quinta-feira, 30 de maio de 2019

Sobre a morte

A gente morre de medo daquilo que não conhecemos. Daí surgem os prés conceitos da vida. E tudo aquilo que a gente não conhece, evitamos falar sobre e daí surgem os tabus. Sexo é o maior deles, sem dúvida alguma. Se fossemos mais abertos com a coisa toda, sobre tudo, talvez nos odiaremos menos. 

E por falar em medo, quem não tem medo da morte? Não adianta dizer "eu não". Aquele exame de rotina para investigar uma dorzinha no estômago, o cu fecha ao abrir o resultado. Somos todos assim. O fato é que ninguém consegue me dizer o que acontece após a morte. Não é ciência. Não há ciência. E fé, meu raríssimo leitor, é tão pessoal, inquebrável e incompartível quanto a sua impressão digital. É interessante o quanto o ser humano, após se der conta de que iria morrer, passou a querer desvendar os mistérios da morte e se esquecendo por completo sobre o antônimo dela: a vida. 

Me lembro a primeira vez que vi uma pessoa morta. Um desconhecido, sendo velado, enquanto eu fazia uma entrega no cemitério. Estiquei o pescoço para olhar lá na capela. Um corpo, sem vida, morto. E os vivos chorando, velando. Nunca mais essa pessoa estaria entre eles. Mas eu não tive tempo de ficar viajando muito porque o momento me chamava pro trabalho. 

Outra vez eu vi um velho no caixão, esse eu conheci bem. Seu Januário pareceu viver uma vida infinita, cheio de gente em volta prestando as últimas homenagens e confesso que minha música "O Velho" foi espelhada nele (em partes, pelo menos). Mas ali não estava um cara infinito e parece que as pessoas falam cada vez menos dele. Não fui no enterro, mas ouvi dizer que pareceu que a cidade toda foi lá dizer adeus. 

Ainda nessa coisa de cemitério, a irmã de um amigo próximo nos deixou e foi aí que eu comecei a ficar meio cabrêro com essa parada de morte. Ela era linda, cheia de vida, inúmeras possibilidades para acontecer, duas filhas, dois irmãos, pais vivos, um marido, uma galera... e o infinito se apagou num desastre fisiológico chamado câncer. Lembro que fiquei fascinado em seus rosto morto. Meu olhar paralisado com o caixão descendo os sete palmos até que me tiraram dali. Fiquei com aquilo na cabeça por dias. 

Certa vez eu fui num posto e lá estava um morto no chão, entre as bombas de gasolina. Pelo o que entendi, o cara tava indo entregar uns exames do coração numa clínica por ali, mas o coração falou "que mané exame, vambora". E dizem que ele caiu, deu uma respirada longa e já não estava mais ali, era só carne morta. Do nada o cara se foi, deixando contas e exames para trás. Me veio o seguinte: tanta coisa acontecendo na vida, coisas boas e ruins, e do nada tudo pode acabar. 

Outra vez eu tava saindo de casa e após alguns quilômetros vi uma agitação. Reduzi a velocidade. Polícia no local. Mais a frente uma moça extremamente desesperada, aos berros, prantos, daqueles que nem nos filmes a gente vê, aquela sensação horripilante do terror da perda, acho que pude ver o frio e o calor transbordando na alma da pobre moça, gente em volta dela chorando também mas não como ela, ela estava fora de si, sem controle... e mais pra frente uma moto destruída e um corpo coberto por um manto prateado. Poxa, eu fiquei tristão. Eles deveriam ter uma história tão bonita quanto a vida de todo mundo. Um descuido tirou a eternidade carnal do rapaz. 

Ainda esses dias vi a mesma coisa. Gente desesperada. Morte no trânsito.

O ponto é:

A vida é um privilégio. Viver, sentir, ter a necessidade das esperanças e dos medos, o obscuro da incerteza, a beleza do sorriso, da mente que brilha. Não posso dizer que não tenho medo de morrer, claro que tenho. Mas posso afirmar que sou grato pra caralho por estar vivo e fincar raiz nesse planeta. 


terça-feira, 7 de maio de 2019

Pompeo lança "A Imensa Escuridão de Claras Incertezas".



Depois de um tempo você passa a fazer, ainda mais, as coisas do seu jeito. Eu tenho essa mania de me entrevistar por algumas razões. A primeira delas – e acho que a maior de todas – é o meu ego. Assumir isso é uma responsabilidade imensa. Precisamos manter a coisa enjaulada? Acho que não, prefiro dizer controlada. Algumas massagens e zap, volte para seu lugar! É um caminho perigoso, mas de alto conhecimento que nenhum psicólogo no mundo proporciona. A segunda razão é mais objetiva: não vejo sentido algum mandar release para sites de música e no fim de tanto insistir as pessoas te perguntarem “como foi que você começou na música?”. Ah, toma no cu! Eu tenho muito a dizer e ninguém melhor que eu mesmo para tirar de mim as coisas que estão transbordando. A quem possa interessar, esse sou eu me exibindo e me expondo, com um pouco de cautela. Fazia tempo que eu não escrevia.

Em “Play” (2015) você se olhou no espelho (sobre a música “Olho No Espelho”). Gostou do que viu?

Ninguém gosta do próprio reflexo. Veja bem, a sociedade está doente. Cito Renato Russo “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”. Ah, quanta coisa ruim, né? Se olhar é um exercício, ver onde você tem que evoluir é o caminho. Somos o reflexo de nossos pais, mas até onde queremos cometer os erros que eles cometeram? E todo esse abismo que é pensar e sentir, na grande maioria das vezes, dói pra caralho.

Você considera ser parte da doença da sociedade?

É claro! Quem sou eu pra dizer que não? Fico nesse papo de blá blá blá amor ao próximo isso amor ao próximo aquilo, consciência social pra cá e pra lá mas sou o primeiro a xingar no trânsito.

Você é uma pessoa nervosa?

Sim, muito. Mas eu prefiro dizer que isso vem do fato de eu ser uma pessoa extremamente sensível. Não parece por conta da minha cara fechada do dia a dia, mas eu sou mais sensível do que as pessoas imaginam.

Qual é o objetivo de seu trabalho?

Inúmeros, né? Mas posso afirmar dois: eu o faço para me sentir vivo, mesmo que a vida me jogue para a lona em alguns momentos, cá estou me testando, tocando a minha alma, sendo quem eu realmente sou. Outro motivo são as conexões com as pessoas.  Acho isso lindo demais. Quando rola, as pessoas vêm me agradecer por minha música ter tocado elas. É raro, mas extremamente gratificante. Mesmo porque o primeiro a ser tocado sou eu. Eu escrevo para lidar comigo mesmo. Daí cada um entende o que quer e como quer.

O que esperar de “A Imensa Escuridão de Claras Incertezas”?

