quinta-feira, 26 de setembro de 2013

BRAVO - sei lá que dia é.

Acho que se passaram umas 3 sessões de gravações desde o último post sobre meu novo disco. De lá pra cá, o europeu Luis Alcaide foi gozar férias no antigo mundo, praias portuguesas e paella de todos os tipos com todos os arrozes e ervas. Voltou novo que só. Eu também tirei minhas férias quase frustradas de agosto, quase porque o chalé que aluguei em Ubatuba não oferecia a menor segurança. Além do mais, algumas baratas nos visitaram durante o dia e a noite. Mas como estamos numa nova onda de comer menos carne e salvar os animais, me recusei a matar as pobrezinhas e aceitei em conviver com elas. Nesse tempo de viagem (também rolou 2 dias em Minas Gerais) levei meu violão e iniciei algumas coisas bem interessantes, a ponto de já pensar no próximo disco - já tenho nome e tal e tal... mas vou segurar essa informação. Só posso dizer que será menos pretensioso e mais caseiro (ou não, eu prefiro ser uma metamorfose ambulante). 

Há uma canção em Bravo - "O Dia de Minha Morte" - na qual eu queria usar minha guitarra Gabriel Semi Acústica. A tal guitarra está no luthier, mas não a terei tão brevemente. Então preferi criar um arranjo de teclados e controladores e, pela primeira vez na vida, uma canção minha não terá guitarra elétrica. Acho que usamos umas 2 horas pra criar e executar esses Pad's. Depois colocamos camadas e camadas de vozes no final da canção (é uma faixa longa).

Nos dias seguintes mergulhamos na árdua tarefa de gravar as vozes,  foi aí que tudo pareceu ser cada vez mais difícil. Eu não sei se andei compondo em tons que não são meus, ou não sei se esse papo de tom é para ser levado muito a sério... Em Bravo eu vou do mas baixo tom - onde é sempre uma tortura ter que afinar e cantar bem tão baixo - ao mais gritado berro - ambos os picos de variações aparecem pouco. Na verdade, Bravo é um disco tímido e calculado para não ser excessivo. Procurei não repetir algumas fórmulas de Esperanto e Sol, mas em alguns momentos isso é inevitável, pois se trata do mesmo artista tocado, cantando e compondo nos três discos: eu.

Em Bravo há momentos extremamente pop, coisa que há tempos deixei de tentar evitar, isso é meu e está impregnado no meu sangue. Esses dias estive reouvindo alguns discos dos Paralamas e não me lembrava do quanto sou influenciado pelo Hebert.

Mas, voltando ao assunto das vozes, cantar é o resultado da repetição. Talvez (talvez) cantar bem seja não se render aos inúmeros takes até que a pessoa que esteja te guiando dizer "agora sim". Ouvir sua própria voz passando por um microfone condensador que chega ao pré-amplificador valvulado e volta aos seus ouvidos pode ser uma armadilha. Teu instinto, ao se ouvir nos fones, diz que você está super afinado. Ao tirar os fones e ir para a técnica, você percebe que o take foi sem vida, sem ousadia e, para tua completa surpresa, desafinado. Inicia-se uma quase eterna busca pela perfeição, e se tratando de gravação digital, isso quer dizer que você pode tentar quantas vezes quiser, com o detalhe de que a hora do estúdio é paga e esse tempo não pára. Aos poucos a gente vai usando "técnicas da perfeição" - dobra uníssona de vozes, colocar as vozes em seus devidos lugares e, por fim, "molhá-las" com reverbs, delays, e o que mais tua imaginação permitir. No fim das contas, percebemos que teremos que passar o melodyne em minhas vozes. Não vejo o menor problema com isso, com a úncia condição do que eu estou fazendo aqui e agora: assumindo tal coisa. As pessoas têm mania de dizer que isso não foi feito em seu disco. Grandes produções usam essa ferramenta. O que também gosto de dizer é que esse papo que o Rick Bonadio diz de que "hoje qualquer um pode cantar, a ferramenta vai lá e corrige" é a maior mentira. A ferramenta funciona para quem já sabe cantar. São finais de frases, notas seguradas por muito tempo, canções muito difíceis de cantar. Eu sei cantar, mas o padrão de hoje nos faz usar tal ferramenta para deixar tudo mais limpo e mais sonoramente aceitável.

