quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

As 10 maiores bandas da minha vida.

É fim de ano e o povo começa a vomitar as listinhas que deixam alguns artistas bem felizes, outros bem putinhos. Aqui vai a minha, que não tem nada a ver com o fim do ano e com novos artistas. 

Pois agora eu pego o barco rumo ao mar de águas turvas que é falar sobre suas bandas preferidas. Você, caro e não tão raro leitor (as proporções não me iludem, quantidade é algo há muito tempo superado) por muitas vezes se indignará com tais citações, poucas vezes concordará comigo. Talvez isso aqui não saia como eu imaginei. O tempo todo eu imagino as coisas. E já adianto: trata-se de um post longo, talvez eu nem termine hoje ou nessa mesma folha. No fim das contas eu direi quantos dias levei para fazer isso aqui. Num primeiro momento pensei em escrever um livro, mas eu já tenho um e ninguém comprou (não vou cair na contradição da quantidade) o problema é que ficou caro pacas... Talvez eu reconsidere, ia ser bem legal um livro que desse de dez a zero naquela merda que o Zeca Camargo escreveu certa vez sobre suas entrevistas, onde cada capítulo era uma banda. Pensei em fazer assim também. Mas daí lembrei do blog, etc... 

O critério usado foi bem simples: as 10 bandas da minha vida vieram a tona no que diz respeito ao meu nível de conhecimento das tais. Se eu conheço todos os discos e ponto final. Depois pensei nas bandas que eu sei que são impecáveis e que deveriam entrar em qualquer lista que se mereça o respeito. Não quer dizer, em hipótese alguma, que uma é melhor que a outra por causa dos algarismos em que ela se posicionam. Só quer dizer que essas são as 10 bandas que me fazem ter vontade de ter uma banda também. Não estou considerando artistas solos. Banda é aquela coisa de quatro cabeças criando, brigando e tocando. 

Isso aqui não se trata de um concurso literário ou porra alguma. É só mais um post, pois eu realmente gosto de escrever. Vamos lá.





LED ZEPPELIN 

O que eu sei - desde os tempos em que meu pai passava suas bolachas da época em que ele tinha seus 18 anos para nós - é que John Bohan merece o título de melhor baterista do mundo. O nome da banda já remete ao nó na garganta, ao álcool na veia, seu nível de chapadeira carregando um peso de bigorna que voava e pegou fogo. O Zeppelin era perfeito, mas havia seus defeitos. Os caras eram muito loucos! Pra falar a verdade, todo mundo é louco - já diziam os Lucidas em "Até o Fim", nosso último disco. Quando ouço Led Zeppelin, tenho a impressão de que eles estão na minha sala. Robert Plant cantava com as mãos na cintura, sem o menor esforço não é mesmo? Aquelas frases épicas, aqueles gritos e gemidos sem o menor pudor, com a maior cara de pau que só o rock and roll pode proporcionar. John Paul Jones não se intimidava e caía com tudo em cima dos grooves. Recentemente li na Rolling Stones que é dele o riff de Black Dog! Mas eu fico me perguntando se o riff foi criado no baixo ou na guitarra... O que é mais fácil de se tocar, baixo ou guitarra? Não tenho a resposta para isso. De qualquer modo, Paul Jones desempatava no órgão. Daí o time se completava com o produtor da banda, além, é claro, de ser o guitarrista e o fundador. Diz ele que criou a sua banda para ele tocara seus riffs (sério, li na tal Rolling Stone, uma entrevista). Jimmy Page é de uma genialidade que agride. Seus quase dois metros de altura o elevavam a um pedestal de iluminação sonora pra lá de paralela. No mais delicado foda-se, ele passeava pelas seis cordas como se nada importava, como se tudo o que te dizem ser certo ou errado fosse a maior babaquice e cafonice de todos os tempos. Ele é o cara que pegou todo o modismo da guitarra elétrica e jogou num caldo em ebulição. O que se ouve nos discos do Led Zeppelin é de fazer o cérebro tremer, de querer pegar qualquer instrumento e partir para a estrada. A única banda dessa lista que não dá para apontar o pior integrante, os caras eram impressionantes. Sabiam misturar a técnica do peso (o que chamam por aí de "pressão") com as palavras e os riffs (que eram verdadeiros refrões). A ficha caiu pra valer em mim quando vi "Celebration Day", o DVD ao vivo, que meu amigo Guilherme Morais nos trouxe numa noite dos solteiros aqui em casa. Abrimos várias latinhas de cerveja enquanto eu ficava babando - ele apenas fazia aquela expressão de "te falei", com o orgulho explícito no olhar. Ao ver os coroas descendo a porrada no palco, me veio à mente que o Led Zeppelin é uma das melhores bandas do mundo, não só por tudo isso que escrevi, mas por tudo o que ainda não tive como colocar aqui, talvez por ter de desbravar ainda mais essa filosófica maravilha da música desses ingleses. Ah, os ingleses!!!





QUEEN

Como eu disse: Ah, os Ingleses!!! Acho que é o sotaque. Talvez seja o clima. Eu ainda não conheço a Inglaterra, mas tenho a impressão de que aquele lugar vive e transpira refrões. Imagino que em quase toda casa tem um piano e que é de praxe nas festinhas caseiras rolar um som depois do jantar, o povo bêbado de vinho bão, debruçados sobre o sofá, cantando sobre coisas antigas, canções populares, do jeito que eles sabem fazer muito bem. Penso que o inglês é friamente calculado. Talvez seja nesse clima que nasceu o Queen. Tinham a pretensão der ser uma banda que não iriam sair batendo de porta em porta nas gravadoras, mas sim as gravadoras que disputariam a tapas o contrato com eles. Acho que assim foi. Cheios de pompa, um visual estranho até para a época. Eles fizeram os refrões que ecoam na duvidosa história da música mundial. Freddie Mercury é o tipo de cantor que merecia muito bem o título de melhor cantor do mundo. Recentemente vazou na net uma trilha da voz dele cantando alguns clássicos sem a música no fundo. Ele não tinha medo do microfone. Ele era um sem vergonha danado da porra, além de ser um gênio pra lá de impecável. Sua maneira de liderar o palco foi de um jeito que nunca mais vimos. Aquela coisa de fazer um "êêêrô!" e a galera responder. Tem aquela cena do show do Wembley, onde um helicóptero com o logo tipo de A Kind Of Magic circula, filmando a galera correndo de felicidade quando o portão se abre. A arena vai entupindo, lotando, coisa de banda gigante mesmo. Mostra-se atras do palco, Freddie está se alongando no jeitão mais molenga possível, aquele bigode taturana tomando todas as proporções da câmera. Vestido de camisa branca regata, ele pula para dentro do palco, fazendo milhões de pessoas irem ao delírio extremo. Seus delírios, seus berros, seus dentes enormes que quase não cabiam na boca. Então temos Brian May e sua distorção com chorus na introdução de One Man. Mais épico, impossível! Com uma moeda de one dolar , May faz da guitarra coisas que não são possíveis de fazer com uma palheta de verdade. Seu tamanho desengonçado faz parecer que sua Guild vermelha nasceu apenas para ele em suas devidas proporções. Ainda vou provar que foi ele quem ensinou o Iron Maiden a tocar guitarra com aqueles riffs de terças e quintas. Um solo mais lindo que o outro, um wah wah de virar o estômago, de fazer cair de costas. Roger Taylor detonava os tambores de sua Tama. Sempre gostei muito de sua condução no chimbal, muito preciso. Suas viradas quase óbvias serviam o rock and roll numa taça profunda, onde John Deacon se debatia todo com seu preciso contra-baixo, o tipo de baixista que toda banda deve ter, calmo e sereno, dono da mais pura pulsação sonora do magnífico Jazz Bass. O Queen é uma banda de hinos, de fazer amigos se abraçarem ao ouvir We Are The Champions, de cair lágrimas na reprodução de Somebody To Love, de bater palmas em We Will Rock You e Radio Ga Ga, e tudo quanto é música que não tem outra palavra: foda!





THE BEACH BOYS

Mal cheguei aos 31 anos e já me vejo como Didi Mocó contando as mesmas histórias de sempre. No caso dos Beach Boys, acho que já falei o que vou contar inúmeras vezes, mas vamos lá. Fiquei sabendo, não sei quando, que a famosa lista da Rolling Stones gringa (olha as listinhas de novo, e a RS de novo!!! Pablo Myazawa, me chama pra trampar na revista!!!) em que enumeram os melhores álbuns de todos os tempos, Sgt Pepper (Beatles) sempre aparece em primeiro lugar seguido de Pet Sounds (Beach Boys). E eu fiquei com a pulga aqui, quem diabos são esses caras? Fui na extinta CD WAY, uma locadora de CD's aqui em Campinas, onde Thiago Cury trabalhava e formávamos altos papos, pedi o tal do Canções dos Animais e fui pra casa ouvir. Achei estranho em todos os sentidos e devolvi ao Thiago dizendo o seguinte: "Tem que fumar uma vela para entender isso". Só que, por via das dúvidas, gravei o CD (no tempo em que queimadores de CD eram caríssimos) e guardei. Depois fui pra faculdade e conhecia um cara, Ericson Cunha, que manjava de música boa e me disse que os Beach Boys eram do caralho, que Brian Wilson havia lançado um tal de Smile e que eu deveria ouvir. Não sei o que me deu quando topei com o tal do Smile na Saraiva, capa branca, lindo, escrito BRIAN WILSON PRESENTES SMILE, comprei na hora. Cheguei em casa e ouvi. Novamente me veio à mente que eu precisava fumar uma vela para entender o trampo do cara. Mas não era possível! Daí ouvi e ouvi e ouvi até que TCHUM! Bateu! Daí lembrei do Pet Sounds e o revisitei. TCHUM BUM! Bateu! Daí eu corri na CD Way e peguei Smile Smiley e Wild Honey. FLAU! Bateu de novo! Daí eu ouvi tudo deles, e me apaixonei pelos Beach Boys e Brain Wilson. Li tudo o que eu encontrei a respeito deles e comprei DVDs e o caralho. É uma mística sem tamanhos a história de Brian Wilson. Tempos depois me vi novamente na CD Way, papeando com o Thiago, e lá tinha um CD player para ouvir um tiquinho do CD a ser levado pra casa. Uma moça perguntou dos Beach Boys, eu disse imediatamente "ouça Pet Sounds". Ela colocou no aparelho usando fones. Resolveu levar dizendo "é um disco bem romântico". FLOU! Bateu de novo! Mas é claro! Se trata e sempre se tratou do romantismo! O bão e danado do amor. Brian Wilson é um cara que enxerga sua música no ar, como ele mesmo disse. Vê as notas voando em sua frente e as escreve na partitura. Se trata de um loco? Mas é claro que sim!!! Artistas abrem sua mente para um completo de distorcido paradoxo. Seria magnífico, se não enlouquecesse. Duvida? Pesquise a história do fodástico sr. Wilson.