Uma obra melancólica, pessimista e obscura, cantada de um jeito feliz e colorido. Acho que é a única forma que eu consigo escrever músicas. As pessoas me conhecem mais como intérprete, que é como me sustento. Mas o Felippe dos discos é o verdadeiro. Não sou um pessimista, apenas vivemos um momento bem difícil. Mas é nesses momentos que nos reinventamos e damos a volta por cima. E parece que eu só funciono em momentos assim, e foi assim que esse disco nasceu. Eu acho que estamos todos fodidos. Vivemos uma ilusão emocional que toma conta de tudo. A gente nem liga pros momentos felizes - aquela praia, aquele beijo, aquele fim de semana na varanda - porque sempre vai ter o sistema te sugando. Mas também é na infelicidade que crescemos e ficamos "durões", avaliamos a situação e seguimos em frente, evoluímos. Pra mim estamos aqui para evoluir. Não para sermos salvos. "Crê no senhor Jesus e será salvo". Salvo do quê? Iremos todos morrer. Nada nos tira o medo, a angústia, a tristeza. Estamos encarnados e vivemos isso. É o que nos diferencia dos animais, esses sim são plenitude, que vivem até para serem nossos alimentos - e não dizem nada sobre o assunto, não reclamam, não dão um pio. Agora tem essa coisa da rede social, onde todo mundo grita em fotos e stories "hey, eu sou feliz". É porra nenhuma. Tudo que as pessoas causam é inveja. Acho que por isso que as igrejas não faliram ainda.

Mas você não vê esperança na humanidade?

Isso é algo muito difícil de lidar. É possível, sim. Mas é preciso estar atento. Não acredito na mudança do mundo como um todo, creio na mudança pessoal de cada um e essa mudança pessoal refletir na vida das pessoas que nos cercam. E por aí vai. É foda, porque todo mundo que tem boa intenção nesse mundo acaba se fudendo. Só cresce quem passa por cima dos outros. Não tem outra maneira. A pessoa boazinha tá sempre fodida. Acho que ser gentil é um caminho. Bom dia, boa tarde. Sorrir. Olhar para o faxineiro e dizer "obrigado, tenha um bom trabalho e que passe rápido". Espalhar acolhimento é um caminho. Deixar a vida das pessoas menos insuportável. Fazer arte tem essa responsabilidade social.


Porque você ainda faz as coisas sozinho?

Já não faço mais tanto assim. Mas é preciso dizer às pessoas como eu me sinto e isso só me diz respeito. De qualquer maneira, nesse disco novo eu tive a ajuda de grandes amigos e conhecidos. Léo Costa, que veio de Mogi Guaçu para trazer diferencial musical a Campinas, meu grande parceiro, cedeu seu talento na bateria em duas canções, gravadas em seu estúdio Cósmos. Curiosamente, Marcelo Martins, baixista que toca com Gabriel Conti, estava no estúdio e eu senti necessidade de um baixo ali, na hora, e falei “ow mano, quer gravar um baixo aí”? O cara topou na hora e fez a faixa “A Balada Infinita”. Também contei com a capacidade ímpar de texto do meu querido amigo Guilherme Morais em várias letras do disco, tudo será devidamente creditado. Ele também faz um solo em “A Morada dos Bichos”, tudo lá no Home Studio do apartamento dele. Também tem Thiago Hoover voando nas guitarras solos de “Wa001”, também gravadas em seu apartamento. Além do mais as baterias acústicas – as que eu toquei - foram captadas pelo meu grande irmão Luis Alcaide no Industrial Estúdio, aqui em Campinas. Veja então que não estou sozinho dessa vez. Ah, esse papo técnico é chato.

E você nunca se empenhou na divulgação de seus discos.

Tenho uma total desconfiança do recebimento da mensagem quando a coisa fica grande. Não quero dizer que não sonho com um mundo paralelo onde as pessoas me ovacionam. Vi o Los Hermanos no Maracanã pelo You Tube e eles parecem serem tão normais né? Mas sempre que vejo algo desse tamanho, me dá um sentimento “nossa, isso deve ser incrível”. Deve ser maravilhoso ter tanta gente clicando nos seus links. Mas também deve ser muito perigoso. E muito mentiroso. Eu acho que a pessoa certa sempre clica nas suas coisas. É a coisa da troca, da conexão. Eu estava conversando com o Rodrigo Viola, que conheci recentemente, sobre divulgação e ele falou que eu não espero nada espetacular (após ouvir a música da Oito Mãos, Algo Espetacular). Não espero mesmo. Talvez eu seja muito acanhado quanto a essa coisa da máxima exposição. Eu acho mais confortável ficar aqui no meu mundinho, mudando o mundinho de algumas pessoas, vivendo e aprendendo todos os dias. Arte é isso. Não troco a arte para ser algo que eu não sou. E, sinceramente, o Brasil não está interessado num cara como eu (rs). De qualquer modo, minha música é atemporal. Um dia as pessoas vão entender. Não é sobre o agora, é sobre o infinito.

Você ainda se acha foda, como disse quando lançou Bravo (2014)?

Sim, pra caralho. Mas veja bem, há uma imensa diferença entre saber quem você é e do que você é capaz e ser uma pessoa arrogante. Eu não humilho ninguém e não fico pedindo atenção à minha pessoa, como fazem os arrogantes. Os arrogantes estão sempre querendo mostrar que estão no controle da situação (quando nem sabem o que vieram fazer no mundo) e ficam exibindo uma falsa segurança. Eu apenas sei quem eu sou e o que vim fazer. E é por isso que eu encanto quando estou no palco, pois ali é a minha única chance de sobreviver aos meus anseios, toda a minha energia acumulada é solta num palco onde há gente afim dessa troca. Mesmo que eu seja interprete naquele momento, eu sou o mais sincero possível. Tem momentos que ali é o melhor lugar do mundo para se estar.

Continua se imaginando fazendo discos pelo resto da vida?

Enquanto houver mente e sanidade, o farei. Até quando eu estiver louco, eu farei. Se eu chegar aos 80, jamais me privem de entrar em um estúdio. Ali é a minha ilha da perfeição. É a única forma de eu olhar para os anos que se passaram e entender a minha caminhada. A gente se liga no automático e esquece que a vida é brilhante. Talvez o passado nos lembre disso. Os momentos ruins uma hora param de doer, mas os momentos brilhantes... Eles eternizam numa foto, num filme, na música. E eu me sinto muito honrado pelos céus me darem esse dom de criar música. Eu espalho alegria às pessoas, isso é muito gratificante.

Por último, a nossa pergunta clássica: já tem planos para um disco novo?

Sim. Tudo que está acontecendo está virando música. Até a próxima!


sexta-feira, 8 de junho de 2018

Cobra Kay



Eu nem sei como começar um texto que fala sobre Daniel Larusso e Johnny Lawrence. Pra começo de conversa, ambos são personagens de uma grande, maravilhosa e enriquecedora história dos anos 80 (só fui ver nos anos 90 - sou de 82 e o filme é de 84). Esses dois existem dentro de nós e tudo se resume ao equilíbrio. Quando criança vi Karate Kid inúmeras vezes  e por anos me perguntei por onde andaram Larusso e a trupe toda. Pat Morita já se foi, mas seu Miyagi continua vivo em nossa alma, assim como seu Madruga ainda brilha por todo canto da imaginação. 

Toda essa falta que me fez ao deixar a infância e virar adulto se torna uma faísca e logo um belo fogaréu ao assistir os dez episódios de Cobra Kay, série produzida pelo You Tube - site que já não bastava ser o melhor da internert e agora está produzindo séries. Vai ser um pé nas costas de Netflix e etc. 

