sábado, 24 de maio de 2014

Felippe Pompeo fala sobre o BRAVO.




Pompeo - como é indiscutivelmente conhecido por seu pessoal - já não é mais o cara que passava horas no estúdio gravando suas ideias. Hoje ele se enrola para estar no palácio da gravação: "É muita correria, cara... Tenho que resolver problemas, fazer mercado, abrir e fechar minha loja, correr uma vez por semana para colocar o sangue pra circular, tocar nos fins de semana por grana. Tenho cachorros e uma casa para cuidar". Analisando superficialmente, a impressão que nós do Diálogo Sobre o Mal Resolvido temos é a de que Pompeo cresceu. Na época em que esse blog ainda se chamava "Os Blocos de Cimento", Pompeo era um cara que acordava depois do meio dia e vivia com os pais numa zona de conforto razoavelmente bem. Com a sua agenda de compromissos primários lotada, gravar um disco é tudo o que ele não precisava, mas o faz.

O Diálogo - Parece uma burrice, pra quem vê de fora, continuar gravando discos na realidade tão imprópria que você vive.

Pompeo - Acho que não... Pode até parecer uma insistência ou coisa do tipo. Mas, sabe, não posso reclamar. Tenho tanta coisa... Meu Playstation 3 ainda está lá. Tantos amigos meus tiveram que vender os deles para pagar contas. Vivo de uma coisa que não nasci para viver, mas que aprendi a fazer e a aceitar. E, mais uma vez, você vai me fazer eu me expor aqui né...

O Diálogo - Mas é claro. É assim que toda entrevista deveria ser, não é mesmo? Não é você o cara que mete o pau no jornalismo musical de hoje em dia? 

Pompeo - É, sou eu mesmo. Enquanto esses idiotas estiverem fazendo matérias chulas sobre beleza, vestimentas, aparências, ou escrevendo sobre burrices e mesmices, eu acho que vou cutucá-los. É claro que você pode pensar que digo essas coisas porque nenhum deles dá a menor importância pra mim. Talvez, sou humano... Quero minha fatia também. Mas sou roqueiro, e mando tomar no cu mesmo, quando necessário. Ser humilde é uma coisa, mas quado o lado rock and roll bate, cara, é foda. 

O Diálogo - É daí que veio o nome BRAVO? 

Pompeo - O conceito de BRAVO é de eu ser uma pessoa pouco simpática aos olhos de quem apenas me vê. Aquele tipo de gente que apenas vê eu passando pra lá e pra cá, com milhões de coisas na cabeça. Eu percebi um troço desde a época do ensino médio: sou um tipo de gente que chama atenção. Não sei se é o meu tamanho, se é o volume da minha voz ou a minha rizada exagerada. Sempre olham pra mim. E em dias seguintes sou um cara fechada, mergulhado em pensamentos. Não me admira mais - hoje em dia é claro - pessoas falarem que eu sou um cuzão, que eu sou anti-social (já ouvi isso numa noite... rs... todo mundo deu em cima da moça, eu nem vi que existia uma moça, e ela me chamou de anti-social... RISOS). Tem a coisa do palco também, então todo mundo num bar, onde eu estou tocando, sabe quem sou eu. Geralmente eu desço do palco e não falo com ninguém. Aprendi, com o tempo, que ao menos sorrir para as pessoas é uma gentileza e agradecimento por quem está ali. Fico meio puto porque estão batendo palmas para mim por tocar música de outras pessoas. Nunca tenho a oportunidade de fazer as minhas músicas. Mas... É só me conhecer, vir falar, trocar ideia, que eu me torno um cara dócil e que você nunca mais vai achar que eu sou um cuzão de verdade, só de mentirinha. 

O Diálogo - O single do disco, BRAVO, dá exatamente essa impressão...

Pompeo - Sim, pois o nome tem esse peso, carrega essa prepotência (como disseram por aí). A capa é meu rosto pintado, puto, fechado. Sombria, algo tenso, como o nome do disco propõe. Mas ao ouvir a música, a letra te mostra que não é nada disso, que sou apenas mais um coitado vivendo num mundo tão difícil de entender, num país tão complicado, numa cidade (Campinas) onde as pessoas são tão mal educadas. É uma canção longa porque eu quero mostrar essa coisa do desespero. O solo é desesperador, você acha que já ouviu tudo na música e quando chega o solo você fica atordoado, se perguntando "mas que diabos". E ao chegar na parte calma, é uma calmaria disfarçada - você tem um clima musical mais ameno, mas uma letra extremamente pessimista, o que te leva pra essa briga interna do cotidiano. Somos todos Bravos. Ninguém está satisfeito com a vida. Você sempre tem um problema para resolver, sempre tem uma cagada para limpar ou - o pior - um desastre natural que você não fez nada para acontecer, mas que te diz respeito. 

O Diálogo - Mas há também o sentido de congratulações, de Bravo no sentido de palmas?