RADIOHEAD

Meu amigo Ramirez tinha (ou tem, eu sei lá... ele vive perdendo as coisas na sua zona) o The Bends, com Fake Plastic Trees, a música do Carlinhos. Aquela capa esquisita do jeito que só o Radiohead consegue ser. Antes mesmo de existir Ok Computer (o álbum que me fisgou de vez). Só que eu não dava a mínima para esse disco e essa banda. Mas eu me lembro que sempre pegava a capa e ficava olhando, olhando... Anos mais tarde fui fazer gastronomia com dois irmão que acabaram virando meus grandes amigos, os Bocchese, e é bem legal quando há gente por perto que ouve coisas que você nunca ouviu: há muito o que aprender. Lucas (um dos irmãos) nos guiava em seu Prisma preto até a cidade de Itu, todos os dias, sempre atrasados. Ele tinha um subwoofer (eu odeio isso, mas a gente estudava a tarde e o grave estúpido que batia no banco traseiro do automóvel ajudava a nos manter acordados depois do almoço) com um som da Sony. Raramente eu levava coisas que eu gostava. Na maioria das vezes eram eles quem levavam tudo. Entre inúmeras coisas que eles ouviam e eu ficava babando, pois os caras têm bom gosto (Rage Agains The Machine, Queens of The Stone Age, Pink Floyd, etc) certo dia eles colocaram o último lançamento do tal Radiohead, que era o In Rainbows. Foi na primeira e eu já virei fã. Simplesmente não acreditava na junção do eletrônico com o Rock And Roll contida em 15 Steps, e a cada música que avançava eu ficava ainda mais surpreso. In Raninbows foi, literalmente, o pote de ouro no fim do arco-íris para mim. A gente ouviu o disco um zilhão de vezes. Depois Lucas me arrumou uma cópia barata do Ok Computer e foi aí que tudo fez o maior sentido. Onde é que eu estava e como foi que vivi sem isso todo esse tempo? Que banda surpreendente! Depois, é claro, cacei tudo dos caras e a coisa só foi melhorando, tirando Pablo Honey, que eu não gostei. E, naquele mesmo ano em que tudo isso aconteceu, o Radiohead resolve vir tocar no Brasil. Nunca vi um show daquele. As luzes, ah meu Deus, as luzes! Os bastões que se iluminavam inteligentemente, acompanhavam cada vibração sonora, as cores vivas e quentes em momentos tensos, as cores frias e leves em momentos delicados e doces, aquele telão na maior resolução de todos os tempos focando a banda e cada pingo de suor, o olhar esquisito e emblemático de cantor nos encarando através da câmera, nos desafiando, com sua voz de anjo. O som daquelas guitarras, algumas vezes robóticas, outras vezes clássicas, mesclando com os racks e periféricos que trouxeram pro palco - o tipo de coisa que nem o Reason eu consigo imaginar como se faz - e cinquenta mil pessoas cantando Creep. Foi o suficiente para saber que o Radiohead acabava de entrar no top 10 da minha vida.





LOS HERMANOS

Tudo que é genial, gera birras. Aqui, no meu caso, os fãs que surgiram das faculdades e o povo mala que teimam em dizer que Camelo e Amarante são as maiores compositores que surgiram nos últimos 15 anos e - o pior - tudo que fizeram depois é parecido ou lembra os Hermanos por se tratar simplesmente de Rock And Roll com notas dissonantes (algo que os Beatles sempre fizeram). Diga-se, de uma vez por todas, que Camelo e Amarante são os melhores compositores conhecidos dos últimos 15 anos. Pois há muito e muitos outros caras por aí, conhecidos ou não. De qualquer modo, os Hermanos inauguraram uma safra de desprendimento econômico da música popular (mesmo que, para tal coisa, eles tiveram que lançar um sucesso estrondoso meramente comercial, temos aí uma perfeita contradição). Hoje gozam do status de celebridades do sub mundo, no mais perfeito estilo "foda-se o que você acha de mim". Camelo lançou dois discos e Amarante acaba de lançar o seu, reforçando cada vez mais que a genialidade dos dois aflora quando estão juntos. O Los Hermanos é do grande caralho. Sou da época em que eles eram uns bostas. Eles vieram numa festa junina aqui do Círculo Militar fazer um show do seu primeiro disco e com um único sucesso - Anna Júlia. Eu não fui, mas alguns chegados foram e voltaram dizendo que LH era uma bosta. Acho que veio daí a teimosia de alguns que realmente não conhecem a banda dizerem que eles são uns bostas (volto a dizer: tudo que é genial gera birras). Daí teve um colega da escola, o Rafael Ploch, que me emprestou o CD deles, dizendo que era bem legal. Ouvi e achei, sim, bem legal. Mas não saiu disso. Nessa época não existia O Bar do Zé, na Unicamp ninguém falava do LH, não havia Orkut e muito menos Facebook. Não existia banda cover dos caras e ninguém, absolutamente ninguém, pedia Los Hermanos numa rodinha de violão. Tenha Dó, Quem Sabe, Pierrot, essas coisas ae... Eu e mais uns 200 caras apenas ouvia isso e achava legal, ok. Foi quando, justamente nesse mar de "ah, beleza, a banda é bacana" que eles apareceram com Todo Carnaval Tem Seu Fim na Mtv, pegando carona no sucesso de Anna Júlia (caso contrário nunca conseguiriam entrar no canal com uma música dessas). Fiquei atordoado no que diz respeito à dúvida. Como é que uma banda que fazia aquele hard core de letras frouxas e melosas (mas até que bacanas) passou a dizer algo do tipo "toda rosa é rosa porque assim ela é chamada, toda bossa é nova e você não liga se é usada"? Corri no camelô para comprar o tal do Bloco do eu Sozinho. É claro que tinha no camelô, pois eles eram bem comercias, lembra? Além do mais, eu não quis arriscar minha grana e comprar um disco que eu não saberia se iria gostar. Napster e essas coisas eram complicadas na época. Corri pra casa e coloquei o tal disco pra ouvir. Quando chegou em A Flor, o mundo virou. Sentado no tapete de casa, sem meus pais por perto, eu entrava em mundos maravilhosos com a audição desse disco sem palavras, sem medidas. Retrato pra Ia Ia só firmou a pilastra da condição de fã. E assim foi. Logo eles soltaram o Ventura, o 4, e eles viraram o que hoje dizem ser a maior banda do país. Concordo, em partes, mas concordo. Eles são incríveis e um show do Los Hermanos, se você, como eu, conhece todas as canções deles, é garantia de felicidade infinita em coisa de duas horas.





OITO MÃOS

Eu poderia estar roubando, matando ou fugindo da minha própria vida, do meu próprio ego. Eu poderia escrever infinitamente sobre essa banda aqui. Mas vamos por partes, pois esta é a minha banda. Num primeiro momento, vamos falar como fã. Sou fã das músicas, antes mesmo de ser minha banda. Vejo Cores nas Coisas e Aliás carregam uma sagaz busca pela história completa da humanidade - o que gostamos de chamar de maior que a vida. Não consigo falar da Oito Mãos sem me incluir na coisa toda. Eu poderia estar me escondendo, metendo o pau em tudo quanto é trabalho sem dar a própria cara pra bater (como fazem muitos, muito, muitos, por aí!). Eu poderia me fechar na minha casa e guardar as minhas canções no meu HD. Eu poderia desistir por conta de tanta briga, tanto rancor e ódio que isso tudo causa. Poderíamos, talvez, nunca ter nascido e ter ido adiante. A vida é perfeita e nunca vou duvidar disso. Acho que somos isso ae porque nos levamos muito a sério, talvez por isso tomamos uns capotes - como um lindo show para ciclistas que fizemos e ninguém deu o menor ouvido à nossa linda canção. A gente sobe no palco e algo negativo acontece, quase sempre. Não sei explicar o quê. Seria a ansiedade? Seria o lema contrário dos 3 mosqueteiros? Cada um por si e o resto que se foda? Confesso que isso ocorre muitas vezes, inúmeras vezes, nos shows. Mas tem momentos - raros, diga-se de passagem - que a banda consegue juntar cada mão em uma coisa só. Daí quem está vendo simplesmente cai de queixo. Poucos entendem, poucos comentam. O povo quer novidade, quer gringo cantando na esquina. O povo quer ver o cover do Los Hermanos cada vez mais. O povo está quase burro. Não que nós sejamos a salvação do rock. Somos nada! Mas nós somos de verdade, nós somos reais. Quando você nos ouve no CD, você pode seguir a mente de cada um de nós, como se nós nos abríssemos num mapa de cada alma envolvida no processo todo. Dá um trabalho do cão criar um disco da Oito Mãos. Daí quando vê a banda na tua frente - é claro, se você estiver ligado e entender - você nunca mais vai esquecer e com certeza entraremos na sua lista de top 10 das bandas da sua vida. Você, fã de internet, faça um esforço e vá nos ver ao vivo. Somos incríveis.