Fui apresentado a um Johnny diferente daquele que aprendi a odiar por conta de toda a sacanagem que aprontou com Daniel naquele primeiro filme da saga. Nem mesmo um "você é bacana, Daniel" vindo dele ao perder no torneio dos anos 80 - e a série nem menciona isso - serviu para a gente sentir que o garoto tinha lá seus problemas e era só uma questão de tempo até que a vida lhe mostrasse que "No Mercy" (sem piedade) não é apenas o slogan do Cobra Kay, mas sim da jornada foda pra caralho que é viver. É porrada atrás de porrada. 

Por outro lado temos Daniel, um cara bem sucedido e estabilizado na vida, que também tomou suas porradas mas teve o maior ensinamento que o Karate poderia ter-lhe dado: equilíbrio. É através deste que é possível ficar de pé, dia após dia da pancadaria rotineira.

Johnny vê no Cobra Kay a oportunidade de pagar suas contas e evitar ser despejado - na pior das hipóteses ter que se humilhar ao seu padastro rico. Aos poucos percebe que sua filosofia de ensino passa a dar a seus alunos uma boa dose de auto estima e segurança. Ao ver que o Cobra Cai está de volta à cidade, Daniel fica louco da vida e a rivalidade reacende entre os dois. Daqui pra frente é spoiler. 

Nada contra remakers, mas continuações depois de tantos anos são muito mais inteligentes e tocantes. Ver Daniel falando com Miyaggi no túmulo é como ver Yoda aparecendo para Luke Skywalker. As referências vão se amarrando sem forçação de barra (até as músicas são as mesmas, coisa maravilhosa!) e é inevitável aquele nó na garganta em vários momentos da série. William Zabka  (Lawrence) e Ralph Macchio (Larusso) estão aprovadíssimos, Zabka mais ainda por nos mostrar um Lawrence que não conhecíamos.  

Simples, fácil de assistir, cativante e motivante. Cobra Kay é um emaranhado de sentimentos equilibrados (olha ele aí de novo). Teremos uma continuação daquelas! 

Vale cada download. 


dica: piratebay hehehe. 

VALEW WILL!!!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Entrevista com André Leonardo.



Eu saía bastante com o André na época em que gravamos e vivemos “Vejo Cores nas Coisas”, primeiro disco da Oito Mãos. Éramos jovens sonhadores e ebulíamos as ideias. Uma delas foi gravar um papo, no modelo clássico jornalístico, já que achávamos nossas conversas – movidas a cerveja – de grande conteúdo para a humanidade. Oito anos depois ela faz mais sentido, mesmo que pessoal, do que nunca.  Um vento frio nos acompanhou nessa noite de terça feira, 27 de abril de 2010.



Pompeo –  A gente se conheceu através de um gosto comum que é o Oasis. Eles ainda te inspiram na sua música, no seu modo de ser e fazer rock and roll?

André – Sim, Oasis me inspira. É... (pensativo) Com certeza me inspira. Eu reflito bastante sobre isso.

Pompeo - Hoje as pessoas vêem o Oasis com um certo pré-conceito, porque os irmãos Galleguer têm aquela coisa da arrogância e tudo mais, e também...

André – Ah, eu tenho uma coisa pra falar. Um insight que eu tive sobre isso. Que eu andei vendo uns vídeos do Oasis no You Tube. Eles receberam o prêmio de melhor disco num prêmio inglês...

Pompeo – Eu fiquei sabendo...

André – O melhor disco da década, né? (o Wats The History, Morning Glory?)

Pompeo – Concorrendo com Brothers in Arms, do Dire Strais...

André – Brothers in Arms; com o ----, do The Verve; um do Travis – um nada a ver lá – os que eu curto são esses... E o Oasis ganhou. Depois de ganhar, eles se apresentaram. O vídeo que mostra isso no You Tube tem os bastidores. Tava o Noel, o Liam lá com a namorada, não sei o que... Os caras lá... Tinha uma Boy Band que não lembro o nome, dando a mão pro Noel, tal... E o Noel e o Liam – eu já tinha visto alguns vídeos, na mesma moeda, faço isso quando a internet ta boa – o Noel é um completo babaca se ele não fosse o Noel. Ele é um baixinho, arrogante. Sem a postura de banda, ele seria um cara normal. O Liam é um cara normalzaço. E você vê nos bastidores e pensa o quê que esses negos têm, cara? Tipo... Porra nenhuma. Aí os caras entram no palco. No palco os caras têm uma postura que ninguém tem. O Liam, ali, com as mãos pra trás; o próprio som do Oasis, a atmosfera que eles passam, uma atmosfera que eles sabem o que estão fazendo, entendeu? Uma coisa assim, tipo: Com’on! O meu insight é que o Oasis usa muito do teatro. Os caras, intuitivamente, descobriram um teatro. Eles não são aquilo que são no palco, mas aquilo que são no palco é demais, é o que a gente gosta. O Oasis usou muito bem o teatro de uma forma que poucas bandas usam atualmente.

Pompeo – Você não acha que quando você vê um show do Oasis, nesse sentido, nem que seja por internet – e você viu o show do “Be Here Know”, foi quando eu fiquei sabendo disso, no dia em que a gente se conheceu você estava com a camiseta “eu fui”, eu fiquei morrendo de inveja, ou seja, você viu os caras ao vivo; você não acha que esse teatro, essa forma teatral de se apresentar, não seja algo natural do próprio rock? Eu tenho a impressão de que os caras não forçam essa barra, da mesma forma que o Oito Mãos não força nenhuma barra no seu show, pescando esse sentido da inspiração, se a gente olhar, nós somos pessoas normais. Se a gente olhar o próprio Noel, pro Liam e pro resto da banda, os caras são normais, mas no palco os caras são foda, entendeu? Você não acha que o palco dá um pouco desse engrandecimento pro artista?

André – Sim. Acho que sim. Só que eu não sou muito consciente, até porque a nossa banda não tem a abrangência do Oasis, né, eu não sou muito consciente do quê que a gente passa, entendeu? Qual é o meu teatro... Mas com certeza o palco engrandece, sim. Só acho que ser influenciado por isso é uma coisa que te separa da música, entendeu? Esse negócio do Oasis, assim. É próprio do Oito Mãos.

Pompeo – O Oasis, por ser uma banda que quando começou a gente ouviu e era uma música que a gente queria ouvir, tem esse certo sentimento, uma música que era simples, mas que tinha um certo apelo melódico muito forte... Ainda há esse sentimento de se fazer uma música com o apelo melódico forte, pelo menos na tua cabeça?

André – Na minha opinião, a grande inspiração do Oasis pra mim é a coisa maior que a vida. É uma banda do tamanho da vida. Porque ela é do tamanho da vida. Esse associado de melodia – porque eu não gosto de banda punk, não gosto de heavy metal e nem de bandas que não tem melodia. Eu gosto, por exemplo, de samba, que tem melodia. Então, eu acho que esse apelo tem que ter melodia, tipo Beatles, Oasis e tal... Só pra citar os grandes. O Oasis trás esse negócio de revolucionar o rock, de serem os maiores. O John Lennon, eu vi num DVD, ele falou que os Beatles só foram o que foram porque eles queriam ser a maior banda do mundo, entendeu? Eu acho isso muito interessante. Eu levo isso... Em algumas coisas eu quero ser o melhor.

