Eu já devo ter contado essa história em algum lugar, ou para alguma pessoa. Eu tive um animal de estimação um tanto estranho: um pintinho amarelinho, que cabia na minha mão. Quando eu era criança meus pais me levavam numa feira de animas chamada Cães e CIA, e foi lá que eu vi uma raça de Mastin Napolitano, segundo me disseram ser o cão mais forte do mundo. Tinha outros bichos também, como peixes e aves, mas eu os achava um tanto caretas.
Na saída da feira - que era montada em algum lugar do Plaza Shoping - para a alegria extrema dos pais as crianças eram presenteadas com unidades de pintinhos amarelinhos. Eu morava em um prédio que tinha uma quantidade generosa de crianças. Em dois ou três dias, o jardim do prédio era tomado por pintinhos que piavam "piu" e cagavam estranho onde quer que estivessem. A gente dava quirela para eles comerem e eles comiam seja a hora que fosse, a quantidade que fosse. Uma criança adora alimentar seus pintinhos, e numa dessas vários pintinhos morreriam.
O meu ficou doente. Eu quis curar. Com o nome esquisito de "Pilo Chico", o pintinho que morava numa caixa de papelão na lavanderia do apartamento começou a ficar estranho. Quanto à sua doença, é só isso que eu me lembro. E meu pai de uma de fodão e falou que o bichinho ficou curado, e que seu lugar era num sítio, junto de outros bichos. Agora com certeza eu acho que já contei essa história em algum blog. O fato é que meu pai mandou o pintinho pro sítio de uma vizinha, que jurou que o Pilo Chico ia ficar bem por lá. Me lembro que depois de algum tempo - tempo esse que não tenho a mínima noção - fui nesse sítio brincar com alguns amigos e vi um galo num galinheiro. Entrei no galinheiro e abracei o galo:
"Meu Pilo Chico"
Como é fácil enganar uma criança... Mas será que eu fui enganado? Esse fim não era o melhor para todos naquela ocasião? Como é que um galo seria criado num apartamento minúsculo em Icaraí? Isso me faz lembrar a forma paterna de enxergar Deus. Péssima reflexão, eu sei... Mas inevitável. Eu, como criança, achei que sabia o que era melhor pra mim - ter um pintinho num apê. Meu pai sabia o que era melhor pra todo mundo, e me "enganou", levando o bichinho pra bem longe. Continuei sendo enganado quando abracei o galo, mas acho que uma estranha misericórdia fez com que esse galo não me atacasse, me fazendo crer que aquele era de fato Pilo Chico. Dizem por aí - mais precisamente os cristãos - que Deus nem sempre faz o que queremos, mas o que precisamos, e nós nunca sabemos o que precisamos. Vai saber...
Um dia eu tive também um ratinho marrom. Mas, com perdão do jargão, isso é um aoutra história.