segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Memórias Por Enquanto Nada Póstumas

Eu já devo ter contado essa história em algum lugar, ou para alguma pessoa. Eu tive um animal de estimação um tanto estranho: um pintinho amarelinho, que cabia na minha mão. Quando eu era criança meus pais me levavam numa feira de animas chamada Cães e CIA, e foi lá que eu vi uma raça de Mastin Napolitano, segundo me disseram ser o cão mais forte do mundo. Tinha outros bichos também, como peixes e aves, mas eu os achava um tanto caretas.

Na saída da feira - que era montada em algum lugar do Plaza Shoping - para a alegria extrema dos pais as crianças eram presenteadas com unidades de pintinhos amarelinhos. Eu morava em um prédio que tinha uma quantidade generosa de crianças. Em dois ou três dias, o jardim do prédio era tomado por pintinhos que piavam "piu" e cagavam estranho onde quer que estivessem. A gente dava quirela para eles comerem e eles comiam seja a hora que fosse, a quantidade que fosse. Uma criança adora alimentar seus pintinhos, e numa dessas vários pintinhos morreriam.

O meu ficou doente. Eu quis curar. Com o nome esquisito de "Pilo Chico", o pintinho que morava numa caixa de papelão na lavanderia do apartamento começou a ficar estranho. Quanto à sua doença, é só isso que eu me lembro. E meu pai de uma de fodão e falou que o bichinho ficou curado, e que seu lugar era num sítio, junto de outros bichos. Agora com certeza eu acho que já contei essa história em algum blog. O fato é que meu pai mandou o pintinho pro sítio de uma vizinha, que jurou que o Pilo Chico ia ficar bem por lá. Me lembro que depois de algum tempo - tempo esse que não tenho a mínima noção - fui nesse sítio brincar com alguns amigos e vi um galo num galinheiro. Entrei no galinheiro e abracei o galo:

"Meu Pilo Chico"

Como é fácil enganar uma criança... Mas será que eu fui enganado? Esse fim não era o melhor para todos naquela ocasião? Como é que um galo seria criado num apartamento minúsculo em Icaraí? Isso me faz lembrar a forma paterna de enxergar Deus. Péssima reflexão, eu sei... Mas inevitável. Eu, como criança, achei que sabia o que era melhor pra mim - ter um pintinho num apê. Meu pai sabia o que era melhor pra todo mundo, e me "enganou", levando o bichinho pra bem longe. Continuei sendo enganado quando abracei o galo, mas acho que uma estranha misericórdia fez com que esse galo não me atacasse, me fazendo crer que aquele era de fato Pilo Chico. Dizem por aí - mais precisamente os cristãos - que Deus nem sempre faz o que queremos, mas o que precisamos, e nós nunca sabemos o que precisamos. Vai saber...

Um dia eu tive também um ratinho marrom. Mas, com perdão do jargão, isso é um aoutra história.