Pompeo – Qual é a sua grandeza, então, de ser o melhor? Tua pretensão... Porque pretensão é sempre boa pra gente. A pretensão do Oito Mãos é a de ser a melhor banda do mundo? Ou uma coisa a menos? Quero saber qual é a sua pretensão com o Oito Mãos, nesse sentido ainda pegando essa essência de que o próprio John disse querendo ser a melhor banda do mundo, e o Noel... Quem é fã do Oasis sabe que ele diz que faz parte da melhor banda do mundo, e que ele entrou pra ser a melhor banda do mundo. Você com a Oito Mãos carrega esse sentimento de que também quer ser o melhor?

André – Isso pra mim bate de uma forma assim: Na história do Oasis, por exemplo, eu acho que eles viraram reféns da própria fama. A banda acabou em 98, saíram dois membros originais e fundadores. O Noel parou de compor ali também. No caso dos Beatles eles viraram reféns de uma outra forma. Eles nunca mais foram amigos...

Pompeo – Você está dizendo pós-setenta, quando terminou, quando o Paul, pá! Assinou, acabou, aí os caras partiram para carreira solo...

André – Sim. Eu acho que aí existe um fator refém de fama. Disso eu não quero ser o maior refém de todo o mundo (sorriso). Britney Spears tem muito disso. Os Beatles eram geniais, né... Existiu uma plataforma genial também na carreira solo. O Liam é uma caricatura de si mesmo. Eu não acho que ele não é um cara muito esperto. Esperto ele até pode ser, mas eu acho ele um drogado. Parece que no vídeo ele está cheirando cocaína, ta cheirado, não sei o que... Ele leva esse negócio de rock and roll a um nível que agora já não é mais genial, deixou de ser maior que a vida, já é um idiota. Nesse sentido de fama eu tenho um pé atrás. Mas eu quero ter a maior banda...Quer dizer... Eu penso nisso: ou eu tenho uma banda igual aos Beatles ou não tenho nenhuma. Isso tem que ser possível entendeu? Uma vez eu tava na praia, e... Isso vai pro blog, né?

Pompeo – Se você está falando, vai (risos).

André – Eu lembro que eu pensei assim: “Cara, como eu quero ter uma banda igual aos Beatles”. Como eu quero isso. É um desejo muito forte. Eu montei algumas bandas, bandas essas que não tinham nenhuma aproximidade com os Beatles simplesmente porque os membros eram fracos. Eu teria que ser o ditador da banda. Tinha que falar o que fazer... Eu era o melhor da banda. Quando eu montei o Oito Mãos, eu logo senti que eram membros fortes, entendeu? Os caras pegaram o violão e começaram a tocar. A voz de um era melhor que a minha, a voz do outro era igual. Já mostraram música própria no primeiro encontro. Opa! Primeiro ensaio, os caras: “não, você não vai compor todas” Opa!Aí eu pensei “Aqui há uma possibilidade”. Isso é o grande tesão pra mim. Tipo. Ok. Então o mundo é assim: ter uma banda, igual aos Beatles, só que não quer ter fama? Não, não é bem isso, entendeu? Não é bem isso... Eu quero construir a minha própria... Eu quero ter as rédeas.

Pompeo –Certa vez a gente conversando, você falou pra mim “se não for pra ser igual aos Beatles, num faço”. Eu disse “você ta ficando maluco? Se comparando aos Beatles?”. A gente ficou conversando e chegamos na concisão de que os Beatles foram grandiosos num disco atrás do outros. Eles não se repetiram em nenhum disco. Se não for pra ser assim... Né, velho?

André – Justamente. É isso que é foda de se conhecer Beatles. Se você estudar a história deles, a música deles está inseparável da evolução pessoal de cada um. Esse é o lance! Eles queriam ser o Elvis. Eles fizeram música rockabily melódica. E já não era um rockabily porque não era uma banda voltada para um vocalista, era uma banda voltada pra três vocalistas, era uma coisa nova. Já virou Beatles. Mas eles queriam fazer isso. Aí foi seguindo. A grande mudança veio com a droga... Com a possibilidade de tocar e compor maconhado, ou com o próprio eco disso, né... Que se faz no dia anterior...

Pompeo – No dia depois...

André – É... No dia depois. E com o avanço do estúdio. Isso foi evoluindo a um tal ponto que se tornou um arquétipo, envolvidos por um ­­arquétipo da evolução do ser humano, um pouco assim, na concepção dos jovens... E eu acho isso muito massa. É justamente isso que me atrai no Oasis. É a mesma coisa. É sempre isso que me atrai. Uma banda quando começa a ficar morna nesse sentido, os caras deveriam partir pra carreira solo.

Pompeo - Você encara a música como um trabalho? No sentido de dar trabalho mesmo, que é difícil, e que é preciso fazer o melhor sempre?

André – Com certeza é um trabalho.

Pompeo – Você ouve o “Vejo Cores” e pensa que alguma coisa poderia ter sido feita de forma diferente?

André – Acho que sim... Acho que banda poderia ser mais fluída.

Pompeo – Em que sentido?

André – No sentido de execução, de tocar. Por ser a primeira experiência de estúdio, né... Ce toca um trecho, pára... Poderia tocar mais fluindo, ia soar mais natural...

Pompeo – Menos estúdio?

André – Menos estúdio. Esse é o meu objetivo pros próximos discos...

Pompeo – Como é ser produzido? Até que ponto a sua confiança no produtor não é abalada? A música é tua, é tua banda, e vem um cara e meio que toma o norte disso tudo, e vocês têm que seguir esse norte porque vocês confiam... Até que ponto isso te atrapalha?

André – Isso é o resultado. Quando você vê que o resultado é melhor do que você esperava, você abaixa a bola. Você começa a ficar mais humilde em relação à situação que se estabelece quando tem um produtor. Quando vai avançando um pouco mais, vai além do resultado, meio que vira alquimia. Começa a não haver separação. Aí essa questão não aparece.

Pompeo – No caso do Oito Mãos, é o que vocês falam... Eu acabei fazendo parte da banda.

André – Sim.

Pompeo - Mas, se a gente parar pra pensar, ainda existe aquela coisa de que o Pompeo é o produtor, vamos ouvir ele falar porque de repente ele esteja um passo a frente, mesmo dizendo que esse meu passo à frente se deve ao que eu aprendi com vocês e eu sei o que é necessário...

André – Sim.

Pompeo – Em algum momento isso resplandeceu no “Vejo Cores” em algum sentido negativo?

André – (pensa e ri).

Pompeo – Eu acho que não! (risos).

André – Bom... Deixa eu ver...

Pompeo – Eu te perguntei uma vez se o refrão de “Na sua casa” era o que você esperava e você disse que não, que esperava algo mais Jorge Ben...

André – É uma boa música pra pensar nessa questão.  E acho que em alguns momentos, o nosso produtor... (risos)

Pompeo – EU.

André – Pode ter sido um pouco afobado em relação a algumas idéias...

Pompeo – Mas eu sou afobado, porra.

André – Eu acho que quando o compositor trás uma idéia e você é afobado em relação a ela, e ela é o que vai estar no fim, ela vence, porque nossa banda a idéia melhor vence, a mais bonita... Você sempre vai estar não contente com aquele resultado, pra sempre! O resultado sempre vai ser satisfatório porque o produtor, nem a banda, nunca vão deixar manter uma idéia ruim...

Pompeo – Por isso que surgem carreiras solo, não é?

André - É. Só que pra sempre você vai pensar “pô, não era exatamente isso”.

Pompeo – Como num relacionamento.

