quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Batman, o herói que não existe.


Gente dedicada faz a coisa certa.

Isso serve para o Batman, isso serve para o Christopher Nolan.

Num primeiro momento temos a história contada através de mentes brilhantes. Pro inferno os amantes dos quadrinhos. Esse filme foi feito para os amantes de filmes, para os que gostam de uma boa trama policial e suas conclusões emblemáticas, daquelas de fazer a gente ficar pensando um bom tempo depois que os créditos sobem na tela. No meu caso, tive que vir imediatamente escrever sobre, após perder a versão cinema e assistir (com uma boa carga de atraso, confesso) na minha televisão LCD amparada pelo excelente Blue-ray do meu PS3. 

Diga-se de passagem que o Coringa valeu pela trilogia. Não há um psicopata a sua altura e nunca haverá uma mente hitleriana tão ofensiva quanto ao do palhaço interpretado pelo inesquecível Heath Ledger - isso é indiscutível. 

Outra coisa que me surpreendeu foi o bico calado das pessoas que iam assistindo o filme. Apenas diziam "é demais, é fenomenal" mas nunca entregando o jogo, sabendo que, se contassem o que acontecia, privaria o próximo de uma experiência inspiradora, a mesma que me trás as palavras aqui. O filme e seu desenrolar, em si, é superável. Tantos e tantos foram feitos. Mas  a conclusão, ah, a conclusão! Tudo bem que grandes expectativas geram grandes decepções, então se você ainda não viu esse filme, não gere as melhores. Mesmo porque eu duvido que você que está lendo esse texto ainda não viu. De qualquer modo, foda-se.

Nolan é da leva dos grandes profissionais que sabem gastar dinheiro. Não é um desperdício de conta bancária. Ele nos brindou com um marco, conseguindo fazer melhor do que já foi feito. Do inesquecível Batman de Tim Burton, Nolan apenas melhorou - esqueçam Joel Schumacher e sua tendência colorida, aqueles foram tempos nada sombrios, esbanjando otimismo. Batman é da escuridão, é da feição sem sorriso, do sorriso irônico, é sobre perder e nunca ganhar. É doar no piloto automático (puta merda, piloto automático!!!). 

É difícil falar desse filme porque citar os ocorridos seria acabar com as surpresas, e são elas que nos brindam. Ainda bem que existem mentes brilhantes com capital de sobra para fazer essas coisas absurdamente geniais e gigantes. O mundo agradece. 



Batman é o tipo de herói real. Seu poder é o dinheiro. O verdadeiro poder, as verdinhas. Será mesmo que teríamos um playboy que arrumaria nossa cidade? Que varreria os corruptos? Que daria muita porrada nos Dirceu's e Sarney's e Maluf's? Nos traficantes que tentam, dia ou outro, matar a polícia com verdadeiros atentados terroristas? Será que daria certo um cara com tanta grana que faria armas e aeronaves mais qualificadas que as do próprio governo e, assim, levar paz aos morros do Rio? Um cara sangue nos zóio para dar esperança ao povo? 

Isso não existe. Ninguém pode nos salvar do nosso inevitável fim, da nossa inevitável pré-disposição ao mal. Não existe tal coisa e não imagine que há gente disposta a colocar as mãos na lama para manter a sua limpa. É por isso que o mito de Batman, o homem-morcego, o faz tão peculiar. Trata-se de uma história real, é o Tropa de Elite americano, o sonho do herói do povo, que não vê credo ou time de futebol ou raça ou grana - ele vê moral e justiça. 

Que o herói que há em todos nós, na imaginação das telas de cinema e da sua casa, nos lembre do quão limitados somos e, por isso mesmo, nos deliciamos com histórias bem contadas. 

Estoure uma pipoca para comemorar!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Aos homens que mataram Cristo.


Se você morresse sabendo que iria ser julgado, o que pensaria? Tenho a leve impressão de que certas pessoas creem na graça porque do contrário estariam em verdadeiros apuros. Imagina só, você aí, todo errado, todo pecador, ser, um dia desses, julgado? O pior julgamento é o que fazemos a nós mesmos.

Na época de hoje, coisa entre 22 e 25 de dezembro, fala-se um pacote do maior personagem contemporâneo de todos os tempos - Jesus Cristo. Dizem ser o próprio Deus encarnado, dizem ser apenas um homem de muita moral, dizem ser o verbo da criação. O que dizem por aí se não nada e ao mesmo tempo tudo?