PINK FLOYD

Talvez o som do Floyd se pareça cada vez mais com um sonho. Uma fumaça densa que não vai embora. O lado escuro das coisas, aquilo que a gente sabe que está lá mas não vê. Seria uma ilusão? Pink Floyd, até que se argumente no nível técnico da criação (coisa de artista louco) é puramente simples. Quase todas as canções estão em 4/4, carregadas de um bbm lento. A ponta da montanha na carreira do Floyd é , sem a menor sombra de dúvidas, a santíssima trindade - Dark Side of The Moon, Wish You Where Here e Animals - e o que vem antes e depois são os anjos e toda a humanidade. Embora o conceito impregnado em The Wall seja de avacalhar qualquer tentativa do mesmo nos dias de hoje, pelos artistas de hoje - a começar por mim no meu subestimado SOL. Mais uma vez os Ingleses e a sua capacidade ímpar de encarar as coisas - uma seriedade quase cômica, ou uma comédia quase séria. A música do Floyd não é apenas música, é história lapidada, você pode tocar as densas camadas produzidas pela grandiosa pretensão humana. O vinil era pequeno - ou as canções eram enormes - e suas capas absolutamente sem sentido, me disseram  que a música não deveria ter sentido algum. Ou sei lá, talvez exatamente o contrário. A loucura breve no primeiro disco, vinda de Syd Barrett, o fundador, o cara que não participou da verdadeira farra, apenas viu de longe e eu duvido que deu a mínima - era louco, oras bolas! O tapa buraco David Gilmour - foi dada a ele a função de fazer as guitarras de Syd - rapidamente se mostrou um componente único, uma chave em todo o motor da banda, enquanto a liga de tudo isso chamada Roger Waters resolvia a matemática da música certeira, errando e acertando, assinando a criação das canções. Nos vemos no meio de uma paisagem - a calmaria sombria da música do Floyd. O sorriso tímido de Richard Wright, sempre absurdamente perfeito, na sua característica do acorde certo na hora certa, aquele integrante que pouca gente percebe que está no palco. Toda a desenvoltura da nota certa e do desenho perfeito de Nick Mason.  Uma explosão, eram especialistas! Seus discos começavam no total silêncio e terminavam na explosão cósmica do orgasmo auditivo. Quer dizer, ainda começam e terminam desse jeito, está tudo documentado, na net, nos sebos, nos shows e nas histórias.





GUNS AND ROSES

Foi a primeira banda que me despertou para a condição de fã. Em 1990 eu tinha oito anos. Embora o primeiro disco do Guns seja de 1987 - me lembro parcialmente de Sweet Child O'Mine tocar sem parar nas rádios de todos os lugares em que eu estava presente - foi apenas quando me mudei para o prédio em Niterói que fomos introduzidos ao maravilhoso universo da tietagem. Era o que todo mundo ouvia, toda a molecada do prédio, em especial um querido amigo dessa infância, Paulo Vidal Bussad, que nos levava a seu apartamento e ficávamos ouvindo Appetite For Destruction infinitamente, imitando cada movimento de Axl Rose - eu acabei ficando com o teatro de imitar Slash. Eu lembro que foi uma época muito gostosa. Graças a Deus, eu apenas me lembro das épocas boas da minha vida. As ruins eu tendo a esquecer. De qualquer modo, nós vivíamos o sonho da maior banda do planeta. Alguns falavam do Skid Row, outros do Aerosmith, e outros do Nirvana e do Iron Maiden. Mas eu só queria saber do Guns. Colocava a vitrola no talo e ficava imitando incansavelmente os integrantes dessa banda. A parede do meu quarto era forrada com pôsters da banda. O símbolo das armas envolvidas em rosas eram meu talismã. Eles eram a banda do momento e eu seguia cada passo dos caras - não havia internet. Certa vez alguém jogou fora um monte de revista Bizz com o Guns na capa. Eu já sabia ler e caçava todas as informações (a maioria inútil, como por exemplo a cerveja preferida de Axl). Quando vieram ao Rock In Rio, acho que um simples olhar de meu pai foi o suficiente para me dizer que eu não ia. Não chorei nem fiz birra. Acho que entendi que eu era novo demais pra essas coisas. Poxa, ele poderia ter me levado... Tudo bem. Daí certo dia houve nova correria: O Exterminador do Futuro 2 apareceu no cinema com a trilha de uma música nova do Guns, onde o clipe acabou estreando no Fantástico. Naquele tempo a gente colocava a fita pronta pra gravar no VHS. "Paaaaaai, não vai perder hein! Grava, por favor!". Nunca vou me esquecer dessa cena. Ele vendo outro canal qualquer e eu cuidando da programação do Fantástico da TV do meu quarto. Na hora que anunciaram, eu berrei "vai pai, vai começar!!!". Acho que estragamos aquela fita de tanto que a vimos depois. Ou não, as coisas eram feitas para durar pra sempre. Acho que a perdi. Perceba como o You Tube, ao mesmo tempo que é genial, fez perder a magia de algumas coisas. Em seguida eles lançaram o impressionante Use Your Ullusion, dois discos duplos. Fizeram uma turnê mundial e nada mais importava no mundo, apenas o Guns. Num dos meus aniversários meu pai me deu o Use Your Illusion 2 e o Appetite (a gente gravava tudo dos outros, dava um jeito de piratear, mas pra ganhar um disco mesmo, tinha que ser merecido). Depois dei um jeito de pegar emprestado Use 1 e não sabia dizer qual deles era meu preferido. Os anos se passaram e muita coisa mudou. Fui bombardado de novas emoções, novos refrões, novos timbres de guitarra. Mas até hoje, quando coloco um disco do Guns para ouvir, a sensação é a mesma: que banda incrível!!! Vibro, canto e faço air guitar e air drums para cada virgula de qualquer um dos discos deles (menos o do espaguete, leia um outro texto aqui sobre artistas incríveis e seus piores discos). Assim foi até chegar 1996, quando a Mtv anunciava a resposta britânica para o hard rock americano. Surgia em meus olhos Dont Look Back in Anger, do Oasis.





OASIS

Se o Guns foi a banda da minha infância, o Oasis foi a banda da minha adolescência. E é muito bom aquela sensação de todos odiarem aquilo que você ama, parece que sobra mais pra você, ou dá aquele sentimento "é, todo mundo é burro". É claro que as pessoas não são burras e é bem mais certo de que o burro seja eu. Meu irmão, por exemplo, não suporta ouvir a voz de Liam Gallagher. Era foda-se no talo, no volume 11.  What's The Story Morning Glory foi o primeiro CD (a nova geração de mídia) que tive. Cheguei em casa e coloquei diretamente na música 4. A vida fazia sentido. Eu nem lembrava mais do Guns nesse momento. Esse CD foi comigo pra baixo e pra cima, para todos os lados. Pipocava clipe dos caras - Wonderwall, Don't Look Back, Morning Glory, Champagne Supernova... Consegui - não me lembro como -  VHS do show que eles nunca mais fizeram igual, o There and Them, e conheci canções como Live Forever, Supersonic, Acquiesce, Round Are Away, The Masterplan... Eu sei que eles são uns bostas de músicos... Mas quem não é? Malabarismo, no rock and roll, é muito babaca. Por falar em babaca, a arrogância teatral dos irmãos Gallagher é de foder a parada toda, animal... Sempre animal! E foram eles que fizeram a coisa da música maior que a vida, quando nos doaram ao mundo o impecável Be Here Know, explodindo de vez, ofuscando bandas antigas, seu brilho seco das guitarras Epiphones distorcidas no Marshall, no talo, e os melhores refrões do mundo. Uma banda nascida nos anos 90 lotando estádios na Inglaterra e meu sonho era estar ali no meio. Oasis se define pelos 3 primeiros discos, embora os últimos discos sejam incríveis - diferentes do que os mad fer it chamam de Oasis tradicional, com Bonehead na guitarra, Paul McGuigan no baixo e Alan White na bateria. Mas eu nunca fui de querer parecer um britânico mal encarado ou coisa do tipo. Gosto da música do Oasis, e só. Acho ridículo esses fãs que se acham os próprios caras, que metem o pau e odeiam qualquer outro artista ou trabalho, os famosos haters, e que só sabem tocar Wonderwall no violão. Rs... Isso não foi um recado pra ninguém, mas é a realidade de muitos haters, chatos pra caralho. Converso de igual pra igual com eles, mas não faço parte disso. Falando em haters, muita gente odeia o Oasis. Confesso que entendo o ponto de vista desse povo. É um conceito estabelecido na ponta do iceberg. Do rock clássico dos 3 primeiros discos ao psicodelismo de Dig Out Your Soul, Oasis é uma banda que pra sempre estará nas minhas prateleiras.