André – Tem coisas que saem melhor, e uma coisa acaba compensando a outra.

Pompeo – Aí a gente volta da idéia da melhor idéia.

André – É... Essa relação de produtor tem que ter sempre mais frutos do que ervas daninhas. No nosso caso, o “Vejo Cores nas Coisas” tem 95% de vantagem e 5% de desvantagens. Em ensaio anterior desse disco, me parecia que a desvantagem era de 40%, mas ao gravar o disco, a gente se entendeu muito bem.

Pompeo – Você acha que a banda supre por completo a sua forma de expressão musical?

André – Eu acho que não. Certamente não. Mas com certeza eu não vivo sem banda.

Pompeo – Tem que ter um batera, um baixo, os brothers...

André – Se terminasse a banda amanhã ou depois de amanhã, eu montaria outra... Você conseguir se dar bem com uma banda é um puta presente, uma puta realização. E... Qual que era a pergunta mesmo?

Pompeo – Se a Oito Mãos supre você por completo.

André – Eu acho que não... Eu sou meio louco, né velho... Eu fico pensando muita coisa de expressão artística. Eu vejo um filme e já tenho um monte de idéia. Mas acho que a banda é um puta catalisador. Ela supre de 60 a 70%.

Pompeo – Qual é o melhor disco dos Beatles e porque?

André – Acho que é o Revolver. Porque eles riam muito nessa época. Eles sempre foram bons. Nessa época eles eram bons e riam muito. Isso resulta em música facilmente. O próprio... Quem que é mesmo? Não sei se é o Bono (Vox, Vocalista do U2)... Que encontrou com o George (Harrison) e o George disse que naquela época eles compunham duas músicas por dia. Fazia uma e depois fazia outra.

Pompeo – Era uma parada mais de irmandade.

André – É... Muito irmandade... Depois dessa época, o próximo disco... Qual que é?

Pompeo –Sgt. Peppers.

André – Em Sgt. Pepper o Ringo não fazia nada, ou seja, ficava entediado. O Paul tava ligadeira, pois a idéia foi dele. O John tava fazendo parte. O George não tava muito ligado... Mas no Revolver (enfatizando) e no Rubber Soul eles foram o ápice da criação grupal. Apesar de não a melhor música deles, a melhor música deles está espalhada por todos os discos. Mas a melhor vibe é aquele (o Revolver).

Pompeo – Camelo (Marcelo) ou Amarante (Rodrigo)?

André – Camelo.

Pompeo – Diga-se de passagem que o André matinha conversas com o Camelo na época do lançamento do Bloco Do Eu Sozinho através da internet.

André – Nessa época ninguém gostava de Los Hermanos. Eu sou o maior fã do primeiro disco do Los Hermanos que existe. O Camelo, nessa época, entrava no mirk. Eu conseguia conversar com ele tranqüilo. Eu perguntei sobre o Amarante. Ele respondeu que o Amarante tinha um puta talento, que era o maior fã dele, que tava incentivando ele, botando lenha na lareira dele, queria ver eles crescer, não sei o que... Eu acho que é esse o esquema do Los Hermanos.

Pompeo –Se o Amarante não tivesse encontrado com o Camelo...

André – Não ia ser porra nenhuma. O que eu gosto mais hoje: Amarante. Mas diante de uma pergunta dessas, não é sobre hoje, é sobre o total. O Camelo tem uma coisa de frontman muito legal. Na verdade não é nada frontman. É uma expressão que eu acho mais criativa do que a do Amarante. Foi mais inovadora do que a do Amarante. Amarante é um cara singular. Batendo o olho nele, ele é um cara que parece que não tem limites. Esse é o grande lance do Amarante. A forma com que ele escreve letras, parece que ele inventou aquela porra. Ele saiu do Los Hermanos e não teve nenhuma quebra do seu rock and roll, teve uma continuidade total no Little Joy. Nesse sentido, eu sou mais Amarante. O Camelo saiu e fez uma coisa pior do que fazia no Los Hermanos. O Amarante é um cara descolado. Bebe na fonte Radiohead.

Pompeo – Você acha que eles reinventaram a MPB?

André – Não. Aquilo não é MPB, não tem nada a ver isso. Reinventaram o rock, a MPB, não.

Pompeo – Pergunto MPB porque o Camelo é muito influenciado pelas palavras com que se refere ao amor e ao carinho do modo da MPB. O Bruno Medina (tecladista do Los Hermanos) disse que no primeiro ensaio ficou impressionado com a porrada do som e com o que o Camelo cantava: “Tire essa azedume do meu peito, e com respeito trate a minha dor”. Tira o Popular e chame de MB – música brasileira. Não existe lógica nesse sentido? Tudo bem - é rock and roll porque tem guitarra distorcida e a porrada vai que vai. Eu tenho essa impressão de que os caras remetem ao MPB pela forma com que eles falam sobre o amor, o carinho e a compreensão... Ou posso estar viajando...

André - Eu acho que não reinventaram a MPB por causa da bateria. A bateria do Los Hermanos não é MPB, simplesmente por isso. Mas acho que é uma expressão única. Realmente é inspirador. Eu, particularmente, acho muito seboso. Acho que poderia partir para um lado mais intenso.

Pompeo - Mas existem canções do Camelo que não são sebosas. “Cara Estranho” ou “Da Onde Vem a Calma” são exemplos. Aquela: “Do lado de Dentro”; ele fala também de relacionamento, mas de uma forma bem conturbada.

Pompeo – Cite uma banda independente, fora da grande midea, que você acha foda.

André – Charme Chulo, certamente. Ela faz uma coisa que ninguém nesse planeta de Deus fez, que é transformar a música caipira em algo hediondo. Outra banda que deve ser ouvida é o Vanguart, porque ela traz o lance do Bob Dylan, o que ninguém nunca fez também. Acho que o Felippe Pompeo também... (risos).

Pompeo – Beleza!

André – Acho que ele é um cara totalmente colorido, uma explosão de criatividade. Eu gosto, adoro acompanhar a evolução. Oito Mãos também, que tem as músicas mais bonitas, mais melódicas, desde Gram...

Pompeo – O Gram é outra também...

André – É, mas o Gram acabou, né... Não sei se vale a pena gostar tanto assim...

Pompeo – Das bandas que estão aparecendo...

André – Tem que seguir o teu gosto. Dependendo do teu gosto, vai ter outras bandas. Por exemplo, se você gosta de rockabilly, você vai buscar Sapatos Bicolores, você vai adorar.  Se você estiver numa fase de conhecer tudo, então vai buscar tudo. Certamente tem banda pra tudo, sabe. Tem bandas boas e importantes.

Pompeo – O que significa o sucesso?

André – Sucesso é sinônimo de realização. Se eu falar assim: “eu tive sucesso nisso” – é porque eu fiquei com o peito cheio depois de fazer, eu virei um cara melhor. Existe um André antes e um André depois.

Pompeo – Você acha que é um cara de sucesso?

André – Eu acho que sou.

Pompeo – Você chegou no sucesso?

André – Eu acho que não.

Pompeo – Me explique essa contradição.

André – Chegar no sucesso é – do jeito que a gente usa essa expressão – é você ser reconhecido por todos.

Pompeo – Isso pode ser compreendido como fama.