A verdade é essa. Oito Mãos NÃO usou melodyne no Aliás, apenas em Vejo Cores nas Coisas. Eu usei melodyne em Esperanto, mas NÃO em Sol. Não me pergunte porque. São coisas da vida, do momento. Talvez eu tenha feito canções para outras pessoas cantarem em Bravo. Eu nunca saberei. Ontem terminamos as vozes e o Luis me disponibilizou as tracks para eu analisar se vou querer refazer algo. Chega a doer ouvir a própria voz num material tão bruto, do jeito que ela realmente é, sem efeito, sem tratamento, a ponto de você perceber suas cordas vocais imperfeitas.

Música é um eterno enigma. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Minhas piores contribuições (pegando carona no post passado)

Pegando uma carona no post de artistas geniais e seus piores discos, me lembrei de que tenho coisas que considero pior do que ando produzindo nos últimos três anos. Não que eu me considere genial (mas, afinal, se eu não me considerar, quem vai?). A seguir, duas canções de coisas que eu fazia numa época em que facebook não existia nem na imaginação dos criadores de filmes de Hollywood.

Variações do Amor nasceu numa madrugada careta, bem careta. Na casa dos meus pais, usei o meu pc e seu microfone e gravei uma demo. Me tranquei na sala enquanto meus pais dormiam tranquilamente e gravei. Tempos bons aqueles. O Lucidas havia acabado de vez e eu estava começando a trabalhar com Oito Mãos. Quando eles gravaram "História de Outra Vez" e "Guarde a Última Dança" no estúdio Basement, por Caio Ribeiro e Tarcisio Oliveira, eu aproveitei a carona e gravei essa canção, juntamente de "O Nosso Amor". 




O Nosso Amor

A veia pop, que ainda se mantém viva em mim, nessa época era ainda mais presente. As experimentações ficavam por conta das vozes - se bem que, pensando aqui, as coisas aí já começaram a ficar ousadas. Eu havia descoberto Brian Wilson e os Beach Boys e tudo o que eu queria fazer na vida era ser o Brian. Caio Ribeiro até hoje me chama de "Brain Wilson de Campinas". E houve um conflito na minha mente entre Beatles e Beach Boys, algo bem resolvido nos tempos de hoje. O gozado é que eu penso nessa época e o tempo é muito estranho. Parece que foi ontem, esse dias... 

O Nosso Amor eu não me lembro muito bem quando foi que fiz nem em quais circunstâncias. O que posso dizer é que faz parte da leva de incríveis canções que fiz para a minha mulher Silvia Maria, todas devidamente engavetadas, esperando o dia certo para serem gravadas devidamente e publicadas de qualquer jeito (do jeito que sempre fiz). 



Variações do Amor

Eu considero essas duas faixas como um EP, pois são de uma data que nada mais fiz e mudei algumas coisas no meu modo de compor de lá pra cá. O que me incomoda nessas duas faixas é justamente a falta de maturidade. Tem muita coisa! Eu não canto bem - meus vibratos são exagerados, em finais de todas as frases lá vem ele, e mal feito! Eu coloquei muita camada de vozes, louco por soar como os Beach Boys. Na bateria está o meu irmão, o Ítalo Antonucci, e também penso que eu não soube conduzi-lo - há muitas viradas, há muitos hi-hats, é pop demais. E é muito melada! Nossa, açucarada demais! O amor é lindo, mas deve ser entoado com um certo cinismo, não tão atolado na palavra amor. Nas duas canções, aparece essa palavra. Também não sei da onde veio a ideia ridícula de colocar All Arround the World e Hey Jude no meio disso tudo. Muito menos sei da onde veio a pífia ideia de colocar uma pausa de 3 minutos no meio de uma canção. 

Mas, de qualquer modo, foi bom ter feito essas canções. Tem gente que até hoje fala delas. É como dizem por aí, ou por aqui, eu sei lá mais como é que andam as coisas: Pra meter o pau, tem que ter algo para meterem também. 




domingo, 15 de setembro de 2013

Bandas incríveis e seus piores discos.


Toda banda genial - e, se tratando de genial, tem aí no mínimo uns 6 discos na carreira - tem seu pior disco. Quando me perguntam qual é o meu disco preferido de uma das minhas bandas preferidas, eu sempre respondo que não sei, que é mais fácil responder qual eu menos gosto. Confesso que depois que entrou na minha cabeça, de uma vez por todas, que a questão do gosto é algo tão pessoal e subjetivo quanto o próprio cu, ficou difícil escrever sobre essas coisas. Quando questionei Pablo Myiazawa sobre as críticas de discos na revista Rolling Stones, ele meio que respondeu que isso não era algo muito levado à sério pelos editores e que não deveria ser levado a sério por nós e pelos artistas e pelos seus fãs - é apenas um guia! OU SEJA, não leve isso aqui a sério. MAS, se por ventura você se ofender com algo que eu disser aqui, meu mais sincero foda-se!


