sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Aliás, o vinil.

Depois que entrei para a Oito Mãos, minha vida só foi subir degraus. Essa banda é a maior que eu já participei e, pelo jeito, temos muita lenha para queimar. Quando eu realmente acho que já deu, cá estamos nós sendo presenteado com o acaso. 

Quando comprei uma vitrola - após ter ouvido o Revolver num sebo em Itatiba-SP - cacei todos os discos que amo. Eu vibrava a cada Band On The Run que achava nas lojas, levava pra casa e me deliciava com o som do vinil. Percebia que o Dark Side Of The Moon tinha mais dinâmica, silêncio era silêncio, porrada era porrada, pianinho era pianinho. 

Foi quando, após começarmos a pensar em gravar um novo disco para a humanidade, eu disse "e se a gente prensasse em vinil?". A coisa era impossível. No Brasil - tinha que ser né - só existe uma empresa fazendo isso, cobrando um preço exorbitante com a falta de concorrência. Era praticamente impossível, um duro e tortuoso sonho de ser alcançado. 

Gravamos o disco. Mixei o disco. Masterizamos o disco. Sonhávamos mais um pouco.

Até que teve um dia que eu chamei o compadre Felipe Bier para dar um rolê em sampa, queimar umas verdinhas - to falando de dinheiro também - em mais discos de vinil. Entramos numa loja de uma moça simpática que já veio me zoando de maluco - eu devo ter cara de maluco. Entre compras e outros papos, lançamos a ela que éramos uma banda. 

"Ah tá, e cade o produto de vocês?" - essa pergunta nos deixou de cara no chão. Deve ter uns 800 CDs do Vejo Cores na casa do André e a gente simplesmente não sai com ele por aí. "Vocês têm que vender, sem esse papo de consignação. Eu teria comprado uma caixa de vocês". Sim, ainda tem gente que acredita na mídia física. A razão? É simplesmente o melhor. Foi quando, nesse mesmo instante, dissemos que estávamos gravando outro disco e que nosso sonho era prensar em vinil. Ela nos passou todos os contatos, e nós sabíamos que prensar na gringa era mais barato. E funcionava!

Daí pra frente toda a parte burocrática foi feita pelo Bier. Aqui deixo o meu mais sincero obrigado. Quando esse cara põe algo na cabeça, ele faz acontecer. 

A prova do LP chegou ontem. Cheguei em casa, dei comida para as cachorras, tomei um banho, troquei de roupa e coloquei a bolacha dupla pra tocar. 

A viagem que passou pela minha cabeça foi tamanha que eu não conseguia pensar em outra palavra além de uma: surreal. 

Quando a gente diz que está gravando um disco, as pessoas não têm muito a noção do que isso realmente quer dizer. Alguns dizem "você está gravando um CD?". Mas, dessa vez, eu posso dizer: gravamos um disco, porra!

O Aliás versão vinil tem 4 lados. A pausa que há entre as canções é cinematográfica. Você adquire, entre um lado a outro, tempo para assimilar as coisas - é um disco longo. No formato vinil a mixagem finalmente pode ser ouvida do jeito que ela foi concebida, como se você tivesse ouvindo dos falantes do estúdio. Hoje eu posso dizer, quase que prepotente: Quer ouvir uma mix minha? Compre o vinil. 

A isenção do compressor - absolutamente necessário para as masterizações digitais (CD) - nos dá um quê de segurança no que se ouve. O que se passa na agulha é de tamanha precisão que dá a impressão de que a banda está na sua sala, tocando ao vivo. Não sei dizer se é porque o trabalho é meu. É muito diferente. Também não sei dizer se é a impressão que temos na ranhura da agulha com os sulcos do vinil. O físico girando realça os graves, os médios e os agudos. As canções porradas - A Vitrine, Um Amigo, Infância, Lá se Diz e Linhas de Fogo - ficam mais "soltas", dando uma profundidade tamanha. 

O que impressiona é o retorno ao passado. A tecnologia atual é normal aos nossos olhos acostumados com PS3. Mas ao submeter-se à tecnologia antiga (e põe tecnologia nisso) você se vê rodeado de significados. 

Nós fizemos história lançando esse disco nesse formato. A alegria é indescritível. Eu passei por tanta coisa nessa vida de música - estou só começando - que fica complicado conter a emoção ao ver, finalmente, o teu disco! A internet é pequena. O Mp3 é surrado. O Wave é logaritmo  Sim, eu sei que gravamos em Wave, mas a ranhura do físico acaba com isso tudo. 

Fizemos o Aliás com uma placa de som M-Audio Fast Track 8R, compressor DBX ligado no automático. Vozes plugadas no pré Blue Tube da Pré Sonus, utilizando um microfone AKG Perception 120 (o mais bosta da categoria). Guitarras Gibson SG plugada num Fender Blues Deluxe microfonado num SM 57; guitarra Fender Telecaster Mexicana plugada num Fender Hot Road Deluxe. Contra baixo Fender Jazz Bass Marcus Miller ligado direto na placa. Tudo isso em 16 bits. Sim, 16 bits. 

E daí? 

HAHAHAHAHAHA!! PORRA!! PUTA QUE PARIU!!! NÓS SOMOS A OITO MÃOS, MUITO PRAZER! 

Viemos para nunca mais sermos esquecidos. 

Fazendo história.