THE BEATLES

A coisa é simples: eu sou apaixonado pelos Beatles. É um caso de amor que eu não sei como nasceu e ficou em mim. A maior banda do mundo é tão avassaladora que qualquer discussão sobre essa coisa de maior ou menor morre com a simples menção dos Fab. Contra eles não há argumentos. Você pode até falar do Dylan ou Elvis, mas eles eram solos. The Beatles revolucionou o modo de enxergar e fazer música pop. Eles deixaram os velhos da época enfurecidos com a novidade do yeah yeah yeah. Aqui no Brasil o povo que fazia bossa nova se emputeceu com a avalanche dos queridinhos de Liverpool. Mas, o que fazer? O mundo era um lugar quase virgem para esse tipo de música, a música em si como a conhecemos hoje. Não há como meter o dedo na história e achar falhas - a vida é perfeita. Depois dos Beatles tivemos conhecimento de tudo o que é absoluto no rock and roll. Há inúmeros textos meus sobre os Beatles, há um número infinito de coisas sobre eles espalhado no mundo, a única banda propagada aos quatro cantos do universo. Sei, evidentemente, que há outros tipos de música no mundo. Mas se falando de pop, eles são absolutos. John, George, Ringo e Paul. Liverpool foi um lugar abençoado, um berço reservado para quatro caras se encontrarem. A rota da vida absoluta, o momento exato, as primeiras canções. São inúmeros sucessos que remetem a tempos maravilhosos, não apenas os anos 60, mas os tempos de hoje e de tudo o que a música representa, como da primeira vez que ouvi Shes Leaving Home - chorei sem entender a razão. Ou quando ouvi All You Need is Love - senti o amor que a música proporciona. Ou quando ouvi Hello Godbye - minha alma foi elevada. E, meu Deus, quando ouvi She Loves You- a melhor música do mundo. Não se trata de um clichê, se trata da origem. E tudo isso apenas se confirmou com os shows do Paul aqui no Brasil, um beatle vivo e cheio de energia, apenas UM, derrubando os lugares por onde passou, para aquele povo realmente ligado e que saca das coisas, gente de 12 anos a 60, do colado na grade ao último lá no fundo na arquibancada onde a sua situação financeira pôde comprar, todos cantando e chorando. Me pergunto: o que é essa coisa da Música? Teimo em pensar que é um presente de Deus. Uma benção, a verdadeira benção. A comunicação que quebra barreiras e limites, une gente em comum e põe tantos outros para pensar, debater e muitas vezes brigar. Porque será que a gente defende com unhas e dentes a banda da nossa vida? Nossa vida é moldada pelos refrões, pelos acodes, pela métrica, pela mensagem. Nós temos a capacidade de amar aquilo que esses meros seres humanos conseguem criar. Vejo, na criação da música, o toque mágico que todos nós tanto procuramos no dia a dia e nos deixamos cegar pelo consumo. Nós criamos a ponto de achar, por muitas vezes, que da criação virá a nossa chance do consumo. Será mesmo que precisamos de muito mais do que a Terra e o ser humano pode nos dar? A arte é um brinde, uma eterna felicidade. E, fazer o que, esses artistas geniais ficam ricos, eu sei! É uma contradição e o mundo está cheio de contradições, inclusive os artistas que tanto amamos. Perceba o quanto eu usei a palavra amor. É disso que se trata. É disso que sempre se tratará. Com grana ou não. Os verdadeiros artistas fazem, criam, produzem, por amor. E é disso que nós precisamos.


Que seu ano de 2014 seja muito legal. Sim, legal, porque maravilhoso nós nunca saberemos. A vida é recheada de prós e contras e ultimamente ouço muito falar de equilíbrio. Que teus erros te façam crescer. Que teus acertos te façam uma pessoa centrada. Nunca deixe achar que o jogo já está ganho. No Natal e no Ano-Novo - ouça muita música! E nunca deixe de visitar as bandas e artistas que fizeram e fazem a sua vida. Pois é disso que se trata, A VIDA, e não apenas de um aninho qualquer que passou.

Paz.




sexta-feira, 22 de novembro de 2013

DA SAUDADE - GUILHERME MORAIS.



Da primeira vez, gravamos "Delírio e Destruição". Guilherme deveria estar mais confortável com a vida, criando canções que se tocam perfeitamente sentado num banquinho e uma cervejinha ao lado enquanto se perdia no movimento das flores, do mar, da dança e da beleza feminina. É um colega meu da época do ensino médio, mas que só foi se tornar amigo de verdade depois que fui morar próximo de sua residência.

Sousas e Joaquim Egídio. Guile no primeiro, eu no segundo, uma pequena estrada nos separa. "Cola ae", diz num telefonema e rapidamente estamos juntos falando merda e, às vezes, bem às vezes, criando canções. Geralmente ele pega no violão e faz malabarismos com seus estudos técnicos, enquanto eu fico olhando e viajando no que sempre me parece não ter o menor sentido. Daí ele diz "cara, está na hora de fazer um disco novo, algo diferente do que fiz no Delírio, e você vai produzir novamente". 

Produzir o Guilherme é fácil. Além de ser um compositor foda, ele confia em mim. A confiança é a base de toda produção musical. No fim das contas, você ter o culhão de falar pro artista "cara, isso não está certo" é tão intenso quanto ouvir do artista um "não, acho que esse caminho que você está propondo está ruim". Conosco veio Leo Costa, um dos maiores músicos que conheço, nos ajudando a interpretar cada detalhe (muitos) da música de Guilherme. 

Mas antes, uma coisa. Toda a história por trás da verdade musical é prensada sem a menor mentira na fita (ou HD, como queira). A atmosfera é viva e a música vibra em cada canto do espaço em que se está. É por isso que muitos estúdios de renome geram sempre a mesma coisa - o espaço usado é quase como um pré-set para nada dar errado. Na minha filosofia, erro é subjetivo e é só um detalhe. 

Guilherme mora numa espécie de condomínio semi fechado em Sousas, a caminho do São Conrado. Ao lado de sua casa está a casa que seu avô construiu. Uma charmosa construção dos anos 70, com árvores em frente, numa rua sem saída. Uma casa cheia de vida e história, tempos que ajudam a moldar o universo interno de cada um de nós. Lembro quando, não sei porque, estávamos falando da morte e ele mencionou que o avô estava na UTI. Partiu, como deve ser feito nesse mundo carnal e material. Disse que chorou, pensando "porra, meu avô morreu". Foi bem na época em que realmente achei que ia perder meu pai e que já estava me preparando para tal coisa. Só que meu pai não se foi. Apenas um estalo, um momento, uma nova chance para eu tratá-lo devidamente como o meu PAI. Guilherme disse, também, que se espantava com a roda da vida, em momentos em que ele se via ensinando ao pai coisas que o velho não sabia, e o mesmo baixando a cabeça e reconhecendo tal erro. 



Somos pó de estrelas. Somos porra nenhuma. Apenas pai e filho. Mulheres não entendem muito bem a dureza que é a aceitação do amor entre dois homens, mesmo sendo pai e filho. O pai sempre é durão, quer que o filho seja um guerreiro. O filho sempre quer ser como o pai, mas em momentos estranhos que a vida proporciona sempre acaba querendo tomar as rédias da razão. Então fiquei imaginando a relação do pai do Guilherme com o seu avô. O construtor da casa tinha o hábito de se trancar no último quarto da casa. Certo dia ele não saiu. Sua mulher - obviamente vó do Guilherme - ouviu um gemido característico e pensou "ele está enfartando". Chamou a família. O filho do construtor foi lá e arrombou a porta. O velho estava estirado no chão. E o fim, dias depois, foi o começo de uma nova história. 

Guilherme queria que seu novo disco tivesse um ar real. Queria que fosse, além de tudo, ao vivo, com overdubs apenas para as vozes. Fui conhecer a tal casa e nos encaixamos perfeitamente na cozinha, sala de jantar e no corredor. Os ecos pairavam sobre o fone, como se a casa respirasse. Eu sentia algo de diferente e o tempo todo eu pensava "o velho está aqui, curtindo". A casa estava para vender, então nos apressamos para usar toda aquela ambiência de casa vazia de material, mas cheia de história. No quarto em que o velho enfartou nós fizemos a Câmara de Eco - joguei um sinal da voz do Guilherme via Direct Box para uma caixa amplificada da Antera e microfonei o sinal que dali saía. Depois tudo foi editado no computador. Em "Arranha Céu", temos um microfone no corredor especialmente para pegar a reverberação do bateria. 

Da Saudade é o disco que marca o fim de uma infância com a morte do vô. Todo o ódio que a morte carrega está nos berros de um cantor surpreendente, sem medo, sem pau mole. A leveza do amor entre pai e filho, vô e vó, mãe, irmãos e amigos. Estávamos ali, naquela casa, e há quem diga que o som não vazava e não incomodava. É o tipo de coisa que ninguém entende, apenas a fita. 

Uma semana depois que decretamos o trabalho encerrado, a casa foi vendida. 

DA SAUDADE. 2013. Mais uma produção que tive o imenso prazer de participar. Que venham os futuros! 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

BRAVO - sei lá que dia é.

Acho que se passaram umas 3 sessões de gravações desde o último post sobre meu novo disco. De lá pra cá, o europeu Luis Alcaide foi gozar férias no antigo mundo, praias portuguesas e paella de todos os tipos com todos os arrozes e ervas. Voltou novo que só. Eu também tirei minhas férias quase frustradas de agosto, quase porque o chalé que aluguei em Ubatuba não oferecia a menor segurança. Além do mais, algumas baratas nos visitaram durante o dia e a noite. Mas como estamos numa nova onda de comer menos carne e salvar os animais, me recusei a matar as pobrezinhas e aceitei em conviver com elas. Nesse tempo de viagem (também rolou 2 dias em Minas Gerais) levei meu violão e iniciei algumas coisas bem interessantes, a ponto de já pensar no próximo disco - já tenho nome e tal e tal... mas vou segurar essa informação. Só posso dizer que será menos pretensioso e mais caseiro (ou não, eu prefiro ser uma metamorfose ambulante). 

Há uma canção em Bravo - "O Dia de Minha Morte" - na qual eu queria usar minha guitarra Gabriel Semi Acústica. A tal guitarra está no luthier, mas não a terei tão brevemente. Então preferi criar um arranjo de teclados e controladores e, pela primeira vez na vida, uma canção minha não terá guitarra elétrica. Acho que usamos umas 2 horas pra criar e executar esses Pad's. Depois colocamos camadas e camadas de vozes no final da canção (é uma faixa longa).

