, muito mais! E por aí vai... Um acerto aqui, um erro ali, uma cagada no final. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A trilha sonora de Forrest Gump.





Estou quebrando a cabeça para escrever um post sobre os piores filmes do mundo. Não é fácil. Primeiro, porque os estúdios estão cagando filmes por todos os lados. Segundo, porque eu realmente não me lembro daqueles que me esbarro e fico pensando "mas porque?". Vou fazendo minha lista... Enquanto isso, num belo parênteses, tenho que falar do disco homônimo da trilha sonora desse que é um dos melhores filmes de todos os tempos - é claro que vou fazer a minha lista dos melhores, mas por enquanto ficamos com o incontestável Forrest Gump.

É impossível falar da trilha sem falar do filme. Ou vice-versa. FATO: Tom Hanks só faz filme foda. Isso é incontestável. Mas esse em si é de uma poética fora do comum. O contador de histórias é taxado como maluco, sempre. Não é grande surpresa Forrest ter uma certa deficiência mental. As pessoas o chamam de burro. Seria mesmo uma doença? Seria super proteção da mãe? Seria aquele tipo de gente boazinha demais que sempre há um do tipo no colégio, na faculdade, na igreja, na esquina? O tipo de gente fechado num mundo (cada um tem seu mundo, uns o expõe ao grau máximo, outros ninguém dá a mínima para adentrar) cercado de boas intenções, de uma vida recheada de encontros e desencontros, de altos e baixos, de medos e superações, surpresas e clichês. A vida de cada um daria um conto. Uma parada no ponto de ônibus, o que todos estão fazendo aqui? Para onde vão?

A angústia e a mágoa são coisas que nos sucedem nessa vida linguiça. Trombar com a cara na merda faz parte, só nos faz crescer e amadurecer. O nosso coração foi feito para bombear sangue em todo o corpo, mas ele responde de um modo incompreensível aos sentidos emocionais do cérebro, a ponto de doer. Acredite, meu caro... Eu sei do que se trata uma dor. Forrest nos mostrou isso. Mostrou também a superação. Em todo o decorrer do filme, a mensagem é essa, a superação. O contador de histórias narra suas presepadas, suas indas e vindas, seus amigos do peito, seu grande amor incondicional em Jenny. Ele vê a morte, vê o nascimento, se banha nas lágrimas do desespero, vê a fúria do criador, vê as pazes, a reconciliação. A guerra, os camarões, a pesca. Riqueza que não vale porra nenhuma se não houver o amor. A corrida rumo ao infinito. O cansaço, o sono, a cama. O dia seguinte, o por do Sol. As colinas verdes. O filho, a mãe, o pai e o avô. A lápide, o frio e o calor. A chuva e seu indescritível barulho.

O mais engraçado (já falamos sobre a graça aqui no blog no post do Led Zepelling IV) é que a trilha sonora foi escolhida a dedo, de cabo a rabo, em cada cena. É espantoso o forte apelo emocional que a música nos dá na história de Forrest. O disco - duplo - tem a dupla função de simplesmente ouvir as canções, babando nos artistas americanos (só há americanos, pois Forrest Gump se trata de um conto americano) e de ficar lembrando as cenas da película.

Por exemplo: É impossível ouvir Break on Through To The Other Side, do Doors, e não reviver a cena em que Jenny, locona, ensaia se matar. Fortune Son, do Creedence, lembrando a guerra do Vietnã. Hound Dog, do Rei, e a cena do pequeno Forrest ensaiando uns passos de dança em seu quarto. Mrs. Robinson, de Simon e Garfunkel, a era hippie, Forrest reencontrando Jenny depois de anos - aquele abraço inesquecível dos dois na lagoa... Respect, de Aretha Franklin, e os camarões sendo pescados representando capital no bolso de Forrest. Everybody's Talkin, de Harry Nilsson, e os campos verdejantes do Alabama. Joy To The World, do Three Dog Night, e Forrest hilário no coral gospel pedindo provisões na pescaria.On The Road Again, de Willie Nelson, e fazer parte de DON'T MEET WITH TEXAS. Raindrops keep falling on my head, do BJ Thomas, e sentir toda a atmosfera do filme...

Um disco completamente americano, com aquela coisa de que por mais idiotas que eles possam ser, eles têm bom gosto.

O disco... o filme. Um só. Nível fodástico: TODAS. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sérgio Dias.



Acho que o que pintou naquele encontro com Sérgio Dias foi o fato de eu não saber quem ele era e ele não sabia quem eu era. Éramos uma banda, pra falar a verdade, mas aqui eu digo por mim. Foi o tipo de acontecimento em minha vida tão surreal que até parece que não aconteceu. Não tiramos uma foto sequer (ele não gostava de tirar fotos com as roupas de casa). 

Você, fã dos Mutantes, saiba que ali no apartamento na avenida Angélica, em sampa, onde o Sérgio morava, havia verdadeiras relíquias espalhadas pelo pequeno apartamento. Objetos, fotos e histórias, todas retratadas com a maior paciência pelo Sérgio quando era questionado. 

- O que você acha disso? O que você acha daquilo? Que foto é essa? Quem é esse? Esse disco, o que é? O que quer dizer essa música? 

Sérgio usava uma calça moletom, uma camisa qualquer surrada. Acordava quase pontualmente as 14h. Não admitia que sua filha, a Virgínia, cometesse o mesmo deslize...

- Eu sou músico, porra! Ela não. Vai dormir cedo e acordar cedo!