OASIS - Heathen Chemistry. 


A tradição é uma coisa a ser levada muito a séria por alguns fãs. Carlos Miranda - produtor de discos no Brasil - disse que o pior inimigo do arista é o fã, que sempre espera a mesma fórmula, para se alegrar naquilo que o agraciou. Mas o artista não pode se prender em sua fórmula e deve sempre tentar ousar. Esse quinto disco da banda inglesa veio de uma série de experimentações - Standing on The Shoulder of Giants trazia moogs e outras coisas malucas e já anunciava que o Oasis estava cagando e andando para o seu passado perfeito - os 3 primeiros discos. Heathen Chemistry mostra um Oasis iniciando o seu fim - embora eles voltariam com mais dois discos fortes. A banda não soa como sempre soou, eles parecem calmos demais. Embora há canções lindas - estamos falando de artistas geniais - Heathen Chemistry tem uma atmosfera fria e preguiçosa. 


THE BEATLES - Beatles for Sale.


É aqui que entra todo o sentido desse post. É impossível dizer o melhor disco do seu artista preferido, sendo muito mais fácil dizer aquele que você menos gosta. Embora eu ame o For Sale por conter No Reply, I'll Follow the Sun e Eight Days a Week e por se tratar dos Beatles é claro, For Sale é apressado. Não há uma lembrança que faz o coração bater. O próprio nome diz que é um disco para ser vendido e ponto. A audição desse exemplar é breve, arranjos subestimados, uma encomenda da gravadora para o natal de 1964. Os grandes executivos exigiram demais de toda a equipe fenomenal que trabalhava com os fab. Em resumo, sua capa é mais bonita que seu conteúdo. 

DAVE MATTHEWS BAND - Everyday. 


O mais legal dessa banda liderada por esse sul-africano era a soma das melodias tocantes com o groove pesado e quebrado da cozinha orientada por Carter Beauford na bateria. No disco anterior de inéditas, Before These Crowded Streets, eles quebraram o tempo musical, deram porrada no peso do rock and roll, fizeram referência à música africana, gozavam da liberdade desneurótica do próprio descobrimento, sem limites, com possibilidades surgindo em todos os horizontes. Quando chegamos em Everyday, eles optaram por fazer música pop para tocar na rádio. E foi aí que eles vieram parar no Brasil, foi aí que muita gente que ouve pagode passou a postar no facebook canções da banda, foi aí que eles ativaram o meu compressor preconceituoso com coisas feitas para se vender, foi aí que essa banda ficou uma merda e eu parei de ouvi-los. Embora há sangue real da minha família que encare essa banda como eu encaro os Beatles, simplesmente não consigo mais achar a Dave Matthews pós Everyday tão efervescente quanto na época de Before e seus antecessores. 


COLDPLAY - Mylo Xyloto



Vai tomar no cu. Esse disco é uma merda. É uma decepção. Ouvi apenas UMA vez e não tive a menor vontade de fazê-lo de novo. Não por preguiça. Não por desinteresse ou por qualquer outra coisa mais negativa do que o início dessa resenha nada jornalística. Mas o que houve? Vontade de chegar no Chris Martin e perguntar onde foi parar aquela banda de rock and roll tão crua e ao mesmo tempo gigante. Não consigo acreditar que é a mesma banda de Parachutes e A Rush of Blood to The Read. Não consigo aceitar que se trata de uma banda que produziu clássicos. Deve ser cruel ter sua arte tão acessada numa grande exibição, ficar famoso e fazer uma cagada dessas. Não é possível que uma banda com tão bom gosto achar que esse disco, o Xixi xyloto, merecia ter o nome do Coldplay vinculado. Se um dia eu ouvir eles falarem "mas essa disco é foda", acho que darei minha gargalhada mais gostosa. Uma grande pena. Coldplay, gênios da porra. Mas esse disco é uma merda. 

LOS HERMANOS - Los Hermanos. 