Nos dias seguintes mergulhamos na árdua tarefa de gravar as vozes,  foi aí que tudo pareceu ser cada vez mais difícil. Eu não sei se andei compondo em tons que não são meus, ou não sei se esse papo de tom é para ser levado muito a sério... Em Bravo eu vou do mas baixo tom - onde é sempre uma tortura ter que afinar e cantar bem tão baixo - ao mais gritado berro - ambos os picos de variações aparecem pouco. Na verdade, Bravo é um disco tímido e calculado para não ser excessivo. Procurei não repetir algumas fórmulas de Esperanto e Sol, mas em alguns momentos isso é inevitável, pois se trata do mesmo artista tocado, cantando e compondo nos três discos: eu.

Em Bravo há momentos extremamente pop, coisa que há tempos deixei de tentar evitar, isso é meu e está impregnado no meu sangue. Esses dias estive reouvindo alguns discos dos Paralamas e não me lembrava do quanto sou influenciado pelo Hebert.

Mas, voltando ao assunto das vozes, cantar é o resultado da repetição. Talvez (talvez) cantar bem seja não se render aos inúmeros takes até que a pessoa que esteja te guiando dizer "agora sim". Ouvir sua própria voz passando por um microfone condensador que chega ao pré-amplificador valvulado e volta aos seus ouvidos pode ser uma armadilha. Teu instinto, ao se ouvir nos fones, diz que você está super afinado. Ao tirar os fones e ir para a técnica, você percebe que o take foi sem vida, sem ousadia e, para tua completa surpresa, desafinado. Inicia-se uma quase eterna busca pela perfeição, e se tratando de gravação digital, isso quer dizer que você pode tentar quantas vezes quiser, com o detalhe de que a hora do estúdio é paga e esse tempo não pára. Aos poucos a gente vai usando "técnicas da perfeição" - dobra uníssona de vozes, colocar as vozes em seus devidos lugares e, por fim, "molhá-las" com reverbs, delays, e o que mais tua imaginação permitir. No fim das contas, percebemos que teremos que passar o melodyne em minhas vozes. Não vejo o menor problema com isso, com a úncia condição do que eu estou fazendo aqui e agora: assumindo tal coisa. As pessoas têm mania de dizer que isso não foi feito em seu disco. Grandes produções usam essa ferramenta. O que também gosto de dizer é que esse papo que o Rick Bonadio diz de que "hoje qualquer um pode cantar, a ferramenta vai lá e corrige" é a maior mentira. A ferramenta funciona para quem já sabe cantar. São finais de frases, notas seguradas por muito tempo, canções muito difíceis de cantar. Eu sei cantar, mas o padrão de hoje nos faz usar tal ferramenta para deixar tudo mais limpo e mais sonoramente aceitável.

A verdade é essa. Oito Mãos NÃO usou melodyne no Aliás, apenas em Vejo Cores nas Coisas. Eu usei melodyne em Esperanto, mas NÃO em Sol. Não me pergunte porque. São coisas da vida, do momento. Talvez eu tenha feito canções para outras pessoas cantarem em Bravo. Eu nunca saberei. Ontem terminamos as vozes e o Luis me disponibilizou as tracks para eu analisar se vou querer refazer algo. Chega a doer ouvir a própria voz num material tão bruto, do jeito que ela realmente é, sem efeito, sem tratamento, a ponto de você perceber suas cordas vocais imperfeitas.

Música é um eterno enigma. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Minhas piores contribuições (pegando carona no post passado)

Pegando uma carona no post de artistas geniais e seus piores discos, me lembrei de que tenho coisas que considero pior do que ando produzindo nos últimos três anos. Não que eu me considere genial (mas, afinal, se eu não me considerar, quem vai?). A seguir, duas canções de coisas que eu fazia numa época em que facebook não existia nem na imaginação dos criadores de filmes de Hollywood.

Variações do Amor nasceu numa madrugada careta, bem careta. Na casa dos meus pais, usei o meu pc e seu microfone e gravei uma demo. Me tranquei na sala enquanto meus pais dormiam tranquilamente e gravei. Tempos bons aqueles. O Lucidas havia acabado de vez e eu estava começando a trabalhar com Oito Mãos. Quando eles gravaram "História de Outra Vez" e "Guarde a Última Dança" no estúdio Basement, por Caio Ribeiro e Tarcisio Oliveira, eu aproveitei a carona e gravei essa canção, juntamente de "O Nosso Amor". 




O Nosso Amor

A veia pop, que ainda se mantém viva em mim, nessa época era ainda mais presente. As experimentações ficavam por conta das vozes - se bem que, pensando aqui, as coisas aí já começaram a ficar ousadas. Eu havia descoberto Brian Wilson e os Beach Boys e tudo o que eu queria fazer na vida era ser o Brian. Caio Ribeiro até hoje me chama de "Brain Wilson de Campinas". E houve um conflito na minha mente entre Beatles e Beach Boys, algo bem resolvido nos tempos de hoje. O gozado é que eu penso nessa época e o tempo é muito estranho. Parece que foi ontem, esse dias... 

O Nosso Amor eu não me lembro muito bem quando foi que fiz nem em quais circunstâncias. O que posso dizer é que faz parte da leva de incríveis canções que fiz para a minha mulher Silvia Maria, todas devidamente engavetadas, esperando o dia certo para serem gravadas devidamente e publicadas de qualquer jeito (do jeito que sempre fiz). 



Variações do Amor

Eu considero essas duas faixas como um EP, pois são de uma data que nada mais fiz e mudei algumas coisas no meu modo de compor de lá pra cá. O que me incomoda nessas duas faixas é justamente a falta de maturidade. Tem muita coisa! Eu não canto bem - meus vibratos são exagerados, em finais de todas as frases lá vem ele, e mal feito! Eu coloquei muita camada de vozes, louco por soar como os Beach Boys. Na bateria está o meu irmão, o Ítalo Antonucci, e também penso que eu não soube conduzi-lo - há muitas viradas, há muitos hi-hats, é pop demais. E é muito melada! Nossa, açucarada demais! O amor é lindo, mas deve ser entoado com um certo cinismo, não tão atolado na palavra amor. Nas duas canções, aparece essa palavra. Também não sei da onde veio a ideia ridícula de colocar All Arround the World e Hey Jude no meio disso tudo. Muito menos sei da onde veio a pífia ideia de colocar uma pausa de 3 minutos no meio de uma canção. 

Mas, de qualquer modo, foi bom ter feito essas canções. Tem gente que até hoje fala delas. É como dizem por aí, ou por aqui, eu sei lá mais como é que andam as coisas: Pra meter o pau, tem que ter algo para meterem também. 




domingo, 15 de setembro de 2013

Bandas incríveis e seus piores discos.


Toda banda genial - e, se tratando de genial, tem aí no mínimo uns 6 discos na carreira - tem seu pior disco. Quando me perguntam qual é o meu disco preferido de uma das minhas bandas preferidas, eu sempre respondo que não sei, que é mais fácil responder qual eu menos gosto. Confesso que depois que entrou na minha cabeça, de uma vez por todas, que a questão do gosto é algo tão pessoal e subjetivo quanto o próprio cu, ficou difícil escrever sobre essas coisas. Quando questionei Pablo Myiazawa sobre as críticas de discos na revista Rolling Stones, ele meio que respondeu que isso não era algo muito levado à sério pelos editores e que não deveria ser levado a sério por nós e pelos artistas e pelos seus fãs - é apenas um guia! OU SEJA, não leve isso aqui a sério. MAS, se por ventura você se ofender com algo que eu disser aqui, meu mais sincero foda-se!


OASIS - Heathen Chemistry. 


A tradição é uma coisa a ser levada muito a séria por alguns fãs. Carlos Miranda - produtor de discos no Brasil - disse que o pior inimigo do arista é o fã, que sempre espera a mesma fórmula, para se alegrar naquilo que o agraciou. Mas o artista não pode se prender em sua fórmula e deve sempre tentar ousar. Esse quinto disco da banda inglesa veio de uma série de experimentações - Standing on The Shoulder of Giants trazia moogs e outras coisas malucas e já anunciava que o Oasis estava cagando e andando para o seu passado perfeito - os 3 primeiros discos. Heathen Chemistry mostra um Oasis iniciando o seu fim - embora eles voltariam com mais dois discos fortes. A banda não soa como sempre soou, eles parecem calmos demais. Embora há canções lindas - estamos falando de artistas geniais - Heathen Chemistry tem uma atmosfera fria e preguiçosa. 


THE BEATLES - Beatles for Sale.


É aqui que entra todo o sentido desse post. É impossível dizer o melhor disco do seu artista preferido, sendo muito mais fácil dizer aquele que você menos gosta. Embora eu ame o For Sale por conter No Reply, I'll Follow the Sun e Eight Days a Week e por se tratar dos Beatles é claro, For Sale é apressado. Não há uma lembrança que faz o coração bater. O próprio nome diz que é um disco para ser vendido e ponto. A audição desse exemplar é breve, arranjos subestimados, uma encomenda da gravadora para o natal de 1964. Os grandes executivos exigiram demais de toda a equipe fenomenal que trabalhava com os fab. Em resumo, sua capa é mais bonita que seu conteúdo. 

DAVE MATTHEWS BAND - Everyday. 


O mais legal dessa banda liderada por esse sul-africano era a soma das melodias tocantes com o groove pesado e quebrado da cozinha orientada por Carter Beauford na bateria. No disco anterior de inéditas, Before These Crowded Streets, eles quebraram o tempo musical, deram porrada no peso do rock and roll, fizeram referência à música africana, gozavam da liberdade desneurótica do próprio descobrimento, sem limites, com possibilidades surgindo em todos os horizontes. Quando chegamos em Everyday, eles optaram por fazer música pop para tocar na rádio. E foi aí que eles vieram parar no Brasil, foi aí que muita gente que ouve pagode passou a postar no facebook canções da banda, foi aí que eles ativaram o meu compressor preconceituoso com coisas feitas para se vender, foi aí que essa banda ficou uma merda e eu parei de ouvi-los. Embora há sangue real da minha família que encare essa banda como eu encaro os Beatles, simplesmente não consigo mais achar a Dave Matthews pós Everyday tão efervescente quanto na época de Before e seus antecessores. 