André – Sim. Mas mesmo assim eu acho que eu obtive pequenos sucessos. Poderia ter acabado a banda... Eu poderia ter saído da banda, poderia ter partido para um projeto experimental. Só que eu insisti nisso. Insisti em 2007, 2008 e em 2009 a gente gravou um disco. Eu nunca me senti tão bem quanto eu me sinto agora nessa banda. O disco está ótimo, tem só música boa. Nesse sentido, eu acho que é um pequeno sucesso. Posso te dizer que sou um cara de sucesso. Só que tem muito mais pra fazer.













 




terça-feira, 7 de março de 2017

O Babaca do Século - William Pereira (O Bill)

Fazer humor se tornou um labirinto nos tempos de agora, pois, finalmente, acordamos. Há quem ainda tente resistir e dizer que o mundo está ficando sem graça, pois não se pode mais fazer humor com a minoria. De fato, sarrar as pessoas, se um dia foi engraçado, é porque você nunca foi o alvo.  Parece que, até então, o humor se baseava nisso - claro, salvo as exceções. 


                                                                            William Pereira(foto divulgação)


William Pereira (cinéfilo, filósofo formado na UNICAMP e dono de bar) nos entrega "O Babaca do Século" (Editora Bigorna, 2016/2017) e se coloca no centro da zoação. A ciência não explica, mas rir dos outros é algo que o ser humano trouxe no seu DNA. Afinal, o que é engraçado? Bill, como é conhecido pelos camaradas de cruzamentos dos acasos, conseguiu perceber que sua vida é inútil e que isso por si já é um baita de um acontecimento. Como diz ele, "a sorte é que as pessoas gostam de mim".  

O livro é um evento, um presente, uma delícia, uma bíblia a ser pesquisada por anos. Em preto e branco, os traços de um cara que nunca estudou desenho nos mostra que seja lá como for, o conteúdo sempre será a maior das mensagens. De babaca, não há nada. É como olhar no espelho: você se vê nas situações simples e verdadeiras que o protagonista passa em 365 dias corridos: seus relacionamentos, suas nóias, seus desejos e suas paixões - exatamente como a vida é.   Extremamente atual, crítico na medida, O Babaca do Século é  livro de cabeceira, de praça, de esperar na fila do banco, de levar para a privada. São quatrocentas e tantas páginas de pura babaquice, sobre as mais puras verdades que a gente possa imaginar, sem o menor medo ou pudor, com a mais perfeita arte de ser irônico. 

Acertou no alvo. 

O que: Lançamento de O BABACA DO SÉCULO.
Quando: QUARTA, 08 de março, das 17h às 21h, No Starbucks do Shopping Iguatemi Campinas.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Algo Espetacular - a turnê de 12 shows.

Terminei 2014 com uma certeza absoluta: Oito Mãos havia acabado. Ou eu estava fora. Se isso seria o fim da banda eu não sabia, mas para mim era o fim. Se você se importa ou não... Na verdade quase ninguém se importava, a não ser minha companheira e dois amigos de internet. Os nobres colegas do dia a dia nem sequer sabem cantar um refrão. Quer dizer, pensando aqui havia algumas pessoas que, de fato, se importavam. "Vocês nos devem um terceiro disco". 

Certo dia recebo um email completamente inesperado. Era  Leandro, nosso guitarrista que cuida - quer ele ou não - da parte burocrática da banda, dizendo que nosso projeto para realizar 12 shows em algumas cidades do Estado de São Paulo havia captado recursos através da realização do Proac. Disse assim, entre um email gigantesco: "Como ou sem vocês, eu vou realizar esse projeto. Adoraria que fosse com vocês, mas se precisar fundo uma banda nova e chamo de Oito Mãos, já que as músicas estão em meu nome". Eu arrisquei. Precisava da grana dos cachês. Disse sim. Logo tivemos respostas dos outros dizendo que sim.

Fizemos uma reunião antes de darmos início ao trabalho. Foi um caos. O que era pra ser um planejamento virou uma lavação de roupa suja. Alguns precisavam disso. Achei necessário. Pois foi ali que deixamos o passado pra trás e resolvemos seguir em frente, 

Havia um medo geral. Conseguiríamos? Seria viável? E o mais importante: seria divertido? Eu achava que 12 shows seriam uma tortura, difícil de lidar. Pra ajudar o medo, Leandro anunciou que teríamos companhia nas 12 datas. Francisco El Hombre participaria para agregar um valor inquestionável aos eventos que seguiriam. Ora, a gente não queria mais tocar para meia dúzia de pessoa. Francisco El Hombre traria esse povo para nos conhecer também. Meu medo era do fracasso diante da beleza do trabalho deles. E eu tinha receio da Juliana, uma mulher de olhar forte, de ideias fixas, do tipo que um deslize moral ao seu lado poderia ser fatal para o bom clima dentro de uma van. Mais tarde eu perceberia que todos eles eram assim. Depois de várias negociações nós os convencemos. Ah, é claro, eles também tinham os receios deles por andar conosco. Onde iríamos parar com isso tudo? Duas bandas completamente diferentes, de pensamentos e ideologias diferentes, com realidades profundamente desencontradas. 

Por um lado, nós - uma banda de 10 anos de estrada formada por caras que não fazem disso o seu emprego. Quatro caras que não tiveram a coragem de largar tudo e seguir viagem. Uma banda de compositores que o único objetivo é tocar, doa a quem doer. Que faz um som barulhento, nada dançante, quase que repelente. Enfim, quatro caras comuns que mal sabem se vestir... Mas que acreditam - muito - na arte que produzem. 

Do outro lado eles. Mateo e Sebastian, duas beldades linda de morrer. Juliana, cada suspiro no palco é de parar o tempo. Gomes, o melhor abraço do mundo. Andrei, uma humildade infinita. A pulsação sonora que vem deles é de contagiar o mais cético. Qualquer praça se enche. Qualquer mal humorado esquece da briga passada. As mensagens de Sebastian nos dá esperança. A presença de Mateo remete à quebra de gênero, tão perfeito, tão necessário, tão natural. O baixo de Gomes vai no peito, junto da batida dos tambores tribais. A guitarra de Andrei encaixa onde antes faltaria ousadia, dando ao som deles algo que só o Rock é capaz de fazer. Juliana canta com o a certeza da certeza, não tem um adjetivo melhor. É certeza de que te fará sorrir, chorar, dançar, sei lá porra. Teríamos alguma chama? Algum vínculo? Algum respeito? Alguma amizade? 

Nosso primeiro show foi em Araras. Montamos um palco e ficou decido que abriríamos o evento, que foi batizado de "Algo Espetacular". Para mim o show foi ruim. Fazia tempo que não subíamos num palco e logo na primeira música a energia caiu. O dono do som era um cara escroto, mal humorado e grosso. Nosso roadie, o Leo, estava aprendendo como lidar conosco e como era nosso som. Acabou nosso show e eu fiquei emburrado num canto, vendo a Francisco El Hombre voar no palco. A melhor coisa desse dia foi conhecer a Jú. Diz ela que eles - os meninos da banda - sempre falavam de mim. Eu sempre via o seu trabalho através da Lisabi e da Mataram Meu Mestre. Mas, como eu disse acima, a Jú tem aquele olhar que intimida. Nunca tive a moral de chegar nas noites que a cruzei e falar "oi, eu sou o Pompeo e admiro o seu trabalho". Sempre tive a impressão de que seria mal interpretado. Quando, de fato, eu sou apresentado a ela, recebo um abraço que me envolve todo e vejo um sorriso largo por trás de seus óculos. Jú diz "poxa, finalmente te conheço". Eu digo o mesmo e embalamos num papo sobre aquele filme da pixar, o Divertidamente. Entre tragos, vou percebendo que essa moça forte, que intima e etc, na verdade é um pão açucarado, cheio de ternura, de um papo maravilhoso. Foram várias as vezes, dali pra frente, que conversamos sobre coisas relevantes e revelantes: trabalho, sociologia, e cosmos. Nunca vou me esquecer. Citando uma letra de uma canção minha, eu disse "eu não me encaixo em nada". Ela respondeu, com aquela ternura atras dos óculos: "ninguém se encaixa". 

