quinta-feira, 18 de julho de 2013

Felippe Pompeo lança "Júlia na Terra da Imaginação".




Felippe (vulgo Pompeo) assina seu livro como Antonucci. "Acho que apenas para diferenciar meu trabalho musical do literário. Na verdade eu acho que sempre fui um escritor, só que as vezes eu uso a música para deixar meus textos mais atraentes". Antonucci, por assim dizer, ainda mora em Joaquim Egídio e tem um novo cachorro, desde a última vez que a equipe do Blocos de Cimento esteve presente em sua casa para falar sobre o lançamento do disco do Oito Mãos, "Aliás". Raúl late desesperadamente por dez minutos. Depois senta-se ao sol, observado pelo dono. "Ele apareceu aqui e resolveu ficar". 

Eu li o livro. De onde foi que tirou tal criatividade?

Não faço a menor ideia. Júlia nasceu do nada. Uma vez eu sentei no computador e escrevi a frase "Júlia acordou de repente, sentindo suor em seu corpo". E por aí foi. Há anos eu tento escrever histórias originais. Mas, como na música, no começo você é um fracasso. Fiz meu pai comprar uma máquina de escrever para redigitar uma história policial que se chamava "O Maníaco da Rosa". Era uma merda, evidentemente. Lembro que usei nome de gente ao meu redor, o povo todo da igreja que eu frequentava. Não sei onde isso foi parar. Outra vez eu escrevi uma história do Super Homem, chamei de "A Profecia". Piegas até a última gota. Eu sempre tive dificuldade em saber executar os clichês, porque eles são inevitáveis. Tudo o que temos de histórias fantásticas nos fornece um caldeirão. Cada um faz a sua sopa.

A criatividade cara... Você é extremamente criativo.

(Risos, muitos risos). Mostrei um tiquinho do meu novo disco, o Bravo, para o Elthon Dias, grande amigo meu. Ele ouviu a faixa título e falava com uma sinceridade fora do comum: "Felipão, você é muito louco". Daí quando acabou, ele ficou sem palavras. Colocou-se de pé e bateu palmas pra mim. Eu realmente não sei de onde vem. A única coisa que eu sei é que eu não limito minha mente, eu não me fecho para o mundo real, o mundo da ida e vinda, da grana, do sustento. Eu me apego demais em minhas viagens. Tudo o que eu sempre quis ser e nunca consegui, eu sempre senti isso. Quando a gente começa a pensar, por exemplo: "e se eu ganhasse na loteria? Usaria roupas fodas, um carrão, uma guitarra Gibson..." Daí, nesse momento em que você pensa nisso, a imaginação é tão forte que você praticamente veste essa roupa, usa esse carro e tem essa guitarra. Quantas vezes eu subi num palco para 10 mil pessoas dentro do meu chuveiro? Quantas vezes eu me vi passando na MTv? Quantas vezes eu me vi num vale onde com um aceno de mãos, árvores e nuvens apareciam do nada? Não sou eu que sou criativo, são as pessoas que se limitam ao "real". 

Mas você tem que assumir que não é todo mundo que consegue fazer tais coisas... Cantar, tocar, escrever... 

Eu não pedi para ter nenhum desses dons. Eu administro uma loja de material de limpeza, não tiro meu sustento de meus dons. Eles me fazem sentir vivo, apenas isso. Certas pessoas tem facilidade com números, com Aristóteles, com bisturis, com vendas. Eu nasci para a arte. Nasci para fazer do meu mundo um lugar muito mais interessante do que a Terra. Na medida do possível eu compartilho esse mundo. O que cabe em 200 páginas de um livro não é nem unha do que há em minha mente. O tempo todo sou bombardeado com questões de todos os tipos, mas não consigo passar para as pessoas, mesmo porque eu sou o chato do facebook. Essa coisa de "meu mundo"... No meu mundo Paul McCartney é o melhor. E dentro de cada um existe um universo, onde o limite de um acaba onde começa o do outro. 

Me espanta muito o fato de você, um cara durão aparentemente, escrever para crianças.

Eu não escrevo para crianças. Escrevo para o ser humano. Quando você cresce, não sei o que acontece que a gente deixa de correr, de brincar, de sorrir de qualquer coisa. As crianças são protegidas pela inocência. Feliz é o moleque e a menina que tem seus pais para garantir tal isolamento do mundo real. Ao mesmo tempo que as coisas que acontecem numa escola forma todo cidadão. Desde cedo, viver é foda. Há verdadeiros demônios dentro de uma carapuça de 12 anos. Há verdadeiros gênios dentro de um corpo de 10. Há verdadeiros idiotas em corpo de 30 anos. Por aí vai. Minha proposta é mostrar para a criança que a vida é foda, e mostrar para o adulto que ser criança não é uma questão temporal, mas de ser. A minha imaginação é imensa. Nunca devemos nos limitar no momento em que pensamos "nossa, eu estou sendo ridículo". 

Mas tais propostas cabem num livro onde uma árvore se abre e, após isso, um mundo completamente diferente se mostra? Quer dizer... A fantasia encobre as coisas.

Não há nada de diferente em uma floresta, animais por todos os lados, ar puro, rios, vales, sombras, mal, bem... A Terra da Imaginação pode ser em qualquer lugar. Aqui em Joaquim Egídio tem uma trilha, dá um pulo lá e veja a porta que há dentro de cada árvore. Seria um exercício interessante. Meus cachorros falam comigo, isso é evidente. Só os caretas não acreditam nisso. 

E Júlia? Seria você? 

Não tenho como fugir disso. Sim, eu sou ela. Porque uma menina? Não sei exatamente. Lembro de quando escrevi esse primeiro livro, era uma época em que o povo da igreja metia o cacete no Harry Potter. Lutei muito para lidar com essa coisa da magia, do sobrenatural. Demônios, bem e mal. Me vi numa encruzilhada ao tentar descrever Júlia e seus objetivos. Quando percebi, usei todo o mundo em minha volta para fazer a história ter algum sentido. Esse livro não é para crianças de 40 anos atras, é para a molecada de hoje que sabe usar um i-pad e um PS3 melhor do que eu. Elas são o futuro que nunca chega. Júlia é uma moça brilhante, mas que até então é limitada pelo povo do "mundo real". Ela briga consigo mesmo quando tem que lidar com esses valores, em tais momentos em que ela se olha e diz "mas como é que eu fiz isso?". Da mesma forma que eu me pergunto, todos os dias: "Como foi que eu escrevi esse livro?".

Mais uma vez você vem aqui e se entrevista...

A gente fez um release lindo. O livro está lindo. Uma puta capa maravilhosa. Mandamos para os veículos de comunicação da cidade. Abri os principais jornais da cidade e nada. Pensei "é, eles não querem saber de porra nenhuma...". Quanto custa uma nota? Quanto custa uma matéria? Quanto custa uma entrevista? Eu não sei.... Meu modo de firmar cada vez mais o que eu quero dizer é ficar fazendo essas viagens aqui, da mesma forma que Júlia nasceu. Como eu te disse, minha imaginação é sem limites. Nesse momento, por exemplo, te vejo sentado na minha frente com um gravador em mãos, meus cachorros em volta, um clima maravilhoso lá fora, gente da cidade toda lendo isso aqui e uma fila enorme esperando o momento do laçamento do livro, doidos para saber o que acontecerá após ler essa entrevista. Pra quê eu vou me limitar ao mundo real? 

Um comentário:

  1. Mais uma vez, parabéns!

    Tem muito mais aí dentro pra mostrar, e que seja, em livros...

    Abração meu amigo!
    Sheila

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