COLDPLAY - Mylo Xyloto



Vai tomar no cu. Esse disco é uma merda. É uma decepção. Ouvi apenas UMA vez e não tive a menor vontade de fazê-lo de novo. Não por preguiça. Não por desinteresse ou por qualquer outra coisa mais negativa do que o início dessa resenha nada jornalística. Mas o que houve? Vontade de chegar no Chris Martin e perguntar onde foi parar aquela banda de rock and roll tão crua e ao mesmo tempo gigante. Não consigo acreditar que é a mesma banda de Parachutes e A Rush of Blood to The Read. Não consigo aceitar que se trata de uma banda que produziu clássicos. Deve ser cruel ter sua arte tão acessada numa grande exibição, ficar famoso e fazer uma cagada dessas. Não é possível que uma banda com tão bom gosto achar que esse disco, o Xixi xyloto, merecia ter o nome do Coldplay vinculado. Se um dia eu ouvir eles falarem "mas essa disco é foda", acho que darei minha gargalhada mais gostosa. Uma grande pena. Coldplay, gênios da porra. Mas esse disco é uma merda. 

LOS HERMANOS - Los Hermanos. 


Só poderia ser o primeiro disco do quarteto carioca ser o pior deles, porque o que veio depois até hoje soa como único e insuperável. Los Hermanos é uma banda que deveria ser referência para todas as outras bandas. Uma grande surpresa, numa época em que diziam "não fazem mais música como antigamente", que é o que andam dizendo hoje. Só que hoje se faz sim, é que o povo não conhece. Na época do LH se fazia também. Eles pegaram o trem certo e foram pro lugar certo. Ainda bem! A música boa como antigamente sempre existiu, pois antigamente não existe. Los Hermanos 1 - vamos chamá-lo assim? - é dos tempos de hoje e dos tempos de amanhã, assim como tudo que foi citado aqui. O problema do UM é que ele soa redundante. A pegada hard core que os caras amavam somada com a doçura corna e a tristeza amorosa nas letras de Marcelo Camelo e de um tímido Rodrigo Amarante fazem de UM ser uma coisa meio mala. Além do mais os timbres são muito iguais e , desculpe a redundância, redundantes. Anna Júlia e Primavera se destacaram como bonitinhas e todo o Brasil sabe cantar e sorrir diante das duas. O restante virou hino nos encontros casuais dos loucos por Los Hermanos. 


PINK FLOYD - Ummagumma. 


Essa sim é uma banda que nunca teve medo. Erraram? Foda-se, toca pra próxima. E toda vez que acertaram, o fizeram com todos os êxitos possíveis e impossíveis. Mas todo gênio tem sua errada na mão. Tirando a capa, Ummagumma é demais para a minha cabeça. São tantas camadas que eu me perdi no colchão. Não entendeu? Pois é isso mesmo... O experimentalismo do Floyd funcionava quando havia compreensão, um refrão, uma linha... Em Ummagumma tudo o que temos são xadrezes, espirais, retalhos, vapores, raios amarelos, egos entrelaçados numa dança dos ventos de baixo. Uma puta duma viagem longa que não chegou a lugar algum. 


RADIOHEAD- Pablo Honey


Creep, pra não dizer que é a canção mais tocante e mais linda do Radiohead, não consegue ser suficiente para fazer de Pablo Honey um clássico. Embora tenha apresentado a banda ao mundo, eles viriam com coisas mais precisas e indispensáveis posteriormente. Tecnicamente, o disco é mal feito. Diferente do Oasis, onde a falta da técnica no início que dava toda a graça, o Radiohead precisava encontrar o seu som, o seu drive e os volumes das coisas todas. Mais uma banda divisora de águas. Mas a impressão que se dá com esse disco é que eles ainda não sabiam exatamente do que eram capazes. Algo completamente normal. A partir de The Bends, eles mudaram nossas vidas. 

MICHAEL JACKSON - Invincible



É muito triste ver o maior artista de todos os tempos se despedir do mundo com um disco tão indiferente. Michael, nesse momento, era dono do próprio nariz, dos próprios horizontes e fazia exatamente o que quisesse da vida e de seus discos. Invencible é tão inesquecível quanto a Terra do Nunca ou os papos furados sobre abuso de crianças. O disco até abre animalescamente, com um riff groovado de tirar o folego e uma voz que corta a mente de qualquer um, mas daí entra, de novo, um rapper. E o decorrer do dele não nos deixa perdoar o tal rapper. Invencible é uma obra que parece ter sido feita sem a menor vontade e comprometimento. Que pena! 

GUNS AND ROSES - The Spaghetti Incident?


Por fim nessa lista sem o menor fundamento, eis o disco que me inspirou a escrever esse post (sem fundamento, eu já disse). Coloquei ele para ouvir novamente no som do meu carro, pensando "é, eu cresci um pouco, amadureci, vamos ver se mudo a opinião sobre ele". A tristeza nesse enlatado é justamente que se trata do Guns de Use Your Illusion. Produzido por Mike Clink, o gênio por traz da mesa de som de todos os discos do Guns, The Spaghetti Incident não empolga em nada. É a prova viva de que não adianta tocar muito. Slash não lembra em nada o cara dos deliciosos solos e riffs dos discos passados. Clink não se mantém presente (a não ser nos timbres de bateria de Matt Sorum, sempre fodas pra caralho, com o reverb na medida). Erraram toneladas em deixar Duff McKagan cantar tanto. E, por fim, Axl... Anos depois veríamos o seu retorno. Que cara estranho! Ele era a representação do que toda mulher queria levar pra cama e do que todo garotão queria ser para levar essa mulher pra cama. Mas isso não se trata de música nem do disco acima. Que raios acontece com esses caras? Desde o nome, da capa, de toda a esquisitice presente nesse disco, depois de um épico álbum duplo vendido separadamente, eles resolvem gravar cações punks antigas de artistas consagrados. Até hoje não entendo a razão disso tudo. Ficou ó, uma merda!



terça-feira, 23 de julho de 2013

Eu acredito no Super Homem.





Lois Lane escreveu seus artigos sobre o homem de aço em inúmeros filmes e quadrinhos desse universo que abriga Clark Kent. Artigos parecidos com esse aqui. Mas isso não é uma resenha sobre o filme. É sobre a vida.

Eu não venho de uma linhagem lógica de pensamento que me limita no mundo ao meu redor. Algumas crenças dizem que seres de outros planetas são espíritos em constante evolução. Há uma passagem no livro "O Restaurante no Fim do Universo", de Douglas Adams, no qual diz que há uma civilização em tal planeta  florestal de tal galáxia, em que todos eles, seres minúsculos, vivem dentro de uma árvore. Criaram suas próprias crenças sobre o que há ao redor deles além dessa árvore e que eles costumam reprimir as pessoas que questionam se há gente morando nas outras árvores. Diz, também, no decorrer da história, que há uma máquina em que os traidores são levados para morrer imediatamente. Dentro dessa máquina a pessoa é exposta ao máximo do máximo do universo e suas galáxias, mostrando num ponto microscópico dentro de outro ponto microscópico com os dizeres "você está aqui". Qualquer semelhança aos papo de boteco e cia não é mera coincidência.

Kal-El é o sobrevivente de um planeta que sucumbiu diante da própria evolução, diante da própria ignorância do ser obscurecida pela suprema inteligência. Seu pai, Jor-El, o cientista mais brilhante que esse planeta teve e, consequentemente, um dos melhores do universo, percebe a cagada e tenta convencer os dirigentes desse planeta. Num acesso de interesse pessoal, Jor-El manda seu filho nascido de parto normal ao planeta que a internet de Kripton rastreia como sendo saudável para o crescimento do bebê. Na sua cola vem o vilão que segue também seus interesses pessoais, e não podemos julgá-lo por isso: O general Zod queria manter a sua raça pura. Jor-El queria dar esperança à bondade e à ética que ainda parece existir nos seres menos apegados às glórias pessoais. O planeta sofre um colapso devido à total exploração de recursos naturais e explode. Kal-El e Zod sobrevivem.

O Homem de Aço é um filme reflexo de nossa humanidade. Existe bondade dentro das pessoas? As cenas que seguem são de extrema competência. Mais uma vez o fabuloso escritor de roteiros Cristopher Nolan arranca de vez a breguice coloria e os sorrisos bondosos que há embutido no sonho americano e nos apresenta os demônios que existem em cada esquina das nossas vidas. Clark Kent, um garoto que sofre para entender a razão de ser tão diferente dos outros, é bombardeado com o preconceito humano. As pessoas não gostam das coisas que lhe metem interrogações sem respostas. Seu pai adotivo, Jonathan Kent, lhe passa os verdadeiros valores de uma vida comum, onde alguns milagres devem ser mantidos em segredos e que eles - os milagres - na hora certa, serão libertos.

Esse novo filme é uma quase nova versão de Super Homem 2 - 1980, onde mostra a fúria de general Zod em busca da linhagem contida no jovem Kal-El. Os irmãos Wachowski ensinaram aos produtores de filmes de ação como se faz uma boa cena de porrada. Uma não, várias. E, no fim das contas, parece piegas: mas Kal-El, em meio a questão de Terra x Kripton, resolve optar, num ato de fé, pelo lado da Terra. Ainda há tempo de matar a corrupção. Ainda dá tempo de ensinar à sociedade como viver para a Terra. Kal-El é perfeito! Da cabeça aos pés. Controla sua raiva cutucada. É um ótimo filho, um ótimo cidadão. Vê, através do seu poder, a mudança necessária para o mundo. Mas mantem-se no anonimato até o momento chave da coisa toda. Não se deixa corromper, sabe da responsabilidade que carrega nas veias por se tratar de um super homem. Homem esse que nos deixa a questão: seria possível?