Mas por trás de tudo que se diz sobre o Cristo Terrestre, a coisa que mais me atrai é justamente a sua morte e o seu bom senso. Amor e morte. Amou seu inimigo e morreu por seu ideal, seja lá qual fosse ele. Alguns até pensam que esse cara não passava de um maluco. Talvez sim, afinal, somos todos loucos não é mesmo? Ainda mais os homens brilhantes. Se hoje a gente ri de um cara que se diz ser santo, que cura, que diz que tem um pai no céu e etc, imagina há 2 mil e tantos anos atrás? Os caras matavam!

Ouvi uma certa história de que o espírito de Adolf Hitler está trancado em um diamante. Parece até coisa de Super Homem, lembram-se dos três vilões de preto que eram trancados em outra dimensão? Então... Depois lembrei da Jean Grei, do X-Men, que era uma mutante tão forte que deveria ser controlada. O diamante que controla o espírito de Hitler - seria ele um animal? Um monstro? A personificação de Lúcifer na Terra? Seria ele merecedor do julgamento que toda a humanidade lhe dá? Seria ele uma personalidade tão forte que qualquer lembrança sua nos dá aquele desprezo pelo homem e a sua capacidade de ser mal?

O mal é necessário. Não duvide disso. A doença é verdadeira. A vida é cruel. A Terra é um lugar onde nós, seres humanos encarnados, viemos aprender algo; e aprender requer repetições, até que conseguimos fazer a coisa certa sem pensar muito, quase que automaticamente - você foi alfabetizado desse jeito, veja como funciona.

Como, então, iremos julgar Judas Escariotes e os soldados romanos que mataram Jesus Cristo? Como faremos juras contra os sacerdotes que se viram confusos diante de um judeu que curava, impressionava e que dizia ser o filho de Deus e rei dos judeus? Alguém tinha que apertar o gatilho, se não a história de Cristo não seria lembrada até os dias de hoje. Alguém tinha que colocá-lo na cruz, para essa virar o símbolo de muita gente. Hitler é o gatilho da humanidade nos dias de hoje e tem gente que ainda não aprendeu. Exige muita repetição! Mas é tranquilo, o Sol ainda tem muito o queimar, a humanidade tem muito tempo para aprender.

Jesus Cristo foi o primeiro a perdoar e não julgar. Aceitou o seu julgamento para, sei lá, perpetuar... Vai saber. Disse ele (e aqui me pergunto quem foi que ouviu ele dizendo isso para seu Pai lá nos céus, pois estava sozinho no jardim né?) que era um fardo muito pesado. Sentiu medo. Sentiu a dúvida, será mesmo que os seres humanos mereciam o seu sangue? Espero que um dia tenhamos essas respostas.

Se, de fato, o criador, o verbo, que esteve presente na criação, o mesmo que disse "meu reino não é nesse mundo", estiver nos esperando em algum outro lugar, onde nesse lugar a LEI será aplicada de um modo moral e tão justo que ninguém verá necessidade em quebrá-la, gosto de acreditar que há um fim muito bonito para nós, nos esperando calmamente, enquanto a humanidade caminha em passos de formiga - como canta Lulu Santos.

De qualquer modo, tenha um bom Natal.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um fã - Jefferson Inácio Pereira

Certa vez abri o face book e havia uma solicitação de amizade de Jefferson Inácio Pereira. Mandei uma mensagem perguntando quem era ele. Disse algo do tipo "conheci a Oito Mãos, virei fã e queria manter contato contigo". Na época eu nem mais era da banda, havia sido convidado a me retirar dos trabalhos artísticos e me vi colocado pra fora, pois, pela primeira e única vez na banda, todos acataram a decisão de um. Hoje, prestes a ser lançado o maior trabalho que eu estou envolvido - é claro que isso é uma questão pessoal e meramente mimosa, vejo vários comentários a respeito do que anda sendo lançado - primeiro o clipe de Passo a Passo, depois os dois aperitivos do filme produzido pelo Tita, e logo o filme em si.

Como artista, ter um fã é algo indispensável. Resumindo, é massagem de ego. E o ego necessita ser massageado, sabe como é, né... Pelo Ego perdi muita coisa e ganhei quase nada, pra não dizer nada. Deixando meu ego de lado (o que chamam por aí como humildade) eu consegui participar de um disco com os mesmos que acataram a minha saída da banda. Confesso que o fiz por mim. Porque, independentemente do que eu acho realmente dos meus companheiros de banda, as canções que esses caras escrevem são de outro cosmo. Então optei por entrar no trilho, porque se fosse pra ser como antes, não tínhamos passado nem do primeiro ensaio.