Virgínia, por sinal, uma garota que, na época tinha seus 15 anos, muito prestativa, muito conversadeira. Olhava nosso cigarro de tabaco e perguntava "como é que vocês conseguem colocar esse veneno para dentro?" A vimos apenas uma vez nos dois meses que frequentamos semanalmente a casa de Sérgio. 

Vinícius Junqueira - conhecido como Animal - era uma espécie de auxiliar de estúdio. Ia para lá e pra cá, sempre aos berros carinhosos do Sérgio quando precisava de algo: "ANIMAAAAAL". Aparecia em segundos. O que entendi foi que era como um estagiário.... O estágio acabou virando profissão, e ele é o baixista dessa nova onda do Mutantes pós Zélia Duncan. 

Lurdinha - a esposa - uma das mulheres mais divertidas que já conheci. Me deu um puta conselho uma vez.... Eles estavam preparando o lançamento de "Estação da Luz", do início dos anos 2000... Havia uma canção (há), La Famme Lurdina, que é uma das minhas preferidas, e o Sérgio colocou para eu ouvir. Comentei com a Lurdes que a canção era linda e que eu tinha uma também para  minha namorada da época, mas não queria mostrar. Ela disse "nunca perca a oportunidade, você pode se arrepender, não deixe passar". Não lembro se segui o conselho na época, mas nunca mais esqueci isso e sempre tento dar esse brilho na minha vida. 

Foi a época que conheci os Beatles. O Sérgio me falou deles. Havia um livro de gravuras lindão autografado por George Martin. Havia uma palheta do Les Paul num canto. A Stratocaster dele disputando atenção com a Gretsh Chet Atkings (a modelo do George Harrison). E, claro, ali, paradona, soberana, cheia de mistérios: a Régulus. Cheguei a pegar a guitarra nas mãos, mas tomei esporro. Aliás, Sério era mestre em dar esporros. Esporros que faziam todo o sentido. Nos educou em alguns aspectos de nossas vidas. 

As histórias contadas com um certo brilho no olhar. Histórias averiguadas depois no google, para ver se o cara não era maluco, pois, como eu disse, eu não fazia ideia de quem ele era. Imaginem eu pegando na Régulus, ignorando o que aquilo representava. Uma foto pessoal de Arnaldo Baptista em cima do piano de cauda. Histórias sobre a loucura que seu irmão foi parar. Conversas sobre drogas, religião, Deus, política. O que havia por de trás de Balada do Louco, e eu perguntando "que música é essa?". Ele se amarrava nisso... Havia ali coisa a ser lapidada. Pegou na guitarra e tocou a canção e eu a ouvi pela primeira vez assim. "Sabe tocar piano, Sérgio?". Sempre, com toda desenvoltura de um foda, senta e toca My Love, de Paul McCartney, para o meu deslumbre - também a ouvindo pela primeira vez. Ia para casa, puxava no Napster tudo dos FAB. Ia para o Sérgio, pegava o violão e dizia "olha o que eu tirei": This Boy. Ele: "Porra, essa é do caralho" e sentava com um outro violão e tocava junto e cantava junto, fazendo as vozes. Outra vez, também, em que descobri Oh Darling e pedi para ele me mostrar como se tocava. Só que ele cantou junto e nunca mais vi ninguém fazer o "when you told me..." na minha frente com a mesma porrada que ele fez - minha sobrancelha foi ao mais alto nível de minha testa. Ele disse "não vem da garganta, meu caro... vem de dentro, da alma, do espírito... é só acreditar que você consegue fazer". 

Aliás, do caralho era o seu melhor palavrão. Quando a coisa era muito, muito foda, era do grande caralho

Cheio de bagagem. Uma pessoa comum. Peculiar. Ali há apenas a áurea dele sobressaindo sobre todos. O intuito era gravar 2 canções produzidas por ele. Rolou, até rolou. Mas achávamos que isso ia dar em algo, pelo nome, sei lá... Alguém havia dito que isso seria bom para o nome da banda. Mas o que acabou ficando mesmo foi o convívio com as semanas que passamos lá. Ensinamentos que eu absorvi de tal forma que acho que devo alguma coisa a ele. Meu descontentamento é pensar que ele nem lembra de mim, e que as pessoas podem achar que isso nunca aconteceu - até eu mesmo duvido de vez em quando. O Sérgio é um grande cara, que foi um grande amigo por dois meses. Nos despedimos em um show dele, e se eu soubesse que seria a última vez que eu o veria, se e soubesse que eu iria virar um lunático por Mutantes, se eu pudesse agradecer... 

Grande Sérgio. Se você ler isso, cara, SALVE!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Whitney Houston chega ao céu...




Whitney Houston entrou na sala pós morte trajando seu clássico vestido branco, cabelos longos e negros. Seus olhos profundos exalavam um misto de incógnita e compreensão. Sabia que havia morrido, mas não esperava uma sala de espera, ainda mais uma sala tão clássica como aquela - chão de tacos incrivelmente lustrados, decorada com um sofá vermelho em L, uma mesa de centro de vidro escuro, uma lareira crepitando o som intrigante do fogo, um lustre quase medieval aceso com algo que ela não pode ver se era velas ou lâmpadas de 100 w iluminando  o recinto. O guardião vestia um terno azul claro e estava sentado no sofá, algo que dava um contraste fantástico com a cor vermelha. Carregava um livro grosso em seus braços e uma caneta tinteiro, de pena, daquelas famosas nos filmes de Harry Potter. 