A Terra é indescritivelmente gigantesca. Coisas como cosmos, histórias, espíritos, mundos e mundos, me faz crer que pode sim haver algo do tipo por aí. Você consegue viver acreditando que há apenas gente com disposição de colocar uma magnum 45 no bolso e atacar uma escola primária em pleno funcionamento? Acredita num mundo em que homens estupram mulheres por puro delírio e distúrbio mental? Acha mesmo que aqui é o inferno, onde gente consegue chutar o estômago de um cachorro indefeso apenas para se divertir?

Eu prefiro acreditar na utopia da esperança. Em Kripton, o S que estampa a roupa intergalática do Homem de Aço quer dizer esperança. Essa que nem chega ser a última a morrer, mas a que renasce. A escuridão nos assola, parece que viemos ao mundo para sofrer. Até mesmo o super homem sofre. A cena de seu pai adotivo desencarnando é de uma tal comoção que nos surpreende pelo ensinamento da confiança. Confiança que pode ser abalada pelos mais terríveis pesadelos e medos da nossa jornada sem fim. A Terra teria um fim?

De todo modo - ou qualquer modo - eu acredito nas histórias que os homens escrevem, sejam em livros ou filmes. Personagens são tão reais que, em alguns casos, tomam seu próprio rumo. Eu creio na dimensão da mente capaz de escrever tais romances. Eu creio que há algo inexplicável por aí, adquirindo confiança total para ser apresentado ao mundo. Um dia a vida não será como é hoje. A tecnologia cegará os mais crentes. A filosofia abrirá os poros das percepções dos mais otimistas na razão. Coisas como política, dinheiro, sexo, chapadeira, a merda toda, um dia deixará de fazer sentido. Nessa hora, os verdadeiros super-homens nos orientarão, nos ensinarão quais são os verdadeiros valores da humanidade, nem que pra isso seja necessário um poder absoluto que virá sabe-se lá de onde.

Há esperança. 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Felippe Pompeo lança "Júlia na Terra da Imaginação".




Felippe (vulgo Pompeo) assina seu livro como Antonucci. "Acho que apenas para diferenciar meu trabalho musical do literário. Na verdade eu acho que sempre fui um escritor, só que as vezes eu uso a música para deixar meus textos mais atraentes". Antonucci, por assim dizer, ainda mora em Joaquim Egídio e tem um novo cachorro, desde a última vez que a equipe do Blocos de Cimento esteve presente em sua casa para falar sobre o lançamento do disco do Oito Mãos, "Aliás". Raúl late desesperadamente por dez minutos. Depois senta-se ao sol, observado pelo dono. "Ele apareceu aqui e resolveu ficar". 

Eu li o livro. De onde foi que tirou tal criatividade?

Não faço a menor ideia. Júlia nasceu do nada. Uma vez eu sentei no computador e escrevi a frase "Júlia acordou de repente, sentindo suor em seu corpo". E por aí foi. Há anos eu tento escrever histórias originais. Mas, como na música, no começo você é um fracasso. Fiz meu pai comprar uma máquina de escrever para redigitar uma história policial que se chamava "O Maníaco da Rosa". Era uma merda, evidentemente. Lembro que usei nome de gente ao meu redor, o povo todo da igreja que eu frequentava. Não sei onde isso foi parar. Outra vez eu escrevi uma história do Super Homem, chamei de "A Profecia". Piegas até a última gota. Eu sempre tive dificuldade em saber executar os clichês, porque eles são inevitáveis. Tudo o que temos de histórias fantásticas nos fornece um caldeirão. Cada um faz a sua sopa.

A criatividade cara... Você é extremamente criativo.

(Risos, muitos risos). Mostrei um tiquinho do meu novo disco, o Bravo, para o Elthon Dias, grande amigo meu. Ele ouviu a faixa título e falava com uma sinceridade fora do comum: "Felipão, você é muito louco". Daí quando acabou, ele ficou sem palavras. Colocou-se de pé e bateu palmas pra mim. Eu realmente não sei de onde vem. A única coisa que eu sei é que eu não limito minha mente, eu não me fecho para o mundo real, o mundo da ida e vinda, da grana, do sustento. Eu me apego demais em minhas viagens. Tudo o que eu sempre quis ser e nunca consegui, eu sempre senti isso. Quando a gente começa a pensar, por exemplo: "e se eu ganhasse na loteria? Usaria roupas fodas, um carrão, uma guitarra Gibson..." Daí, nesse momento em que você pensa nisso, a imaginação é tão forte que você praticamente veste essa roupa, usa esse carro e tem essa guitarra. Quantas vezes eu subi num palco para 10 mil pessoas dentro do meu chuveiro? Quantas vezes eu me vi passando na MTv? Quantas vezes eu me vi num vale onde com um aceno de mãos, árvores e nuvens apareciam do nada? Não sou eu que sou criativo, são as pessoas que se limitam ao "real". 

Mas você tem que assumir que não é todo mundo que consegue fazer tais coisas... Cantar, tocar, escrever... 

Eu não pedi para ter nenhum desses dons. Eu administro uma loja de material de limpeza, não tiro meu sustento de meus dons. Eles me fazem sentir vivo, apenas isso. Certas pessoas tem facilidade com números, com Aristóteles, com bisturis, com vendas. Eu nasci para a arte. Nasci para fazer do meu mundo um lugar muito mais interessante do que a Terra. Na medida do possível eu compartilho esse mundo. O que cabe em 200 páginas de um livro não é nem unha do que há em minha mente. O tempo todo sou bombardeado com questões de todos os tipos, mas não consigo passar para as pessoas, mesmo porque eu sou o chato do facebook. Essa coisa de "meu mundo"... No meu mundo Paul McCartney é o melhor. E dentro de cada um existe um universo, onde o limite de um acaba onde começa o do outro. 

Me espanta muito o fato de você, um cara durão aparentemente, escrever para crianças.

Eu não escrevo para crianças. Escrevo para o ser humano. Quando você cresce, não sei o que acontece que a gente deixa de correr, de brincar, de sorrir de qualquer coisa. As crianças são protegidas pela inocência. Feliz é o moleque e a menina que tem seus pais para garantir tal isolamento do mundo real. Ao mesmo tempo que as coisas que acontecem numa escola forma todo cidadão. Desde cedo, viver é foda. Há verdadeiros demônios dentro de uma carapuça de 12 anos. Há verdadeiros gênios dentro de um corpo de 10. Há verdadeiros idiotas em corpo de 30 anos. Por aí vai. Minha proposta é mostrar para a criança que a vida é foda, e mostrar para o adulto que ser criança não é uma questão temporal, mas de ser. A minha imaginação é imensa. Nunca devemos nos limitar no momento em que pensamos "nossa, eu estou sendo ridículo". 

Mas tais propostas cabem num livro onde uma árvore se abre e, após isso, um mundo completamente diferente se mostra? Quer dizer... A fantasia encobre as coisas.

Não há nada de diferente em uma floresta, animais por todos os lados, ar puro, rios, vales, sombras, mal, bem... A Terra da Imaginação pode ser em qualquer lugar. Aqui em Joaquim Egídio tem uma trilha, dá um pulo lá e veja a porta que há dentro de cada árvore. Seria um exercício interessante. Meus cachorros falam comigo, isso é evidente. Só os caretas não acreditam nisso. 

E Júlia? Seria você? 

Não tenho como fugir disso. Sim, eu sou ela. Porque uma menina? Não sei exatamente. Lembro de quando escrevi esse primeiro livro, era uma época em que o povo da igreja metia o cacete no Harry Potter. Lutei muito para lidar com essa coisa da magia, do sobrenatural. Demônios, bem e mal. Me vi numa encruzilhada ao tentar descrever Júlia e seus objetivos. Quando percebi, usei todo o mundo em minha volta para fazer a história ter algum sentido. Esse livro não é para crianças de 40 anos atras, é para a molecada de hoje que sabe usar um i-pad e um PS3 melhor do que eu. Elas são o futuro que nunca chega. Júlia é uma moça brilhante, mas que até então é limitada pelo povo do "mundo real". Ela briga consigo mesmo quando tem que lidar com esses valores, em tais momentos em que ela se olha e diz "mas como é que eu fiz isso?". Da mesma forma que eu me pergunto, todos os dias: "Como foi que eu escrevi esse livro?".

Mais uma vez você vem aqui e se entrevista...

A gente fez um release lindo. O livro está lindo. Uma puta capa maravilhosa. Mandamos para os veículos de comunicação da cidade. Abri os principais jornais da cidade e nada. Pensei "é, eles não querem saber de porra nenhuma...". Quanto custa uma nota? Quanto custa uma matéria? Quanto custa uma entrevista? Eu não sei.... Meu modo de firmar cada vez mais o que eu quero dizer é ficar fazendo essas viagens aqui, da mesma forma que Júlia nasceu. Como eu te disse, minha imaginação é sem limites. Nesse momento, por exemplo, te vejo sentado na minha frente com um gravador em mãos, meus cachorros em volta, um clima maravilhoso lá fora, gente da cidade toda lendo isso aqui e uma fila enorme esperando o momento do laçamento do livro, doidos para saber o que acontecerá após ler essa entrevista. Pra quê eu vou me limitar ao mundo real? 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Raul Terceiro.