Fica aqui o texto escrito pelo querido Jefferson, um grande fã de música, do tipo que chora quando ouve algo espetacular - que nem eu.


18/12/2012 - 15:37

Oito Mãos - Algo Espetacular

Grande dádiva é uma boa promessa q nos faz sonhar além e alcançar, maravilhosa coisa é
quando o sonho, mesmo que distante, concede partes que nos permitem contemplarmos sua
concretização. Essa é a experiência que se tem ao assistir o belo filme Algo Espetacular.

O sonho, que é o futuro cd da banda Oito mãos, revela-nos sua realização em pequenos
trechos mostrados no filme citado. Este filme, belíssimo trabalho do grande "multi-talentos"
Christian Camilo, conta fielmente como se deu a formação da banda campineira Oito Mãos.
A história da banda garante grandes emoções ao ilustrar o encontro de seus integrantes. A
espontaneidade mesclada ao talento, carisma e simplicidade de André Leonardo, Felipe Bier,
Felippe Pompeo e Leandro Publio abrilhantam cada cena. Estes jovens e experientes músicos
dedicam respeito, empenho e amor à música, mutuamente, afim de desenvolverem a arte
cantada e tocada pela Oito Mãos.

A Oito Mãos permite aos fãs apreciarem o brilho dessa grande pérola que está chegando,
o cd Aliás, ao lançarem e disponibilizarem gratuitamente o single Passo a Passo e, logo em
seguida, seu clipe. O lançamento garantiu á Oito Mãos 2.890 likes em sua página no Facebook.

A humildade e generosidade dos quatro membros que formam a Oito Mãos faz com que os
fãs tenham total acesso e contato com cada um deles, isso, afirma o fã Jefferson Inácio Pereira,
residente em Goiânia GO, é um exemplar diferencial. Ele confirma que já foi presenteado
por Felippe Pompeo, baterista da banda, e que também recebeu cartas assinadas á mão pelo
próprio. Jefferson Inácio enfatiza que ama as músicas da Oito Mãos e que a bondade dos
integrantes aproxima a distância entre São Paulo e Goiás. Essa virtude e várias outras o faz
admirar cada vez mais a banda.

Christian Camilo não economizou talento e esforços afim de nos emocionarmos com a
qualidade de vídeo e áudio do filme, trabalho digno de aplausos. Ali, em meio á um cenário "in
natura" direcionou seu foco á particularidade de cada um dos integrantes da Oito Mãos
coletando relatos e encenando talentos. Com apurado bom gosto alucina á todos ao utilizar
trechos de canções do cd Aliás na trilha sonora do filme.

Assim, através do filme Algo espetacular , temos essa maravilhosa coisa... o sonho
concedendo partes que nos permitem contemplarmos sua concretização. Aliás, sonhar além
e alcançar. Assistam, vocês verão que esse filme... essa banda... essa história ... é ALGO
ESPETACULAR !!!

por Jefferson Inácio.

FUCKING CHEEARS!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Aliás, ninguém te perguntou nada.



                                         Christian Camilo

"Nunca gastamos um centavo para nada, só ganhamos concursos e essas coisas que dão incentivo financeiro. Sempre investimos na música, ainda não fomos viajar com essa grana, não é a hora ainda". 

Da última vez que falamos com Felippe Pompeo, ele acariciava Madalena, a sua Pit Bull branca. Hoje ele está entre duas vira-latas incrivelmente parecidas – Maria Bethânia e Pantera Ponte Para Terabítia. “Quem deu esses nomes foi a minha mulher, e vocês achando que eu que sou maluco” diz ele enquanto abre a porteira de sua casa em Joaquim Egídio para nossa equipe, somos cercados imediatamente pelas duas cachorras marrons. Toda vez que Felippe está incluso em alguma produção, cá estamos nós do “Blocos de Cimento” para poder entender um pouco mais sobre sua função na comunicação musical – mesmo que ninguém dê a mínima.


Os Blocos de Cimento – Você disse que não iria parar nunca. Realmente, parece longe de uma pausa.

Felippe Pompeo – O que eu posso fazer? Sou movido a isso. É o que dá sentido a minha vida.

Bloco – Você fala de um jeito que parece triste...

Pompeo – Tristeza também é um sentimento. A vida é uma mistura disso tudo não é mesmo? Felicidade, tristeza... Só que nós damos sempre ênfase à tristeza, não sei por quê. Se você tiver a resposta, me ajude.