- Porra...  - disse o guardião - teu nome é complicado de escrever, minha cara. No meu livro dos recém chegados, posso apenas escrever Wi?

- Faz diferença? Sempre achei que não viria parar aqui... - disse Wi.

- As pessoas na Terra sempre acham isso ou aquilo. Aqui é o céu dos músicos.

- Céu dos músicos? - disse Wi, esboçando aquele lindo sorriso. Sua feição já não era mais a carnal, a que as drogas haviam estraçalhado sem dó - quem mais está por aqui?

- Nunca passou pela sua cabeça que haveria o céu dos músicos?

- Nossa... Passou tanta coisa na minha cabeça que esse detalhe em si nem me ocorreu...

- Essa é a mágica da surpresa. Está surpresa?

- Muito!

- Pois bem... Aqui temos os comunicadores da música. É desse lugar que vem as vibrações para os compositores sentarem e escreverem, algo que lá na Terra dizem como ser inspiração. É tudo uma comunicação. Aqui você vai sentar numa mesa de jantar com Elvis, Lennon, Winehouse e Jackson... Também vai sentar na mesa com Wando, Elis, Jobim, Marley... Não fazemos diferença entre países nem classes sociais. Muito menos de fama ou sucesso, que é algo meramente terreno. Na mesma mesa estará aqueles que viveram no anonimato, sonhando e sentindo a glória de se expressar com a música. Nessa mesa também terá outros tantos que fizeram outros tantos tipos de música. E a comunicação de vocês não será a falada, nas línguas terrenas, mas sim na música. Teus problemas são teus problemas. Tua morte é problema seu. O que você fez com seu corpo, lá na Terra, você pagou com sua história, com seu exemplo. De um modo ou de outro deixou um bom exemplo, pois as drogas que você andou usando demasiadamente levaram seu corpo ao fim. É um bom exemplo para a sociedade. Não espere ser julgada aqui em cima, você já foi julgada na Terra por todos e, principalmente, por você. 

- Assim eu fico sem jeito...

- Mas é para ficar mesmo. Você foi brilhante, mas deixou o brilho te cegar. Acontece com muitos os que obtém o sucesso terreno. 

Wi deixou uma lágrima cair. 

- Venha, sente-se ao meu lado. 

Ela, muito elegante, ajustou seu vestido e sentou-se ao lado do guardião, que continuou.

- Vai ver que aqui essa coisa de bom ou ruim, de gosto e tudo o mais, não faz o menor sentido. Vai ver que todas as músicas são díginas de louvor. Vai perceber que nem precisamos pregar a palavras "respeito", porque aqui você é meramente uma energia que se acumula ao se juntar com as outras, e por aí vai. Não tem essa de rock é bom, samba é bacana ou soul é o que há... E, o mais impressionante, vai cantar como nunca aqui no céu dos músicos, de um modo que fez na Terra....Mal posso esperar para ver seu dueto com Michael Jackson na hora do jantar...

- Michael está me esperando?

- Assim como todos. Conhece o Caio de Abreu? Um violonista muito bom que morou nas Filipinas? 

- Nunca ouvi falar...

- Não sabe o que está perdendo. Enfim, seja bem vinda minha cara. A Terra ficou triste, o céu se encheu de júbilo, pois o seu talento está, finalmente, desprovido da carne.

- Então vamos...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Led Zeppeling IV - 1971




Quando eu era criança, o Led Zeppeling já era um dos maiores fenômenos do Rock And Roll mundial. Minha educação musical foi discreta, pouca coisa foi me mostrada. Na verdade, quem fazia as honras de mostrar isso ou aquilo pra mim e meu irmão (dois molequinhos que mostravam levar jeito para tocar - meu irmão nas panelas e bacias de plástico e eu soltando a voz) era meu pai. Meu pai tinha uma bateria Pearl Export e nos fins de semana entupia seu velho Fiat Uno 86 cor de creme com a batera e ia para Piratininga (Niterói-Rj) fazer um som no extinto Nó Na Madeira (do João do Nó) com o pessoal do Couros e Cordas (que tinha o que dizem ser o melhor tocador de tantã do Rio de Janeiro, o Zé Três Bicos). Naquela época os músicos eram unidos. Niterói era uma cidade que vivia música. Meu pai via Artur Maia num canto bebendo seu choppinho e fumando a sua maconha enquanto dizia "e ae paulixta, vai fazer um som hoje?". Outros grandes que tocaram com todo mundo foram Marcelo Martins (que meu pai o chamava de Marcelinho) e Zeca Nuto, ambos saxofonistas. Os caras que eu chamava de tio eram o Júlia São Paio (o maior de todos, o FODA) o Mauro Costa Júnior (um sênior no violão fazendo flamenco) e o Luciano (um baixista que toca com todo mundo também). 

Mas de qualquer modo, meu coroa via o nosso interesse nos instrumentos. Eu e meu irmão sentávamos atrás do bumbo da Pearl e ficávamos viajando na vibração da banda tocando. A gente já arriscava alguns palpites, alguma coisa de tempo musical... tudo isso com 5 ou 6 anos. 

Sendo assim, o coroa mostrava as coisas. Lembro de Santana, com Soul Sacrifice, Evil Ways, Oye como Va. Mostrou um som do Spyro Jyro. E mostrou Rock And Roll, do Led. "Olha só o que esse cara faz na bateria"... Meu coroa, quando tinha seus 19,20 anos, tocava nas noites de São Paulo com seu amigo João Antônio - o tipo de história que não vira biografia porque não vingou sucesso comercial nacional, mas que daria um livro foda - e o Led fez a cabeça do coroa na época. Starway To Heaven é sinistra. Certa vez o coroa disse, enquanto ouvíamos esse disco, na hora que toca Starway: "Esse cara, quando fez essa música, estava encostado no espírito santo, só pode..." 