Raul é o tipo de coisa que me evidencia a existência de Deus. E nós poderíamos chamar isso de acaso, se te deixa um pouco mais feliz. Me desculpem os ateus, mas, assim como o meu papo é sem sentido para vocês, os seus argumentos sobre a não existência de Deus não faz o menor sentido e mostra-se uma total confusão na consciência de sua própria existência. Deixando bem claro que religião não me leva a lugar algum e nunca me levou - pois uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa - Deus se faz presente em momentos em que ele parece se esconder. Daí você tem que ligar os pontos nas linhas tortas da escrita certa. Acho que é por isso que existem os ateus, pois eles não ligam os pontos. 

A questão básica é a bondade que exala felicidade e um certo sossego. É claro que a sua vida nunca vai deixar de ter tribulação. Para ser mais exato, acho que a vida é tribulação aliviada por momentos bons. Deve ser esse o plano da vida na Terra. Mas Deus se faz presente. 

Eu e minha mulher somos amantes dos cachorros. Eu já tive a Buba e a Dara. Hoje temos a Madalena na casa dos meus pais.  A minha mulher teve o Xuxo, o Bolinha, a Dolly, a Pitucha, a Grampola, a Tulipa,  e a Mel. Lá na casa  dos pais dela ainda tem a Sara, o Prejú, o Boby e a Sarita que vive na rua. 

Quando fomos morar numa casa, imediatamente ela queira um cachorro. Eu bem que tentei negar, mas foi impossível não ceder ao primeiro presente do criador. Maria Bethânia mancava no meio da estrada de terra que vai dar na nossa casa. Ela estava suja de poeira e carregava uma enxurrada de carrapato. Minha mulher a pegou e trouxe para nós. Foi amor a primeira vista. Bethânia é a coisa mais linda que eu já vi na vida, do olhar mais puro que um ser vivo pode ter. 

Meses depois aparece via facebook a Pantera. Forte, musculosa, perfeitamente igual à Bethânia. Carregava no texto de sua descrição a horripilante história do sofrimento que o ser humano pode causar aos cachorros. Sobre novos protestos, minha mulher foi buscar a senhorita Pantera. Quando ela chegou, mostrava uma humildade fora do comum, se rastejando no chão ao ver o homem da casa.  Eu, puto, não dei conversa para ela nessa primeira noite - até hoje peço perdão para Pantera por esse equívoco da minha vaidade - e logo no dia seguinte percebi o quanto era grata por nós dois termos resgatado ela das garras dos confusos. Pantera era amada. Demos o nome de Pantera Ponte Para Terabítia. 

As duas se deram super bem até o dia em que fizemos um aniversário na minha casa. Tanta gente deve ter deixado a pobrezinha da Pantera bem confusa, e não deu outra. Atacada pelo ciúmes que só quem sofreu bastante pode ter, Pantera atacou Bethânia na frente dos convidados. 

Passado os dias, a coisa só piorou. E era uma briga mais sinistra que a outra. Eu sofria, minha mulher sofria, Bethânia (tadinha) tomava aquele pau. E não dava para ficar bravo com a Pantera, pois ela era indefesa e vítima da própria educação que teve quando mais jovem. 

Eu perguntava "mas meu Deus, nós estamos fazendo a nossa parte, nós amamos esses cachorros, isso não é nada justo". E, contra todas as possibilidades do que seria perfeito para nós como família, Pantera foi pra fora, Bethânia ficou pra dentro. Por um lado Bethânia perdeu o gramado. Pantera perdeu a casa e o calor intenso dos donos. Nos preocupamos e ficamos bem tristes com a possibilidade de Terabítia viver sozinha no quintal, sendo amparada por nós, os donos, umas duas ou três vezes ao dia. Saíamos no quintal para mostrar a ela que nós a amávamos com todo o nosso ser, mas que para o bem da casa e da família, deveria viver para sempre no quintal. 

Semanas depois minha mulher viaja. Eu, sozinho, tomo conta de Bethânia e de Pantera, cada uma na sua. Fazer o que, se era pra ser assim, Pantera sozinha, então assim seria. 

Só que Deus é foda. 

Ele escreve certo com linhas terrivelmente tortas. 

Um dia eu fui tomar uma cerveja no boteco perto de casa. Ao abrir a porteira, lá fora estava Raul. Olhado para mim do jeito que até hoje ele faz. Sua língua pendurada num frenético vai e vem dos cachorros afobados, cheios de energia que a vida pode proporcionar. Carregava uma coleira gasta e uma bela costela a vista. Pensei "meu Deus, mais um abandonado". Fechei a porteira e fui pro boteco. Raul até tentou me seguir, mas eu disse "sai fora". Lá no boteco, depois de umas, duas, trinta e tantas, aparece Raul. As pessoas brincavam com ele e eu dizia, todo orgulhoso, "esse é o Raul, eu o conheço já". Não me pergunte da onde eu tirei esse nome. Eu simplesmente passei a chamá-lo assim. 

Quando resolvi ir embora, alegre como eu estava e eufórico pelo álcool, chamei Raul para ir em casa, pois eu ia dar comida e água. Assim foi. E dizem que os cachorros escolhem ir ou vir. Raul escolheu ficar. Fiquei desesperado e fiz anúncios no facebook e em sites de adoção canina. 

Nunca vou me esquecer da frase que eu mais disse ao criador. "Por favor, me arrume um dono para esse cachorro". 

E ele arrumou. É claro que nada é tão simples ou fácil como um simples post de blog. Nada é tão fácil quanto parece. Foram noites e noites pensando no que fazer até minha mulher voltar da viagem. Foi uma barrinha ao novo comportamento da casa. Como as coisas funcionariam daqui pra frente? Não sabíamos. Mas a vida sabia. Raul foi para o quintal com Pantera. A monstrinha cedeu espaço na sua casinha para Raul dormir junto dela. Aos poucos nós fomos percebendo o puta presentão que ganhamos de Deus. Não nos preocupamos mais com a solidão de Pantera. 

E nada é fácil, a vida não é e nunca foi fácil. Os dois fazem a maior zona, uma puta sujeiraiada no quintal. Para passear devo descer toda a minha força para segurar os dois. Bethânia vive dentro de casa e a gente sente que ela sabe que assim foi o melhor. De vez em quando a Pantera desce a porrada no Raul, mas é assim mesmo. Nada tão assustador quando as duas fêmeas se pegam. 

É tão exato e perfeito que as linhas tortas nos entortam, mas quando você enxerga o certo... A coisa faz todo o sentido.

Somos infinitamente gratos por todos os cachorros que passaram em nossas vidas. 

Especialmente por Maria Bethânia, Pantera Ponte Para Terabítia e Raul Terceiro - o magnífico! 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Bravo, dia 5.


Nas vésperas de Luis visitar seu país - pra quem chegou agora, o cara é espanhol, tem família em Sevilha, fala um espanhês como ninguém - eu e o próprio estivemos no Estúdio Norte para dar continuidade ao trabalho. A grosso modo, terminamos os teclados. Colocamos uma coisa linda que eu não consigo expressar em palavra na faixa "Guairá", uma canção em A maior que cheia de camadas sonoras que não se resumem apenas numa cama. As coisas estão indo pra outro lado de tudo o que eu já fiz na vida. 

Novos rumos, novos equipamentos. Luis possui plug-ins incríveis que resolvem a vida de qualquer maluco de plantão. Tem um que apelidei carinhosamente de "negão chinês com pé em cuba", que nada mais é do que o botão que usamos para fazer as congas em "You Know" (aquela que parece o Eric Clapton tocando bossa nova no violão de nylon). A congueria é tão perfeita que tenho que deixar claro que não fui eu quem tocou - já que nos créditos você vai ler a pretensão do artista aqui em dizer "todos os instrumentos por Felippe Pompeo". Mas as congas, não! Eu apenas disse "é essa!". 



gravando o baixo, Gianinni Sonic 1980. 


É claro que eu não sou chinês e não sei usar as coisas todas que eles nos propõe. Também sei que não apenas os chineses que fabricam essas paradas. Mas é impossível não fazer a aproximação dos orientais com a tecnologia. De qualquer modo, o baixo usando na gravação do Bravo é de origem brasileira. Como disse o Paulinho Ferraz, o cara que finalmente me deixou feliz mexendo em meus instrumentos: "A madeira na época era boa, os caras que não sabiam o que fazer com isso". O baixo é pesado, braço perfeito, "tocabilidade" extraordinária. Mas não é um Fender Jazz. Sua captação é, a rigor, um microfone embutido e isso traz muita chiadeira. Mais uma vez fomos salvos pelos chineses que implantaram uma ferramenta perfeita de "noise reduction" no line 6 que usamos para gravar esse baixo. 



gravando guitarra, minha Fender Stratocaster Americana Lead II. 

Pela mesma camisa que uso, dá pra perceber que gravei o baixo e a guitarra no mesmo dia. Sim, eu troco de roupa diariamente. Essa Fender é o meu mimo. Acho que sou o único nas redondezas que tem uma dessa. Se trata de uma edição limitadíssima que a Fender fez nos anos 80. Ela tem umas frescuras de diferença - são 2 singles ligados numas chaves esquisitas. Como não sou técnico em guitarras e não manjo porra nenhuma disso, é o máximo que consigo falar sobre ela. Tem um som único - nenhuma estrato tem o som dela. Ficou curioso? Dá um google, tem informações bacanas sobre ela. 



Não precisa de legenda, né?

O paredão acima foi usado no único solo de guitarra propriamente dito em todo o disco. Só tocando num desses para saber a emoção de subir num cavalo de raça ou dirigir uma Ferrari. 


O fabuloso Admira, usado para fazer a bossa nova de Eric Clapton.


Dando instruções ao Luis. 



Pearl Senson Séries. Usada na gravação de Bravo. 


Minha caixa Odery Made In China 14x8 esteve presente 100% na cozinha de Bravo. Mais uma vez fomos salvos pelos chineses, que conseguiram fazer essa coisa linda e vender a preço final de R$500. 

Enfim. 

Aloha.