Ora, foram 12 shows. É claro que eu não faço a menor ideia de quais foram as 12 cidades. Apenas me lembro vagamente de algumas e lembro pra valer das que valeram demais. Amparo foi massa. No meio de uma praça em pleno domingo. Havia uma geladeira no camarim e fui buscar cerveja com o André. Acho que foi uma das primeiras vezes, depois de toda a treta, que ficamos sozinhos. O papo? Star Wars, o Despertar da Força. Alguma coisa ali começava a nascer. De repente eu não via a hora dos próximos eventos e começava a ficar triste com cada um que acabava, pois avançávamos para o fim. Todos os encontros eram recheados com gargalhadas épicas, muito amor e respeito. Eu fui perceber isso aos poucos. Eu tinha medo de ser humilhado por eles, pois talvez essa era a minha maldade humana - eu humilharia se estivesse na posição deles? A cada show isso foi caindo por terra. Toda vez, do palco, eu os via ali, curtindo, prestando atenção, batendo palmas, e no fim da turnê ouvi da boca deles "a música de vocês é de tocar na alma, é linda demais, de tirar lágrimas". 

Daí fomos pra maior viagem de todos os tempos: praia! Quem não gosta? Dois shows, um em São Sebastião e outro em Ubatuba. O de S.S foi também numa praça, no centro, num auditório lá na puta que pariu. O espírito de trabalho reinava. Todo mundo fazia tudo, de buscar uma água a ajudar na equalização do som. Certa hora eu disse que havia um vidro quebrado para ser varrido, fui correndo atras de uma vassoura, mas o Gomes berrou "Pompeo, pede pra outro, você está ajudando no som e o tempo está acabando". Olhei pro André, que buscou a vassoura e entregou a Mateo, que varreu o chão. A humildade pairava. Gomes é um guerreiro. Linha de frente. Líder nato. Trabalho é seu nome. O primeiro a ir para o local do show em Ubatuba, junto de Leandro e Mateo. Chegamos depois para constatar que havia um pepino daqueles. O som não rolava! E Gomes ali, santa paciência. Eu já tinha largado há tempos. Põe P.A, troca P.A, vai pra lá, pra cá, liga esse cabo e nada dos retornos falarem. Eu, que não consigo disfarçar por nada nesse mundo, fiquei num bode daqueles. Mateo perguntou "pode ser assim, Pompeo?" eu respondi "fazer o que, se tem que ser assim, vai...". Ele me olhou com uma cara de ternura, como se doesse nele. Depois me encontrei na rodinha dos malandros e tudo voltou ao normal. Esse meu jeito é foda... Em Salto o dono do som perguntou para alguém se o som tinha melhorado para o estrelinha. Claro, eu. Caiu do cavalo, se levou para o lado pessoal... Depois do show dei um abração nele e agradeci pela oportunidade e pelo trabalho. Coisas que você aprende com a FEH. Ainda em Ubatuba, duas noites muuuuuuito bem aproveitadas pelas duas bandas. Nós, a FEH, Chistian Camilo (o Tita), o Leo e a Jessy e a Poppy. Jessy é esposa do nosso baixista, o Bier. Poppy é a filhinha dela, que acabou por virar mascote da turnê. No primeiro dia matamos 4 caixas de cerveja. No segundo mais quatro. Tive a honra e prazer de cozinhar um rango vegano para todo mundo. Fizemos um mergulho noturno - eu, o Gomes, a Jú e o Leo. Na verdade o Leo só molhou os pés. Mas ver aquele céu estrelado numa madrugada foi de ter várias certezas para a vida toda. Impossível de contar aqui.  O show de Ubatuba foi numa espécie de aquário, chamado Projeto Tamar. Tudo muito lindo até eu ver as tartarugas marinhas vivendo em cativeiro para "conscientizar" a população. Por um lado, é válido. Fui ver as bichinhas. Colou um técnico monitor do meu lado. Eu perguntei o tamanho do aquário, ele disse as medidas. Eu fiquei olhando com a maior pena do mundo para elas. Ele disse, "porque, você acha pequeno?". Respondi sem pensar duas vezes "acho". Travamos uma batalha de argumentos e ninguém convenceu ninguém. No fim das contas, com o microfone ao meu lado, eu disse "essa música vai para as tartarugas, que têm que ser presas para conscientizar o ser humano". 

Logo em seguida veio o show em Campinas, na Concha Acústica do Taquaral, junto da banda Vanguard. Mais uma vez Gomes, o guerreiro, estava lá antes de todo mundo. Com ele estava o Mateo. Quem vê o garoto de vinte e poucos anos no palco não imagina que ele é uma formiga. Cheguei depois da parte chata ter rolado. Havia 4 mil pessoas confirmada no facebook, mas a gente nunca sabe né... O Vanguard chegou para passar o som e eu reconheci imediatamente Hélio Flanders. Cumprimentou todo mundo e foi se aprumando. Fui para a mesa de som com o Leo. Fiquei viajando no modo do técnico de som deles trabalhar. Espetou um pen drive na mesa e tava tudo pronto, era só ajustar. Mais tarde, no camarim, conversamos muito sobre isso. Com o Hélio eu só dividi a malandragem. Na verdade aquele camarim tava uma parada daquelas. Até homus tinha pra mim! E malandragem pra todo lado. O show foi muito bom. A FEH arrebentou e o Vanguard me prendeu a atenção do começo ao fim. Certo momento Gomes se apoiou numa caixa de som e disse "olha só o que fizemos, olha quanta gente". A Concha estava tomada. Eu, cético e cuzão como sempre, pensei "fizemos porra nenhuma, essa galera veio pra ver vocês de o Vanguard". De qualquer modo, não fizemos feio e fomos bastante aplaudidos. O DJ Xegado tocou "Check My Machine" do Paul e ganhou meu respeito eterno. Campinas havia, mais uma vez, ganhando uma bela tarde de domingo. Ah, não havia sequer um segurança. Foi paz sobre paz. Segurança é pra festa de coxinha. 