Será que há o que falar sobre esse disco? Tem sim. É um disco cheio de graça, um disco engraçado. Certa vez um amigo me disse que me ver cantando All You Need is Love, dos FAB, era uma coisa engraçada. Percebendo meu desapontamento, pois entendi algo como uma piada, ele me disse que era um momento cheio de graça. A graça é coisa séria. Esse disco do Led é cercado de um mistério vibratório do além. Um disco onde o rock and roll flertou com o além, a ponto de até o reverb usado na bateria ter sido natural, de verdade, num pé direito de 15 metros, em baixo de uma escada. O mato e o ar fora da casa estiveram presentes na gravação de Robert Plant e sua voz enigmática, única e desafiadora. John Paul Jones sendo o baixista que toda bada deveria ter. John Bonham - pra não dizer o melhor do mundo, pois seria injustiça com outros - toca com todas as almas do mundo, sendo assustadoramente perfeito no tempo musical na intro de When the Levee Breaks  . E Jimmy Page, além de produzir o álbum, se expressa na guitarra de um modo ao mesmo tempo punk, no sentido de "foda-se, essa merda não precisa fazer sentido", e preciso na técnica desprovida de apego. Page é tão foda que impressiona Jack Withe e The Edge apenas com um riff de guitarra - e impressiona o mundo dos amantes do instrumento. Não tem essa coisa de rei do timbre, rei do riff, rei do slide, rei da base, etc... Jimmy Page é um guitarrista de banda, onde a música era mais importante do que o apego à perfeição técnica - é aí que a coisa fica perfeita. 

Led Zeppeling IV vai da porrada ao doce, do espiritual ao carnal, do ilusório ao real. Os deuses do rock se orgulham. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

All Things Must Pass - George Harrison, 1970.





Certas coisas são incompreensíveis...

Outras coisas são fundamentais.
Poucas coisas perpetuam.
Poucos sonhos são lembrados.
Alguns amores se rompem.
Algumas barreiras se colam.
Deixe ir pro ralo.
Deixe eu te contar o que tenho a dizer.
Se por ventura me subestimar.
Brilharei em prosa.
Na sua escuridão enfurecida, no seu ego insuportável.
Eu vou brilhar.
Serei a contra maré.
Serei a contra cultura.
No ódio eu vou nascer.
No amor eu vou embora.
Um jardim, eu adoro jardins.
Eu planto para as próximas gerações.
As plantas nos falam sobre o passado.
Sobre o presente.
Sobre o futuro.
Eu sou um poeta.
Eu escrevo apenas sobre mim, mais nada.
A minha vida criou as minhas frases.
Meu sotaque é carregado.
Meu lamento é na guitarra.
O slide me conduz.
Meu senhor - My LORD - me entenda!
Paz interior, paz para você, para mim.
Todas as coisas vão passar.
A luz do sol não dura o dia todo.
Se afaste da escuridão.
LET IT DOWN!!!!
Minha carne me chama, me consome, me envolve.
Minha alma pede socorro.
Minha fama é conhecida.
Sou o quietinho, o tímido.
Sou o ingênuo, o caçula.
Sou doce e azedo.
Exalo louvor ao mistério de estar vivo.
Eu sou George Harrison.
Meu disco se chama All Things Must Pass.
Não sou mais um beatle.
Eu já morri.
E estou aqui.
Na minha música, que eu fiz pra mim.
Te convido a me ouvir.
Tenho uma absurda certeza de que esse disco vai mexer com você.
Pois eu deixei um jardim, para futuras gerações.

Todas as coisas vão passar. É tudo material. Nada é real.

Hare Krishna.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Bloco do Eu Sozinho - Los Hermanos - 2001





Era uma época estranha no Brasil. Na televisão que vinculava música (aquela dos VJ's) só se via Pato Fu, Jota Quest, Skank, Kelly Key, Oasis (a salvação) Silverchair, Metallica (com o Load e Reload), Virgulóides (nessa bumba não ando mais, acharam um bagulho no banco de trás)... Deu para sacar. Um horizonte perdido. Deserto pelando sem grandes expectativas. A mesma coisa que vivemos hoje e adoram falar de CSS, A Banda mais Bonita da Cidade, Emicida, Crioulo, Tulipa Ruiz e Marcelo Janeci - me recuso a citar Michel Teló, Luna Santana e Restart, mesmo sabendo que acabei de citar, esqueçam esses caras, estou falado de música. Antes de voltar ao assunto, ainda acredito que viveremos uma reviravolta, mesmo que seja em culto de antiguidades, que no meio dessa zona se tornam novidade. 

O que aconteceu depois que o Los Hermanos mostrou sua força produtiva, intelectual e criativa, o rock brasileiro nunca mais foi o mesmo, pois qualquer compositor que soava diferente de coisas na rádio era comparado com os barbudos. Há ainda de se afirmar que Anna Júlia, de finados dos anos 90, foi uma grande onda no mar agitado da banda. A música era sim espetacular e ainda é. Lembro muito bem que era obrigação tocá-la em qualquer palco que eu subia. Foi uma época peculiar. No disco de estréia, o LH tinha uma veia agressiva instrumental somado com os vocais quase fracos para berros de Camelo e de suas letras, que geralmente falava de traição - na escola, as pessoas diziam que LH era uma banda de cornos. 

