quarta-feira, 4 de abril de 2012

The Wall, o show.


O poder de Roger Waters é finito porque ele é um homem. Um ser humano que usou vibrações de outras dimensões para compor seus clássicos. The Wall é, antes de qualquer coisa que vimos nesse ultimo domingo - 03/04 - um disco. 

A visão do artista é profunda, enigmática e acessível. Digo acessível porque a coisa não é complicada. É claro que o conceito de The Wall é recheado de caminhos compreensíveis - e incompreensíveis - e poderíamos fazer aqui uma analise sobre o disco em si. Mas não é o caso. Basta entender que Roger Waters está nos dizendo: Tirem a bunda da cadeira, lute, pense, diga, reaja. Não seja um idiota. Estamos morrendo nesse mundo jogado à eterna zona de conforto, onde coisas injustas saem nos noticiários e no dia seguinte já foram esquecidas. 

É o caso do que aconteceu com Jean Charles na Inglaterra - Roger não esqueceu. 

O disco é atual, embora fora escrito imaginado nos tempos de segunda guerra. Ainda vivemos a guerra e seus ecos. O militante é aquele que vê injustiça invadindo nossas casas e quer ver um mundo melhor, mais justo, mais coerente. Geralmente os militantes ricos não são levados muito a sério. Roger é trilionário, vive num mundo capitalista que parece não prejudicá-lo diretamente, mas sim indiretamente. E é aí que a coisa fica grandiosa. 

O show é um espetáculo que foto ou vídeo algum no face book ou you tube conseguirá mostrar. De qualquer lugar do estádio, o espectador e fã devoto sentiu na pele, nos ouvidos, nos olhos e no coração o pânico mesclado com doçura e lucides. O muro, que na técnica era um telão que cinema algum no mundo reproduzirá, revelava a face emblemática do gênio. Sua voz é perfeitamente e assustadoramente a mesma. O cantor que faz as vezes de David Gilmour parece ter nascido com o mesmo DNA nas cordas vocais. As guitarras e seus timbres exatamente como ouvidos há anos no disco estão lá, deixando claro que Roger não renega seu passado com seus companheiros do Pink Floyd. Fica a dúvida de até que ponto o gênio é dono de todas os caminhos percorridos. 

O professor gigante olhando para nós enquanto berramos, em alto e bom som, num vômito de frases impactantes, tais como "Hey, teaches, leave them kids alone", é de repensar sobre a educação que ainda dão aos nossos filhos - não apenas os professores, mas também os pais. Quando Roger canta para a mãe em Mother, e a mãe diz "é claro, mamãe vai te ajudar a construir um muro", nós sabemos que todos nós precisamos de um ninho. As frases são enigmáticas mesmo. Ele diz, bem no começo, em In The Flesh: "Isso não é o que você esperava ver?" e é exatamente o que queríamos ver, lembrando ainda que o um disco você não vê, você ouve, dando a entender a mescla das ideias, tanto no disco quanto no show. O porco sobe sobre o pessoal da pista, e um dizer curioso em português: MUITA FÉ, POUCA LUTA. Os efeitos sonoros te dão a impressão de que há uns dez helicópteros em cima do estádio - MUITO ALTO, alucinante. 

O muro é claramente uma referência ao Muro de Berlin. Quando no efeito de telão, vê-se a cor dos tijolos envelhecidos e pichados. Ou então vira um pano para cenas de filmes. O muro fecha e banda fica atras dele. Roger aparece e se você já havia sido impressionado, impressiona-se novamente. Os bons e velhos palavrões soltados pelos fãs quando Roger toca no muro e um efeito indescritível abre um buraco iluminado. Roger interpreta o show todo, como um ator. Um completo artista, que de quebra escreveu grandes discos com o Pink. E, no fim, nem precisava ter caído o muro. Mas foi necessário. A quebra do muro é um alívio, pois a experiência chega a ser tensa, porque a vontade é de parar o tempo e ficar vendo aquilo por mais umas quatro horas. 

Esse show é uma soma de música e visual. Perfeitamente equilibrados, coesos. Os deuses do rock agradecem a mais uma aparição de um Titã. Só podia ser perfeito.