Bloco – Não faço a menor ideia.

Pompeo – Somos todos uns condenados ao trabalho, a angustia. Medo e essas coisas que vem com o pacote da fecundação. Não pedi para nascer e não pedi para gostar de fazer discos, mesmo sabendo que isso nunca me levou a lugar algum. E não estou sozinho nessa. Converso com um monte de gente talentosa e todos sentem o mesmo – há tanta gente foda no mundo e poucas são reconhecidas pelo seu talento.

Bloco – Então não reclame.

Pompeo – É inevitável. O que eu faço, geralmente, é olhar ao redor e pensar que poderia ser pior... Sempre poderia ser pior. Essa coisa da angústia, quando bem administrada, nos fortalece. Foi desse modo que o Aliás foi concebido – e aqui eu falo por mim.

Bloco – Aliás, que nome hein!

Pompeo – Forte não é? Quer dizer o que você quiser pensar. A banda é muito boa. Antes eu era produtor, moldamos as coisas, colocamos quadros e tudo mais na sala. Hoje eu faço parte da banda, toco bateria e produzimos juntos todo o material do disco novo, que sai em janeiro, se tudo der certo.

Bloco – E como poderia não dar certo?

Pompeo – Sempre há essa possibilidade. O disco foi gravado com plug ins piratas, você pode imaginar o parto que foi.

Bloco – O que há em Amparo-Sp?

Pompeo – Uma chácara do pai do guitarrista, o Publio. Sempre vamos pra lá e eu sempre tive vontade de varar uma semana lá gravando um disco inteiro. Montamos nosso equipamento e foi o que fizemos, numa semana gelada de julho, das dez da manhã as dez da noite. Foco, muito foco no trabalho e a certeza de que iríamos sair de lá com o disco todo gravado.

Bloco – Conte mais, então...

Pompeo – Eu havia saído da banda. Fui convidado a me retirar na função de produtor. Nesse tempo eu terminei o Sol. O Adhemar entrou em um concurso publico e foi morar em Belo Horizonte, deixando os caras na mão. Eles tentaram tocar com outras pessoas, mas o óbvio me chamava, pois além de conhecer todas as canções do Vejo Cores Nas Coisas, eu lido muito bem com eles musicalmente falando. Parece que nascemos um para o outro. Recebi o convite via email e fiquei muito contente. Aceitei na hora, e se eu soubesse que ia exigir tanto do meu espírito, talvez eu nem teria entrado no barco. Mas ainda bem que eu não sabia.

                                                                                               Christian Camilo
"Eu prefiro meter o pau nos grandes – no Foo Fighters, por exemplo, ou no U2. Sou formiguinha perto de dinossauros. Então foda-se".

Bloco – O que quer dizer?

Pompeo – Vocês não acreditam mesmo não é? Acham que gravar um disco é sentar, fumar maconha, beber pra caralho, gravar os takes e ir rindo a cada take. Não é assim. Há todo um processo doloroso por detrás disso e eu acho que o ego é o maior deles. Somos vulcões prestes a explodir. E isso machuca. Somos democráticos a ponto de criar uma burocracia insuportável, quando não há espaço para a menor ditadura. Qualquer coisa eu um não concorda, para tudo e volta do zero. Qualquer coisa que um quer e diz com convicção, quer dizer que está impondo... E por aí vai. O resultado final é incrível, pois nada sai na moleza, tem que ralar, tem que chorar, que persistir.

Bloco – O Aliás foi gravado por vocês também, que nem o Vejo Cores?

Pompeo – Exato. Usamos nossas coisas, nossos plug ins e softwares piratas. Compramos compressores e guitarras novas. Uma bateria nova e tudo o mais. Fizemos a pré-produção no Nosostros Estúdio, do Roger Ceigon. Mas antes disso nos encontrávamos na casa de um ou de outro “ó, tenho essa música, o que acham?” – e ia sacando no violão. Quando tudo ficou engessado, foi a vez de gravar. A gente levantava naquele lugar maravilhoso de Amparo as nove da manhã, tomava café e ia pro canto de gravação. Enquanto dois de nós pilotávamos e gravávamos, outros dois almoçavam. As dez da noite parávamos e íamos dormir lá pelas duas da manhã, bêbados, é claro. Não houve tempo para o futebol, mas para a cerveja e o Playstation 3 teve sim.

Bloco – O que mudou do Vejo Cores para o Aliás?