E assim foi... Anna Júlia explode, tem mais uma bacana ali, que era Primavera - e o resto só foi virar hit depois que os caras lançaram mais dois discos e arrebanharam uma multidão de fãs - e houve um silêncio. Seriam mais um Virgulóides, mais uma banda de uma música só? Nada ia acontecer. Os caras que saíam na capa da Capricho não tinham outra coisa como Anna Júlia. Que mundo injusto. 

O lançamento de Bloco do Eu Sozinho foi discreto. Pouco se disse, além das necessidades básicas de um lançamento fortalecido por gravadora - música de trabalho na rádio e na MTV com clipe. A Abril deve ter pensado "uma coisa é você ser um Beatle e lançar um Sgt Pepper. Outra coisa é você ser um babaca que não é conhecido além de um hit de rádio e querer lançar essa coisa sem pé, sem cabeça... Aqui rola grana meus amigos, GRANA! Essa porra não vai vender nem fodendo". Mas vendeu. 

Eu já tinha ficado intrigado com o refrão "deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz". Lembro que achei a rima um tanto tensa, mas achei a coisa da transição Anna Júlia/Todo Carnaval tem Seu Fim fora de parâmetros. Uma letra verdadeira, que fazia sentido. Um clipe gravado em câmera lenta e que tinha corrida de sacos. Não soava como um punk forçado, soava como rock and roll puro e simples. Daí estive no carro com meu pai, tocou a música de novo. "Olha pai, lembra aqueles caras de Anna Júlia, essa é a nova música deles" - e coloquei o volume no 11. Alguns dias depois, completamente intrigado pela coisa toda, fui na 13 de maio e comprei um genérico do Bloco. Paguei 5 conto. Fui para casa. Me sentei na frente do estéreo, com as pernas ajeitadas no tapete de casa, e dei o play. 

O que se passou nunca mais foi tirado de mim. A surpresa é fundamental. Em todo o decorrer do disco, eu ia sendo pego de uma tal forma. Não era modinha, ninguém ao menso sabia que eles haviam lançado um disco novo. Aquela banda de merda, ninguém dava moral. A internet não era como hoje. Os fãs de coisas novas ficavam em casa, imaginando que apenas eles gostavam, porque não se falava. O Oasis era a mesma coisa. Gostar de LH era sinônimo de ser babaca. Hoje é status (e eu odeio isso, a moda). Esse disco tem um significado relevante para mim - era a música que eu queria ouvir. 

Revelou-se, além de tudo, Rodrigo Amarante como um dos maiores compositores do Brasil, com Retrato para Iaiá e Sentimental. O disco é melancólico, desde seu título (hoje espalha-se o tal do forever alone, coisa que os caras já pregavam). Estar sozinho é ter tempo para pensar em você. Sentado na sala ouvindo o disco, eu estava de fato num bloco do eu sozinho. Usando notas dissonantes, o LH fez um rock um tanto desvinculado de influências e abriram as portas para as bandas que brigavam com o comercial. 

Mais tarde tive o prazer de vê-los ao vivo pela primeira vez no Campinas Hall - e haviam mais fãs que eu poderia imaginar. Todos esgoelando as frases (sim, frases, uma após a outra, não apenas refrões), e naipes dos metais e todos os arranjos. Percebi que ali haviam pessoas que foram tocadas pela expressão da música desses caras que não deram a mínima para o sucesso que havia caído sobre eles - não havia cenário, não trajavam roupas extravagantes, não eram um clichê. Um grande suspiro. Fomos salvos.

O Bloco do Eu Sozinho tinha aquela coisa de ser meu, apenas meu. O Ventura espalhou-se de tal forma que o charme de "apenas eu curto isso" foi pro ralo, mesmo tendo adorado o disco quando foi lançado. Mas o Bloco é isso, único, para aqueles que sentiram o brilho da escuridão melancólica. nível fodástico: TODAS. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Mr. Trip





The Beatles - Magical Mystery Tour - 1967

Essa é coisa desse disco - os Fab te chamam para uma viagem sem compromisso. Após Sgt. Pepper, Paul vem mais uma vez com suas alucinantes trips e pega o volante da banda. John está completamente entregue ao vício de Heroína e LCD, um tanto distante das atividades profissionais que lhe eram forçadas como um beatle. Mesmo assim, ele vem com a filosófica I Am The Warlus, onde os efeitos do LCD são, mais uma vez, usados como fonte de inspiração - "Eu sou você, você está aqui e somos todos a mesma coisa, jutos" (ou algo desse tipo). Anos depois, Jim Carrey interpreta com maestria essa canção num disco de George Martin chamado In My Life (poderia ter criado um nome melhor, mas essa não é a praia de Martin).  O curioso é que Magical Mystery Tour não foi concebido para ser um disco em si, mas sim a trilha sonora do filme homônimo, que na época, por ter sido lançado em preto e branco, não fez muito sentido e a crítica caiu de pau, pela primeira vez, num trabalho dos Beatles. "Eles foram longe demais, quem pensam que são?".

