quarta-feira, 11 de março de 2015

Monique Caetano - Alguma Coisa Vai Acontecer

Conheci Monique sobre circunstâncias peculiares da vida. Ela era (é) amiga de uma amiga de minha mulher. Certo dia elas se esbarraram e eu fiquei sabendo da existência desse curioso ser. Eu a imaginava uma moça grossa (não no sentido de má educada, mas no sentido de falar grosso e coçar o saco), branquela e de cabelos curtos. Algum tempo depois cruzei com ela num bazar da minha mulher. Nesse dia eu toquei com meu amigo Felipe da Oito Mãos. Monique era grande fã da banda e fui apresentado a ela com os seguintes dizeres: "Fê, essa é a Monique da qual te falei que foi lá em casa". Monique é linda, morena de cabelos cheios. Um olhar penetrante que demostrava, naquele momento, curiosidade por qualquer merda que saísse de minha boca. Voz bem menos fina do que eu imaginava, mas ainda sim cheia de personalidade. Falamos sobre música, é claro. Não me lembro se ela chegou a falar de si sobre ser cantora. Só sei que ela estava lá não apenas pelo bazar, mas para ouvir o som que iriamos fazer. Tocamos e depois a Jéssica - amiga da minha mulher - teve a brilhante ideia de pedir para Monique dar uma canja. Ela ficou extremamente sem graça, mas de tanto insistirem ela foi. Pegou meu violão e tocou. Havia uma timidez ali, mas também havia uma necessidade de vencer o medo do ridículo. Eu pensei "opa, que coisa..." E comentei com alguém "Essa moça daria um belo disco". Até cheguei a mencionar algo que eu não lembro, mas que ela jura que eu disse: "Você precisa de alguém para te gravar, mas esse alguém não pode ser eu no momento". 

Aí o momento passou... E, que coisa, chegou o momento. Pedi para ouvir suas músicas e ela me mandou as gravações básicas que estavam no You Tube com os dizeres "Fê, não repara na má qualidade". Tudo era muito visceral e muito cru. Basicamente eram folhas de cadernos rabiscadas com as letras das canções e alguns acordes. Se essas canções dizem algo - algo forte, direto e assustadoramente sincero e biográfico - mas estão cruas, isso é um prato cheio para um produtor musical como eu. A chance de agarrar obras de arte e molda-las seguinte o caminho que você quiser. 

Algumas eram bem diretas no sentido de arranjo e estrutura, como é o caso de Só Eu e Você, faixa que abre o disco com uma virada de batera e Monique Canta sem parar para tomar água - é uma enxurrada de informação sonora - mas simples, é claro. "Todo mundo diz que somos tão jovens pra saber do amor, mas essa gente tão sábia anda tão infeliz".  Por falar em batera, escalei um grande músico - meu irmão Ítalo. Foi fácil gravar 8 das 10 canções (duas eu toquei a bateria porque eu simplesmente queria). 

Outras eram quase diretas - o caso do samba A Graça Dela, que tocamos na porta do rock, abrimos a porta e sorrimos dizendo um sussurrante "oi". Ou a sacana Ímpar. Porque sacana? Uma música dessa é sacanagem... Porra. Linda demais. 

Preciso mencionar Calmaria - um rock que me deu espaço para fazer um final longo e cheio de camadas. Nessa canção tivemos memoráveis sessões de gravação do que chamamos de festa. A ideia foi abrir uma cerveja e se embriagar na frente do microfone, tudo isso de madrugada. 

Por fim, Lavar o Sol é a minha preferida porque ali eu realmente peguei uma tela branca e pintei do jeito que mais me deu na cabeça. "Eu vou levar o Sol mesmo a quem só me trouxe a tempestade". Mais cristão que isso, impossível. 

São 10 canções que eu tive a honra e o prazer de tirar da gaveta da artista e transformar em canções de disco. Ela virgem de estúdio e eu ainda procurando a tacada certeira. A cada disco que eu faço tenho a certeza absoluta de que acertei. Dessa vez não foi diferente. A gente sabe que alguma coisa vai acontecer. Todo dia algo acontece. Monique foi uma grande coisa que aconteceu. 

Viva a música.