Pompeo – O Vejo Cores é um disco do caralho. Foi feito sob merecimento. Nunca gastamos um centavo para nada, só ganhamos concursos e essas coisas que dão incentivo financeiro. Sempre investimos na música, ainda não fomos viajar com essa grana, não é a hora ainda. O Aliás é mais maduro, mais sério. Mais focado no trabalho. Dessa vez a gente confiou um no outro. O Bier trouxe “Pacificamente” e eu lembro de pensar “fudeu, não faz o menor sentido”, mas mesmo assim respeitei o colega de trabalho no que ele acreditava ser uma boa canção e assim fazê-la – e eu tenho certeza de que muita gente vai dizer que essa é a melhor do disco. A gente foi mais profissional, lidamos com todos os problemas da melhor forma em prol da banda jurídica. Pois não há uma pessoa física que comande isso tudo, por mais que muitas vezes qualquer um dos quatro possa pensar o contrário. O André até brincou certa vez dizendo que deveríamos colocar no encarte “produzido por Oito Mãos sob treta, muita treta”.

                                                                                                          Silvia Montico
       "Isso que me faz ficar de pé, a certeza de que o meu trabalho é foda. Oito Mãos é foda".

Bloco – O fato de vocês quiserem sempre estar tomando conta da direção de tudo não revela a causa de produzirem, gravarem e mixarem sozinhos?

Pompeo – Concordo. Mas também porque nossa grana foi gastada com equipamento e não com estúdio. E também porque a coisa do caseiro é muito gratificante. Reconheço todas as limitações do trabalho, mas também reconheço todas as perfeições, e pra mim elas sobressaem. Por exemplo, eu não usei nenhum plug in para corrigir desafinações, por questões nossas, e você vai ouvir todas as desafinadas ali, somos autênticos, não somos mentirosos, somos rock and roll. Não há correção de bateria ou de guitarra. Não há borracha. É aquilo mesmo, é a gente tocando e cantando no tempo e afinados. Não usar o corretor vocal só vai engrandecer as partes perfeitas – é o caso de “Algo Espetacular”, uma canção simples e linda, muito linda. Além do mais, sem algumas pessoas que emprestaram seu talento sem cobrar nada por isso, não teríamos vindo até aqui, é o caso de Fabio Boto, Christian Camilo e Silvia Montico. 

Bloco – Não vai criticar os trabalhos milionários?

Pompeo – Claro que não! Se acha que vou meter o pau no Sertanejo Universitário ou no High School Music, esqueça. Já fui disso, hoje acho que isso é a maior perda de tempo. Os frustrados metem o pau nos obviamente ridículos para se engrandecer não sei do que. Eu prefiro meter o pau nos grandes – no Foo Fighters, por exemplo, ou no U2. Sou formiguinha perto de dinossauros. Então foda-se. Agora, meter o pau no ridículo é chutar cachorro morto, quebrar madeira para exibição de karatê. Quer usar o melodyne ou o auto tune, manda ver! Mas use direito!

Bloco – Vocês vão prensar em vinil... Numa época em que ninguém mais faz isso...

Pompeo – Cara, em que mundo você vive? Dá um pulo na Saraiva ou na Cultura. Tá tudo lá, lançamentos e relançamentos no vinil. Todo mundo está falando sobre isso e recomendo que você compre uma vitrola o mais cedo possível e saia comprando seus discos preferidos em sebos, pois o preço disso tudo vai voltar a ficar caro – já é. O nosso vai ser duplo, então vai ser caro. E não vamos ficar “compre, pelo amor de Deus”. Azar é teu se não adquirir o seu exemplar. Fazemos isso por nós, eu e o Bier somos apaixonados por discos de vinil. O sabor do som é outro, é comparar um vinho brazuca com um chileno – a mesma cor, mas outro sabor. O cd perdeu o seu valor, fez a música virar um cartão de visitas. O mp3 tirou toda a proposta de fazer música maior que a vida. Essa é a nossa proposta. O Aliás contém 13 músicas de puta que pariu de foda. Eu tenho absoluta certeza disso. E se a pessoa que ouvir não achar isso, eu acho que essa pessoa é burra. Sabe os fãs da coisa ridícula? Então... Isso que me faz ficar de pé, a certeza de que o meu trabalho é foda. Oito Mãos é foda. Pouca gente faz canção para tirar lágrimas dos olhos. Muita gente lança material para vender, para entreter, para trepar. A gente faz para marcar a vida de um. Sempre vai ser assim. O vinil vai reforçar isso. O cara compra um LP do Aliás e pra sempre vai ser impressionante. O disco está impressionante. Não há mais nada a se fazer, divulgações, promoções, correr e tocar... Ninguém dá a mínima. Somos uns idiotas falando de nós mesmos e de nossos sonhos.