Nessa época (até um tanto antes) Paul McCartney tinha todas as portas de Londres abertas para si. Sua casa era frequentada por tudo quanto é tipo de figura, desde artistas plásticos a escritores de uma era que ficou conhecida como beat. Claro, todos devidamente fornecidos de haxixe. Ou seja, além das portas estarem abertas, ele abria a sua casa para muita gente. Linda disse que, quando entrou em sua casa pela primeira vez, era um verdadeiro canto sujo de um solteirão - na geladeira, apenas um pedaço duro de queijo velho e um litro de leite podre. Mas era no salão de música que a mágica acontecia. Paul havia pedido para um sujeito pintar seu piano de armário, e a pintura pode ser vista até hoje nas turnês de Paul, aquele arco-íris psicodélico.

Nessa mesma sala de música John Lennon podia ser visto pelas pessoas que circulavam aquele verdadeiro cortiço. John e Paul apresentavam as canções um para o outro, e eles a avaliavam e faziam ajustes, dando palpites de letras, harmonias e outras partes. A mesma coisa acontecia na casa de John quado Paul dava um pulo por lá - John era um cara casado, recluído e meio puto por não aproveitar a vida como o boêmio Paul o fazia.

A música tema que abre o disco foi composta por Paul, num gráfico esférico e maluco - uma mania que Paul tinha de desenhar suas coisas e que aparentava fazer sentido apenas a ele, coisa de maconheiro. O mesmo tipo de gráfico pôde ser visto no encarte de Press to Play, de Paul. "Abram alas para a mágica e misteriosa turnê", diz a primeira frase do disco. Com um filme em mente, o disco foi se desvinculando da coisa do áudio, dando ênfase ao visual. Sem perceberem, eles fizeram um dos melhores discos da carreira dos fab.

Por exemplo - The Fool On The Hill foi criada com o propósito de se fazer tomadas nas montanhas, mas nem parece... É mais uma canção tocante de Paul, composta no piano psicodélico. Ler a biografia me deu informações inesquecíveis... Claro que é mais do mesmo, mas a forma com que as coisas são contadas é o diferencial da informação. Flying é da tomada aérea, aquela que tanto foi xingada, pois em PB as montanhas vistas de cima não fizeram o menor sentido. O busão fora encomendado pelos Beatles - que, aquela altura, conseguiam absolutamente o que queriam... eles batiam o pé, principalmente Paul, que dizia "ora, veja bem...somos os Beatles meu caro", falava isso para o presidente da EMI quando esse achava as exigências um tanto excêntricas. O busão ficou lindo de foda. Todo amarelo com o logo do disco gigante na lateral. Coisa dos anos 60...

Como sempre, George Harrison sempre fez a diferença. Desde Don't Bother Me, ele sempre vinha na contra mão do que Lennon e McCartney faziam. Isso é natural, cada um tem seu CPF. Blue Jay Way é de um desespero sem precedentes, uma levada arrastada, uma jeito tão peculiar de cantar, com todo aquele efeito na voz. Até aí o disco se mostra, de fato, muito mais despretensioso do que tudo que haviam feito. Sgt Pepper já havia engordado as contas bancárias por umas três gerações de cada um. O foda-se é intuitivo. Aí vem Your Mother Should Know e é preciso lembrar que o baixo do Paul é fora do normal. Parece que o Rickanbacker foi feito para ele tocar, e só. Uma das coisas mais lindas foi ouvir essa canção em si remasterizada. Não estou falando dos craqueados para o You Tube (isso perde o sentido) mas os Cds em si. FODA. E o lado A se encerra com I Am The Warlus, com John aparecendo pela primeira vez no disco, como se estivesse dormindo e distante, daí ele acorda, sacode a poeria e fala "ok caras, vamos por essa porra para foder".

O lado B é simplesmente um emaranhado de sobras. Como eu disse, Magical Mystery Tour não foi criado para ser um disco em si... Só que, cara, as sobras são nada mais nada menos que Hello, Goodbye (Paul); Strawberry Fields Forever (John); Penny Lane (Paul); Baby You're a Rich Man (Paul e John) e All You Need Is Love (John) - isso mostra a guerra sadia que havia entre os dois. Qual era o melhor? Complicado. Não preciso dizer mais nada. Um disco esquecido por muitos, falado por poucos. Há aqueles que dizem se tratar do melhor disco dos Beatles. Logo após, eles levam a brincadeira "mais a séria" e gravam o álbum branco, mas isso é papo para outro post. nível fodástico: TODAS, é claro.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Double Fantasy - 1980



Certa vez eu tentei escrever um texto para o "Museu de Grandes Novidades" sobre esse disco. O resultado foi sofrível, pois eu fiquei perdido. O texto foi engavetado e nunca mais falei de John Winston Lennon. Um dia irei ler uma das inúmeras biografias desse cara para poder entender um pouco o que foi a sua vida, pois o que sei foi o que o Paul disse na sua biografia, Many Years From Now. Olhando para fotos de John no buscador da Google, muita coisa se passa na minha cabeça. Um cara que foi ceifado de um futuro brilhante. Eu sempre penso no que seria sua vida se ainda estivesse vivo. Muitos o endeusam e muitos o comparam com Paul. Eu, particularmente, acho isso uma grande merda. É praticamente impossível comparar Paul a John, e minha discussão termina no seguinte: A única diferença entre Paul e John é que o John foi assassinado e não teve como dar continuidade a sua música. Outros dizem que, de qualquer modo, a discografia de John no início da carreira solo é muito superior com a de Paul - isso é outra coisa que discordo profundamente, pois além de ser uma comparação ridícula, comparar Plastic Ono Band e Imagine com RAM e Wild Life (McCartney não conta, pois foi gravado numa época em que os Beatles ainda existiam legalmente) é algo insuportavelmente impossível. Mas se você voltar na carreia de Lennon/McCartney, apesar de, de fato, as canções serem sempre desenvolvidas pelos dois, há o lado singular de cada compositor. Dizer, por exemplo, que Strawberry Fields Forever é melhor que Penny Lane (ambos saíram em compacto lado A lado B como antecessor de Sgt Pepper) é tarefa que nem George Martin consegue resolver. 

