segunda-feira, 10 de março de 2014

Francisco El Hombre - 09/03/2014 - Quintal do Gordo, Campinas SP.

Se eu pudesse congelar um dia dessa semana maluca pós carnaval que passou, seria aquele lindo momento em que todo mundo parece um só. Nesse momento eu me arrepio ao escrever isso aqui. Abracei o Mateo, sentindo seu suor gelado escorrendo de sua vasta cabeleira, eu eufórico pela cerveja gelada, os amigos por perto, alguns colegas, e me veio o seguinte enquanto eu abraçava esse maravilhoso e cativante garoto de apenas vinte anos: "cara, eu não tenho palavras, vou ter que escrever uma resenha". E foi só isso, não conversamos mais, era tanta gente querendo falar com ele que eu fiquei apenas observando de longe a força e magnitude do poder das cordas vocais, do pé no chão, do violão desligado. Ah, o momento que eu queria congelar? Algo como "hey hey hey hey, shaballacumbá na naha, hey hey hey heey, shaballacumbá". Um mantra, eterno e certeiro, todos um só. 

Francisco El Hombre é o resultado de uma arte que nos enche de orgulho e de esperança. O melhor show que se pode ver. O ritual é completo. Você, na platéia, se sente junto deles, eles te convidam com o olhar. Sebastian, o loiro de barba grossa, olha nos seus olhos, com um sorriso cativante. É irresistível. Os mais céticos (eu, claro, pensando como é que fariam um show com os violões desligados e um guitarrista ligado numa caixa de um falante de oito) caí pra trás ao ouvir, de longe, que o show começou. Eles vêm cantando, como nos tempos de cantiga de roda, como nos tempos de romaria - é quase sagrado. O recinto se cala de uma tal forma enquanto eles se colocam em seus lugares, cumprimentando os presentes com sua música infinita. Então eles contam o tempo no peito, como um cumprimento tribal, e o show começa pra valer. É coisa para guardar na memória pra sempre. O show é perfeito, é sorriso atrás de sorriso. Mateo fala com a platéia com uma propriedade que todo roqueiro deveria ter. Sem medo de errar, sem medo de passar ridículo, a graça estampada na sua breve juventude. Sebastian é lindo, e sua beleza e pureza transcende os limites da caretice. São acompanhados por uma banda que faz jus ao significado do coro - Juliana Strassacapa canta e canta e canta e, porra, canta!. E não seria justo deixar passar despercebido a incrível presença musical de Erin O'connor nos vocais e Andrei Martinez na guitarra. 

Mateo e Sebastian, Francisco El Hombre


Campinas está escassa. Não de arte, jamais! Mas de amor. De respeito. De felicidade. Os irmãos Piracés são de uma simplicidade que me coloca a pensar na minha própria humildade. Sou carregado de um sentimento competitivo que às vezes dói. Estou deixando essa besteira pra trás há bastante tempo e acredito que é um processo que durará pra sempre. O monstro sempre mexe dentro da gente. Ver esses dois sacerdotes da música me enche de felicidade, por saber que Campinas, uma cidade cheia de gente de nariz empinado - imagine os músicos!!! - está se rendendo ao canto da felicidade. E você que entrou aqui e está pensando "porra, o Pompeo pagando pau pros caras"... Largue sua inveja, seja feliz. A música é a maior amiga da felicidade. Deixe o ego de lado e aceite o sucesso dos nobres colegas - só a gente tem a ganhar com isso.

Muito feliz pela noite de ontem. 

FRANK THE MAN!