Daí, entre tantos, fomos para Franca. O último show. Logo pela manhã fomos à casa dos irmãos Piracés. Fui convidado por Sebastian a tomar um cafézinho. Na verdade eu me convidei. O lugar é realmente lindo e mais uma vez eu confirmei a humildade desses garotos. Seb sempre me tratou muito bem. Talvez eu até tenha falado alguma merda, como um papo sobre deus ou essas coisas, mas eu sei lá... Parece que os caras me entendem - e não me julgam. Sebastian é um doce. Cheguei nele. "Cara, você gosta mesmo do nosso som?". "Claro que sim, pq?" . "Sei lá... Insegurança mesmo". "Mas eu também sou inseguro... Eu não acredito quando dizem que o show foi bom. Eu não gosto muito das pessoas falando, porque parece que estão dizendo só para fazer eu me sentir bem". "Eu sinto a mesma coisa!". "Isso é um resultado natural para pessoas como nós, que tem a coragem de subir num palco e fazer a própria arte". Aquilo foi direto no peito. "Coragem". O Guerreiro do Gomes tinha luxado o pé e havia ficado em São Paulo. As 20 horas Gomes estava entrando no recinto, com o pé enfaixado, gelo, e um sorriso largo. Pegou um ônibus e voou para Franca. "E eu ia perder essa vibe?". O Andrei é um homem ímpar. Namora a maravilhosa Juliana e só de ter um tempo tão duradouro com ela é algo de tirar o chapéu. Como eu disse e volto a dizer, a Jú é foda ( no bom sentido, sempre). Uma vez eu perguntei "vocês brigam?". Os dois responderam "ô!". Um casal modelo. É maravilhoso estar entre eles. Antes de nós uma surpresa: Larissa Baq. Com um pedal de looping a moça fez o que muita gente não faz. Foi lindo de morrer. Depois viemos nós.  Fizemos o nosso melhor show da turnê. Antes de subir no palco, a Jú (mais uma vez ela) veio dizer palavras doces para cada um de nós. Fizemos uma rodinha e o Publio disse "conseguimos, 12 shows". Cai em prantos. O chorão sempre sou eu. Depois do show fizemos aquela festa ao som da Francisco El Hombre. Franca, definitivamente, é a cidade mais interessada a artistas independentes. Foi demais!

Terminamos a turnê feliz da vida. Por conhecer a FEH. Por termos a oportunidade de nos reconhecer como fiéis aventureiros corajosos da arte. E, por fim, sair com a ideia de um terceiro disco. Afinal, pra que mais serve essa coisa toda? 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

The Endless River




Ando sacando essa coisa de energia. O ano inteiro eu debati sobre isso com qualquer um que se encaixasse no papo. Coisa científica ou não, essa parada de energia existe. Ponha o dedo na tomada e você vai entender. Tome um banho de cachoeira e você vai sentir. Algumas coisas são difíceis de descrever, porque a gente sente. Por exemplo um bumbo na mixagem de uma música. Você passa a ouvi-lo acima dos médios graves. Os sub graves você sente e daí pra frente se tem uma tremenda dificuldade em executar com exatidão esse instrumento da bateria. O show de David Gilmour está sendo difícil de descrever. 

Li alguns artigos e resenhas sobre o acontecimento. O produtor dele disse que o dia 12/12/2015 foi o melhor show de todos os tempos. No UOL analisaram a técnica e a história do guitarrista/cantor do Pink Floyd. Vi uma aí de um cara falando merda das pessoas que pareciam não ter o mesmo conhecimento que ele sobre a obra da banda britânica (na verdade ele só quis dizer o quão ele é foda em conhecer isso ou aquilo e blá blá blá). Conhecimento serve para encantar. David nos encantou. 

Passados dez minutos das 21h, as luzes do estádio do Palmeiras se apagaram e toda a energia canalizada foi liberada. David Gilmour, um senhor com veias saltitantes nas mãos e papo mole branquelo com barba a fazer, surge pequenininho. Veste preto e podemos senti-lo aparecendo no palco. Pra quem, como eu, estava longe, compreendíamos que ele estava ali pelo barulho maravilhoso de uma multidão feliz da vida. Ouve-se o timbre inconfundível. O mesmo dos DVD's, dos discos, dos videos do You Tube. Eu assistia tudo isso a minha vida toda a partir da descoberta do Floyd e pensava "será que um dia vou ver isso?". O sonho estava sendo realizado. 

O delay da guitarra que saía da PA entregava a vitória. O triunfo. David Gilmour estava na minha frente e ao meu lado 40 mil mentes - algumas dispersas, sim, mas outras penetrantes. A sensação ainda é de insegurança. Estou sonhando? A percepção é técnica. Gilmour entoa três canções do seu último disco - o qual eu ouvi PRA CARALHO - e me ligo no som, na luz, na banda, na dinâmica. O show de Gilmour - como nos discos do Pink Floyd - em alguma vezes é baixinho, suave. Em outras vezes uma ensurdecedora massa sonora. 

Então ele toca Wish You Where Here e eu desperto. Gilmour aparece no telão pela primeira vez. Me toco que, de fato, há um deus na minha frente. Desabo como os fanáticos religiosos fazem na igrejas. Aquela é minha igreja. A gente está louvando - não ao homem - mas à arte e à música. Choro que nem criança e abraço minha amiga Giovana e meu novo caro Ramon. A gente se brinda pela eterna lembrança que ali está sendo construída. "How i wish! How i wish you where here!" entoa o estádio. Penso em Berret, em Mason, em Richard e Roger. Penso em mim. Quantas vezes ouvi isso na minha vida e desejei a aparição de um deus do rock?

Daí pra frente é loteria ganha. Felicidade eterna. Money deixa claro sobre ao que o Pink Floyd veio: grana existe e é inevitável, mas não é fonte da verdade. O babaca que gritou "fora Dilma" no banheiro não entendeu nada dos discos. Us And Them é avassaladora. A voz de Gilmour parece não ter sofrido um arranhão sequer.. Ele grita no refrão junto de seus apoios vocais. Mesmo com dois puta backing vocal eu consigo distinguir a inconfundível dicção vocal de Gilmour. 

High Hopes com o violão de nylon tocado no dedo. Nos deixa com o intervalo de 20 minutos e volta arrebentando a boca do balão com Astronomy Domine. Nesse momento eu estou praticamente de frente para o PA. Time e Run Like Hell são momentos de uma assustadora intimidade com a guitarra. Nunca vi nada igual na minha vida. vida. E nunca vou ver. A básica Fender Stratocaster (comprada em 1970) vira um avião na mão do cara. Não houve um sequer errinho humano. Nada! Todas as notas são perfeitas. Todos os bends são exatos. Não há ninguém me minha mente, nesse exato momento, que toque aos pés de David Gilmour. Eu sempre soube que ele era incomparável. 

E o fechamento dos fechamentos. A chave de ouro. Comfortably Numb nunca foi uma das minha preferidas - assim como Creep do Radiohead só foi me pegar no show deles - a faixa do The Wall é o resumo do show de Gilmour. Começa com dinâmica, baixinha, e vai subindo, subindo, subindo, e chega no mar da claridade eterna. Em meio ao solo de guitarra a banda vai se mostrando porque foi contratada. A cada volta de compasso o batera e o baixista arrebentam. Cada virada de tirar os pés do chão. O(s) tecladista(s) faz a cama de som para Gilmour passar. Após incansáveis repetições da sequencia final de acordes e solos, nossos mestre olha para a banda, faz um sinal com o braço da guitarra (mais rock and roll que isso, impossível) e eles terminam no si menor inesquecível. David Gilmour se despede da gente e diz "até a próxima". Será que para mexer com nossas esperanças? Ele volta e eu estarei lá. 

O Pink Floyd é eterno, um rio sem fim. The Endless River.

Foi muito gratificante. Foi uma demonstração de carinho.

Obrigado, David.