Só poderia ser o primeiro disco do quarteto carioca ser o pior deles, porque o que veio depois até hoje soa como único e insuperável. Los Hermanos é uma banda que deveria ser referência para todas as outras bandas. Uma grande surpresa, numa época em que diziam "não fazem mais música como antigamente", que é o que andam dizendo hoje. Só que hoje se faz sim, é que o povo não conhece. Na época do LH se fazia também. Eles pegaram o trem certo e foram pro lugar certo. Ainda bem! A música boa como antigamente sempre existiu, pois antigamente não existe. Los Hermanos 1 - vamos chamá-lo assim? - é dos tempos de hoje e dos tempos de amanhã, assim como tudo que foi citado aqui. O problema do UM é que ele soa redundante. A pegada hard core que os caras amavam somada com a doçura corna e a tristeza amorosa nas letras de Marcelo Camelo e de um tímido Rodrigo Amarante fazem de UM ser uma coisa meio mala. Além do mais os timbres são muito iguais e , desculpe a redundância, redundantes. Anna Júlia e Primavera se destacaram como bonitinhas e todo o Brasil sabe cantar e sorrir diante das duas. O restante virou hino nos encontros casuais dos loucos por Los Hermanos. 


PINK FLOYD - Ummagumma. 


Essa sim é uma banda que nunca teve medo. Erraram? Foda-se, toca pra próxima. E toda vez que acertaram, o fizeram com todos os êxitos possíveis e impossíveis. Mas todo gênio tem sua errada na mão. Tirando a capa, Ummagumma é demais para a minha cabeça. São tantas camadas que eu me perdi no colchão. Não entendeu? Pois é isso mesmo... O experimentalismo do Floyd funcionava quando havia compreensão, um refrão, uma linha... Em Ummagumma tudo o que temos são xadrezes, espirais, retalhos, vapores, raios amarelos, egos entrelaçados numa dança dos ventos de baixo. Uma puta duma viagem longa que não chegou a lugar algum. 


RADIOHEAD- Pablo Honey


Creep, pra não dizer que é a canção mais tocante e mais linda do Radiohead, não consegue ser suficiente para fazer de Pablo Honey um clássico. Embora tenha apresentado a banda ao mundo, eles viriam com coisas mais precisas e indispensáveis posteriormente. Tecnicamente, o disco é mal feito. Diferente do Oasis, onde a falta da técnica no início que dava toda a graça, o Radiohead precisava encontrar o seu som, o seu drive e os volumes das coisas todas. Mais uma banda divisora de águas. Mas a impressão que se dá com esse disco é que eles ainda não sabiam exatamente do que eram capazes. Algo completamente normal. A partir de The Bends, eles mudaram nossas vidas. 

MICHAEL JACKSON - Invincible



É muito triste ver o maior artista de todos os tempos se despedir do mundo com um disco tão indiferente. Michael, nesse momento, era dono do próprio nariz, dos próprios horizontes e fazia exatamente o que quisesse da vida e de seus discos. Invencible é tão inesquecível quanto a Terra do Nunca ou os papos furados sobre abuso de crianças. O disco até abre animalescamente, com um riff groovado de tirar o folego e uma voz que corta a mente de qualquer um, mas daí entra, de novo, um rapper. E o decorrer do dele não nos deixa perdoar o tal rapper. Invencible é uma obra que parece ter sido feita sem a menor vontade e comprometimento. Que pena! 

GUNS AND ROSES - The Spaghetti Incident?


Por fim nessa lista sem o menor fundamento, eis o disco que me inspirou a escrever esse post (sem fundamento, eu já disse). Coloquei ele para ouvir novamente no som do meu carro, pensando "é, eu cresci um pouco, amadureci, vamos ver se mudo a opinião sobre ele". A tristeza nesse enlatado é justamente que se trata do Guns de Use Your Illusion. Produzido por Mike Clink, o gênio por traz da mesa de som de todos os discos do Guns, The Spaghetti Incident não empolga em nada. É a prova viva de que não adianta tocar muito. Slash não lembra em nada o cara dos deliciosos solos e riffs dos discos passados. Clink não se mantém presente (a não ser nos timbres de bateria de Matt Sorum, sempre fodas pra caralho, com o reverb na medida). Erraram toneladas em deixar Duff McKagan cantar tanto. E, por fim, Axl... Anos depois veríamos o seu retorno. Que cara estranho! Ele era a representação do que toda mulher queria levar pra cama e do que todo garotão queria ser para levar essa mulher pra cama. Mas isso não se trata de música nem do disco acima. Que raios acontece com esses caras? Desde o nome, da capa, de toda a esquisitice presente nesse disco, depois de um épico álbum duplo vendido separadamente, eles resolvem gravar cações punks antigas de artistas consagrados. Até hoje não entendo a razão disso tudo. Ficou ó, uma merda!