Para eleger o melhor disco de John - ou, melhor dizendo, o disco para resultar em texto aqui nesse blog - foi preciso muito esforço e sentimento. A fumaça que paira sobre meu notebook (se é que você me entende) ainda me ajuda a encontrar soluções para esses grandes mistérios mitológicos musicais na minha pequena mente de amante do ato de se expressar. Sei lá quem é que lê isso aqui. Se é que leem... Vendo as estatísticas do blog, percebo que gringos andaram acessando, principalmente os posts "Os melhores filmes de Terror" e "Os melhores filmes de Porrada". É claro que eles não estão me lendo, eles estão vendo as fotos que publiquei, que também foram chupinhadas do Google. A coisa é grande. Seria interessante traduzir esses textos para o inglês? Quem sabe... se tiver alguém aí para me ajudar nisso, não confio na ferramente do Google. 

Mas também não confio no meu julgamento em dizer que Double Fantasy é o meu disco preferido de John. E, de qualquer modo, vou tentar me explicar o porque dessa afirmação. Double Fantasy é isento dos sentimentos angustiantes de John. É o último disco. Voltando na minha nóia de comparações, é o Abbey Road do John. Aqui John não tenta mandar recados a ninguém (pelo menos explicitamente). Ele não se lamenta pelas coisas horríveis que viveu, como se apenas ele passasse por coisas horrorosas na vida. Ele não lamenta a morte de sua mãe, o abandono de seu pai. Ele não esnoba Paul McCartney nem os Beatles e nem a Jesus Cristo. Ele não deixa claro o seu pensamento raivoso sobre certas coisas do mundo. Ele, de fato, sente a paz que ele tanto disse que deveríamos dar uma chance para ser estabelecida. Yoko carrega a responsabilidade de ser a mulher mais odiada no mundo. Em outras palavras, Double Fantasy é perfeito. 

Depois de cinco anos cuidando de seu filho Sean, John vai pro estúdio e trabalha no disco. Gravado em NY, o disco é acompanhado por uma banda de primeira. E as composições vão direto ao coração, sem passar por toda o filtro beatlemaníaco. É um disco feliz, um louvor ao amor. O amor, o velho amor, que John tanto soube falar no início da carreira, é o norte de seu recado. Just Like Starting Over é o recomeço disso tudo, de sua nova vida, de sua nova forma de agir, um homem de 40 anos percebendo que a vida não é nada além de estar vivo e ter seu filho e sua esposa por perto, completando, dando sentido. Um amigo meu disse esses dias que ter filhos é dar um novo significado a vida. O vanguardismo de Yoko Ono é tratado com respeito. O melhor da música de Yoko está nesse disco. Beautiful Boy fez até Paul McCartney chorar, tamanha era a capacidade de John em expressar em música os seus sentimentos. Woman é um clássico, um brilho, uma pintura, gol na final do campeonato, notícia boa depois de um péssimo dia, filme foda que pegou de surpresa, livro com final surpreendente, sorriso da mocinha, filé com molho madeira... É uma canção de arrepiar os poros, de querer ouvir sem parar. A frase "Eu te amo" nunca foi tão bem cantada até John escrever essa canção, que coloca um ponto final sobre os limites do amor. John e Yoko foram o casal mais esculachado de todos os tempos. Ninguém entendia o que ele via na japonesa. Ele tentou dizer, opa se tentou. Em Oh My Love (de Imagine) ele disse que o amor tirou o véu e ele via tudo mais claro e mais lindo. Em Mind Games, ele disse que o amor é a resposta. Sempre enigmático, sempre o melhor crítico e interpretador de seu trabalho, John Lennon fez de Double Fantasy a sua grande despedida, como se soubesse que seu fim estava próximo. O mundo nunca mais foi o mesmo sem John Lennon, e percebo que a pessoa que mais sente sua falta é Yoko e Paul McCartney. Vendo Paul tocar Here Today ao vivo, você entra no universo único desses homens, ali, no meio da multidão, você, por alguns minutos, saca qual era a relação deles. O artista se expõe demais e algumas vezes essa exposição pode ser fatal. 



John Lennon, o grande. nível fodástico: TODAS. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

The Dark Side Of The Moon - Pink Floyd, 1973



O meu relacionamento com o Pink Floyd é uma coisa perturbadora. Na minha mente, eles foram os únicos que enfrentaram os Beatles. Não que um fosse melhor que o outro. Quer dizer, estou mentindo. Os Beach Boys foram os que mexeram nas estruturas da razão musical pós Beatles. Só que os Beach Boys têm aquela coisa das vozes, Califórnia, Surf Music, etc...; e depois vieram com a própria revolução com Pet Sounds e Smile. O Pink Floyd é uma banda que dá-se a impressão de que não beberam em fonte alguma, criaram o seu próprio curso das águas. Desde então há um ranking suspenso em minha mente quanto a esses ramos artísticos muscais: The Beatles, Brian Wilson e Pink Floyd... aí vem o Oasis, Guns n' Roses e Radiohead... esse é meu top 6. 