                                                                                               Christian Camilo
                               "A bateria é o instrumento mais fácil de cagar numa canção".

Bloco – Da última vez que nos falamos, você disse que não esperava mais nada da música... Acabou de tocar na palavra sonho. O que me diz?

Pompeo – (pensativo) Fazer um show no Circo Voador, na Lapa- RJ, é um sonho. Possível né, porque tá lá... Eu vivo uma vida real pessimista e sonho quando estou fora da realidade. O Circo é real. A vibração lá é fora do comum. Vi Little Joy e o Amarante chorando naquele lugar, é de outro mundo. Amo o Rio e o seu vento salgado.

Bloco – Vamos falar de instrumentos. O que você, de fato, toca?

Pompeo – Nasci cantando. Depois meu pai me deu um violão. Depois eu percebi que a lógica da guitarra era a mesma. Mais tarde percebi que tocar guitarra era diferente. Depois percebi que baixo era mais fácil que guitarra e violão, mas que exigia uma marcação de tempo próximo ao bumbo. Depois ganhei um piano e segui a lógica de 3 dedos e fazer a mesma coisa com as duas mãos. Depois não queria ensinar baterista nenhum a tocar minhas músicas e encarei o instrumento nos meus discos. Logo o Oito Mãos me chamou para tocar bateria na banda. A bateria é o instrumento mais fácil de cagar numa canção. Quanto mais shows a gente faz, mais eu me sinto seguro. Às vezes a baqueta cai, mas eu não estou nem aí. Gasto uma energia gigantesca, me machuco todo, minha coxa fica roxa ao fim dos shows e meus dedos enchem de bolha. Minha caixa 14x8 não aguenta as porradas de rinchotes que dou e cede afinação em todos os shows. Fico puto com isso porque o nome do instrumento é BATERIA, então deveria aguentar. Pontos negativos pro seu Odery, que mandou fabricar caixas nos Xing lings e estão fazendo de qualquer jeito... O mesmo acontece com o banco da série Privilege – são uma merda. De qualquer modo, eles estão ricos. Mas eu me sinto muito bem quando as pessoas vêm e dizem “porra, tá tocando pra caralho”. Me machuco todo, mas é muito gratificante. Sou o tipo de cara que adora montar e desmontar uma bateria, é um ritual.  A gente está fazendo uma série de shows pra ninguém, há um lugar pra tocar e a possibilidade, a gente aluga uma van e tudo o mais e vai. A gente se diverte, toca e vem embora. Tudo isso pago por uma parada de incentivo cultural que até hoje não sei o nome... Não me ligo muito nisso, me ligo mesmo é na música.

Bloco – Qual foi a causa de desistir de assinar a mixagem do Aliás?

Pompeo – A burocracia, é claro. Se eu fosse o cara que havia mixado, algumas coisas que estavam de agrado dos outros integrantes não entrariam. Mas, como eu já disse, é tudo muito democrático. Algumas coisas não me agradam, mas isso é pessoal. Não fará diferença no ouvido das pessoas. Mas foi o meu modo de dizer “caras, não concordo com esse reberb aí, tirem o meu nome da mixagem, coloquem como feito pela banda”. Mas fui eu quem mixou, sim.

Bloco – E quem é o teu baterista preferido?

Pompeo – Putz... Fudeu. Mas vou citar... Steve Gadd, naturalemente. John Bohan, naturalmente. Ringo Star, puta merda...! E meu pai diz que eu imito o Abe Laborial Jr... Vai saber. Na fila do show do Paul McCartney geral me zoava “olha o Abe ali” (Abe Laborial Jr . é o atual baterista da banda do eterno beatle).

Bloco – E, pra finalizar, da onde vem essa idiotice de ficar fazendo entrevista com você mesmo?

Pompeo – Ninguém nunca terá o culhão de me perguntar o que você está me perguntando. Ninguém nunca se interessará por me perguntar coisas além de “cite suas influências” ou “conte como a banda começou”, essas coisas genéricas do jornalismo preguiçoso. Eu tenho muito a dizer, mas ninguém me pergunta nada. E ninguém melhor do que eu mesmo para saber exatamente sobre o que eu quero falar.


                                                                                                                                                          Christian Camilo
"Eu tenho muito a dizer, mas ninguém me pergunta nada. E ninguém melhor do que eu mesmo para saber exatamente sobre o que eu quero falar".