Pompeo - Sim, há. Em primeiro lugar: Se eu não me achar foda, quem vei me achar? Sim, eu me acho foda. Eu acho que sou digno de braveza. E foi aí que eu me tornei uma pessoa mais tranquila. Não precisei mais humilhar músicos e compositores que estão começando, porque eu passei a não precisa provar mais nada pra ninguém, pois eu sei do que eu sou capaz e do que não sou capaz. Sou um homem muito seguro de mim. Não preciso que as pessoas me digam tal coisa para eu saber do que eu sou feito. É claro que é bom demais ouvir as pessoas me gratificando e eu me preocupo com o que vão pensar de meu trabalho. Em segundo lugar, apesar de todo pessimismo dito acima, a vida ainda é do caralho. Há momentos de extrema felicidade que vivemos que merecem palmas. Lembra daquela cena de "A Procura da Felicidade", onde o protagonista vivido por Will Smith, após saber que foi contratado, depois de tomar tanta porrada, vai para a rua comemorar sozinho? Ele bate palmas para si mesmo, dizendo "é isso, eu sou foda, eu consegui, eu sou bravo, BRAVO minha gente". Depois ele corre para abraçar o filho, que o seguiu até o fim. A vida é isso, meu caro. 

O Diálogo - O disco é sobre isso, então?

Pompeo - Sim. O disco vai do puro soco na cara, como é o caso de A Luz Define Você e o Dia da Minha Morte, ao mais sincero sentimento de gratidão, como em O Choro da Gi e Todas em Uma. Me exigiu muita paz de espírito, paz essa que fiz as coisas sem pensar muito saca? As músicas foram nascendo, foi-se criando o conceito - um disco tem que ter um conceito, se não ele vira um emaranhado de músicas bacanas. Um disco tem que ter começo, meio e fim, se não vira um disco do Restart, eu sei lá... 

O Diálogo - Como foi gravar com Luis Alcaide, o espanhol? 

Pompeo - O cara caiu do céu. Coisas que a vida nos trás e falamos: Bravo! Por coincidência absurda, o cara é meu vizinho. Um parceiro em comum me disse que eu deveria conhecer o Luis, que tinha um estúdio, que mexia com isso e que era gringo. E que morava na minha rua. Eu pensei "mas que porra é essa? Deve ser um cara doidão que mora com o cachorro fedido ou coisa parecida". Ao cruzar com Luis, percebi se passar de uma pessoa séria, que tinha uma vida estruturada e que estava no corre como eu. Começamos a nos conhecer. Eu fazia duzentas perguntas técnicas de áudio e ele respondia cada uma com analogias poéticas que eu entendia perfeitamente. Eu ia na casa dele, ele na minha, e assim nos conhecemos, antes de tudo. Então resolvi conhecer o seu local de trabalho, que para o meu espanto não era na casa dele, e sim do outro lado da cidade. Resolvi encarar o lado profissional da coisa e acho que só ganhei com isso. Luis é talentoso, conhece cada canto do seu estúdio, já trabalhou com todo tipo de artista (até os malucos dos indianos e dos africanos). Tem inúmeras histórias e te capta sem um pingo de arrogância - ele se preocupa com seu trabalho, não é daqueles que te trata como mais um cliente porque no dia seguinte ele tem que acordar cedo para gravar uma orquestra ou um trabalho de curso de música da Unicamp - sabe esses caras? Então...

O Diálogo - Mas Felippe, você mete o pau em todo mundo! Parece que está cercado de inimigos...

Pompeo - Porra nenhuma. Eu tenho amigos e nobres colegas do mesmo ramo. O Missola faz um trabalho maravilhoso, profissional, e já trabalhei com ele - é uma paz eterna. O Roger do Nosotros é um guerreiro, um cara que inspira. Os caras do TJ são demais também, embora eu não tenha trabalhado com eles, apenas conheço o TOM e toquei com ele uma única vez, e ouvi alguns discos feitos por eles, como o do Beto Sanches e do Sandro Saga, fodas pra caralho. Aliás, o Sandro é foda. O Beto é outro que eu não conhecia e acabei achando ele uma pessoa muito bacana. O Túlio Airoldi (ex companheiro de banda) é um parceiro eterno e está para lançar seu trabalho também, eu participei na voz em Dedilhar Estrelas, uma música que entraria fácil para o Lucidas. O Toninho Ruiz que produziu, um outro cara ímpar. Temos o João e os Poetas de Cabelo Solto, fantásticos!!! O Franciso El Hombre e sua paz e humildade. Meus caros Guilherme Morais, Léo Costa e Marcelo Mayer. O Marx, que faz eventos. O Will, que nos encoraja. O Vitor Moreno, gente boa. O povo da Lads, do JB...  Conheço uma galera, mano. E gosto muito de todos eles, principalmente se rolar uma cerveja no Bar do Zé. 

O Diálogo - Da última vez, quando lançou o SOL, você se despediu dizendo que havia um disco novo para sair e com um nome já, que era o que você está lançando. Há mais um?

Pompeo - Sim. E sempre haverá. Mas dessa vez não vou revelar o nome. 


Bravo será lançado dia 28/05, via facebook - https://www.facebook.com/events/1462679040636518/