Mas como se faz uma música? Numa matéria da revista Rolling Stones, intitulada "A Maldição do Pink Floyd" (aff), David Gilmour começa a entrevista dedilhando seu Martin e passa a cantarolar qualquer coisa - "Foi assim que nasceu Wish You Where Here, num momento desses". Como pode ver, meu caro leitor, não existe um laboratório com válvulas pegando fogo, um cara vestido de branco manchado de carvão, bolhas de sabão multicoloridas voando e explodindo alegremente ao ar, tubos de ensaio. Não existe horário de trabalho, força da razão, pensamento coletivo ou coisa parecida que não faz porra de sentido algum. As mensagens estão circulando a cima de nós, numa correnteza cósmica que sabe-se lá de onde vem. Eu digo isso porque me familiarizei com o que disse Gilmour sobre dedilhar e brincar, e do nada a coisa vem, toda, começo meio e fim. Hey Jude nasceu em um sonho - UM SONHO! 

Enxergo o compositor como um mensageiro. É um puta dum clichê, eu sei. Mas é verdade. Nessas horas a coisa da psicografia faz muito sentido. Quando faço minhas músicas, eu costumo dizer que não fui eu quem fez, mas que foi enviado de alguma dimensão pra lá de foda. Não é questão de fama, não é questão de ser bom ou não. Esses caras que tanto vangloriamos estavam no momento certo, na hora exata e com a mente completamente receptora de tais vibrações cósmicas, e há a passagem do cósmico para o material. Esse material é gravado e prensado. É distribuído. Por mais que você possa ser um defensor da arte alternativa e independente, não pode negar que um disco que vendeu zilhões de cópias e que continua vendendo - um disco que todos os dias alguma pessoa ouve no mundo - mesmo que você seja um socialista mala que esnoba o dinheiro e os mais afortunados, você não pode negar que The Dark Side Of The Moon, apesar de toda a merda por trás de sua história - é um diamante negro. 

Não conheço Roger Waters. Nem ao menos já sonhei em entrevistá-lo. O que posso afirmar, com tamanha certeza, é que ele não é um ser humano perfeito. David Gilmour também não. Waters é cheio de marra, do tipo pior que John Lennon, um verdadeiro britânico que despreza qualquer um que não reconheça a sua genialidade. Um cara de pouco talento, e foi aí que percebi que não é preciso talento para ser gênio. Na mesma matéria citada, ele diz que toda a banda fazia um esforço imenso para dizer a ele que era um cantor desafinado e que não sabia ao menos afinar o contra-baixo. Ele disse que isso era uma grande besteira. A banda não queria aceitar que ele era o grande mentor da captação cósmica. Além do mais - e foi a única coisa que li nessa matéria que valeu a pena - Roger disse que até podeira ser um mal cantor, mas compensava cantando com sentimento e caráter. 

Caráter não se compra, não se vende, não se acha. Você nasce com um e ele se torna verdadeiro quando seu ideais são colocados a prova. Perde-se de tudo pelo tal do caráter. Mas cantar com caráter é algo espantoso. Roger fazia assim mesmo. Nas raras vezes que sua voz aparece em Dark Side, fica claro o seu caráter, trazendo toda a experiência letrística á tona. 

David Gilmour, coitado, ao meu ver - na verdade nunca saberemos o que aconteceu, pois eles falam, falam e falam e não dizem porra nenhuma - é o grande músico, que caminha entre a técnica e o sentimento, onde eu acho que o sentimento fala bem mais alto. O tipo de guitarrista que toca como se escrevesse uma história, como se estivesse num filme. Da mesma forma que Roger captava as palavras e o enredo no cósmo, Gilmour fazia a mesma coisa com a guitarra. Mas também não é um ser humano perfeito. 

A dupla se desfez por causa do Ego. Um não suporta a genialidade do outro. Os dois estão sempre em processo de pé de guerra, dois caras muito competitivos. O Pink Floyd, apesar de toda o furacão egocêntrico, ainda resistiu e nos brindou com grandes clássicos que perpetuaram na história da música. 

A escuridão é a ausência de luz. Na verdade, como diz o guardinha do Abbey Road no final do disco, "não existe o lado escuro da lua. Ela é toda escura, é o Sol que a faz brilhar"  A música de Dark Side é escura, sua base é escura, é incerta, é cega. Um disco que assusta e que perturba. Momentos de loucura, da total falta da razão. Gritos, risadas, como se demônios estivessem prestes a levá-lo para o tal lado escuro da realidade mental. Estar vivo, estar morto, estar lá e cá. A incompreensível força do tempo, o tempo invisível, sem sentido, que passa e bate na tua cara que já era, já foi, não há o que se possa fazer. A vida que machuca, destrói. A vida que caminha para a luz, lá longe, impressionantemente nos solos de guitarra de David Gilmour, nos tempos da bateria de Nick Mason, na harmonia dos teclados de Richard Wright, nas palavras perturbadoras de Roger Waters. A luz vem chegando e aos poucos vai afastando o frio do escuro. O escuro não mais existe, ele fica lá no lado da Lua que ninguém mais vê. A vida faz sentido em tudo que fazemos, em tudo que tocamos, vemos, provamos, sentimos, amamos, odiamos, confiamos, salvamos, comemos, todos que conhecemos, todos que brigamos, tudo que é agora, que já foi, tudo ao mesmo tempo, e tudo está em total harmonia com a luz, no Sol, mas o Sol está sendo eclipsado pela Lua. 

Como eu disse, esse disco é um diamante negro. nível fodástico: TODAS.