sexta-feira, 15 de maio de 2015

Os clipes da Oito Mãos.

Vi um vídeo de Noel Gallagher falando sobre os clipes do Oasis e me senti inspirado a fazer o mesmo com a banda na qual participei. Esse será um post longo, então a intro é só isso.



História de Outra Vez


Tudo era feito por nós. Até o fim de 2014 ainda era desse jeito. Jamais fomos de deixar algo nas mãos de um especialista e sempre nos julgamos especialistas em tudo. A verdade é que nosso lixo era sincero. Esse clipe foi gravado na casa que o Bier morou na infância, pisos de taco que ressoam o caminhar - daí que ele tirou "passo a passo, estalam as pontes sobre o magma de uma antiga infância inventada". Foi um dia feliz, todos se amavam. Adhemar era o nosso baterista e eu ali metendo o dedo em tudo quanto era canto que não era chamado. Eu fumava um cigarro atras do outro. Eles tocaram pra valer a música enquanto filmavam. Arrumamos uma caixa com potência e ligamos o material que gravamos no Basement com o Tarcísio Jr. e Caio Ribeiro. Publio editou, sempre teve paciência pra essas paradas e sempre foi ele quem cuidou dessa coisa de edição visual - as capas dos dois discos são obras dele. 


Guarde a Última Dança



Não sei de quem foi a ideia. Só sei que começamos a falar sobre sair fazendo filmagens de casais dançando em festas de formatura, casamento, baile da terceira idade, rastapé, a puta que pariu... Fomos deixando a coisa de lado porque ia dar um trampo da porra, e ninguém queria ter esse trabalho pra si. Alguém teve a ideia de roubar cenas de filmes famosos e uma amiga do Bier - Ruth Almeida -  fez o trampo que ninguém queria pra si... Quem viu essa música ao vivo insistia em dizer que era a melhor canção da banda - mesmo depois do lançamento de Aliás. 



Oito Mãos na Pucc




Isso não é um clipe, eu sei. Mas tem história. Eu não queria por nada nesse mundo participar dessa bosta, mas eles estavam aceitando até velório para tocar. Tentei fazer a cabeça deles (como todas as vezes que eu tinha uma opinião diferente, quem nunca?) mas eles nem deram bola. Iriam com ou sem eu. Foi o Adhemar quem arrumou essa roubada dizendo "pô, são os caras da Pucc, é uma oportunidade". Sempre caguei pra esse papo de oportunidade. Eu sabia no que estávamos se metendo. Eu fazia Pucc nessa época e foi nesse palco que fizemos nossa prova de Expressão da Comunicação, que nada mais era do que uma peça de teatro. Eu sabia que os técnicos da Pucc apareceriam com um microfone de lapela para nos captar e sabia que teríamos que tocar no volume 1. E também sabia que isso era um exercício de alguém ali inserido na Pucc. Acho que foi ao ar na TV PUCC. 


Claire



Pra você ter uma noção de como eu era (sou) escroto, o vídeo abre com um esporro meu: "Isso é um ensaio, não é uma gravação". Bier dá um sorriso sem graça e posso ouvir o pensamento do André. Mas o que eu gosto nesse vídeo são os elementos - minha Cort na mão do André; esse local na casa do André - onde foi gravado Vejo Cores; Adhemar na bateria - apesar de não ser um puta batera, era um cara divertido de trabalhar junto; o Zé irmão do Adhemar (que está filmando); e lembrar que eu tinha disposição de levantar as 9am dum sábado para ensaiar. Os vizinhos da Querubim Uriel deveriam querer nossa prisão. Claire é incrível, em qualquer situação. 


Passarinho



Vejo Cores Nas Coisas não tem um clipe decente. A gente ainda meio que não se atentava aos detalhes técnicos. Passarinho é um presente. Esse clipe é outra manifestação da felicidade de se ter uma banda e fazer as coisas juntos. Percebe-se no olhar do André a coisa toda. O desenho do Publio... Nossas ideias eram assim. A capa de Vejo Cores é assim. Eu morava com meus pais e ficava na casa do André até uma da matina. Com certeza essa filmagem foi feita depois das 23h e Cida (a mãe do André) já deveria estar sonhando e acho que Passarinho foi a trilha. 



Grave Lacuna



A gente tinha dúvidas quanto a nossa qualidade artística. Quer dizer, será que tínhamos? Falando por mim, eu acho que sim... Ninguém nunca disse nada, nossos shows eram para poucas pessoas interessadas e nossa luta era mais para ter um lugar ao sol do que para se sentir vivo. Não tínhamos um puto para investir - veja nossos videos até então. Até que nos inscrevemos em dois festivais: Cena Musical Independente, organizado pela secretaria de cultura do estado de SP e o Unifest Rock, organizado pelo Marks, o cara do rolê independente de Campinas. No primeiro, com sede em São Sebastião, eu só queria ficar doidão o tempo todo e curtir a brisa de ser a única banda de Campinas e conseguir estar lá. Nosso prêmio foi investido nos equipamentos necessários para gravar o Vejo Cores. Nunca me senti tão bem na vida como aqueles dois dias no litoral. Recebi a notícia de ter sido aceito no festival pelo meu querido Elthon Dias. Levei champagne no ensaio para comemorar nossa primeira conquista - a disputa era ser selecionado, o prêmio era garantido. No Unifest (o vídeo acima) foi mais legal ainda, porque foi aqui na cidade. Uns caras olharam torto para nós. Foda-se. Eu sentia, no meio da apresentação, que éramos uma banda FODA e que nada tiraria isso da minha cabeça. Foi aí que fiquei aliviado.Ganhamos - acho que o quarto ou terceiro lugar - e o prêmio foi usado para prensar Vejo Cores Nas Coisas. Grave Lacuna foi uma explosão escrita por André que nos levou a um novo degrau. 


Passo a Passo



O Ailás começou assim: nos inscrevemos nesses esquemas de incentivo cultural e rolou. Tínhamos um objetivo de fazer uns shows pelo estado e tínhamos direito à nossa parte. Mais uma vez, investimos. Eu havia saído da banda e o Adhemar também. Me chamaram de volta para assumir as baquetas e eu aceitei. Esse clipe inaugura nossa leva de clipes de verdade. Foi dirigido pelo Tita (Christian Camilo) e foi um dia maravilhoso no apartamento que o Bier morava em Sampa - o apartamento do Sol. A luz ali é incrível. Eu tava numa ressaca monstro, mas conservava um bom humor. Na verdade eu bebi na noite anterior porque estava feliz por fazer parte da banda. A ideia foi exatamente o que aparece - filmar a gente fazendo a capa de Aliás. Capa essa que veio da neurose de Bier em anotar as coisas de sua pesquisa de Guimarães Rosa em post it. Cheio de discos de vinis (Bier herdou a discoteca do pai) passamos uma tarde ouvindo tudo. Teve cerveja, cigarro de palha, café, cigarro de amêndoas e poucos takes dublando um alto falante de I-Pad - eu tremia ouvindo minha mixagem naquela bosta - mas deu tudo certo. 




Reserva


Tita - que ainda estava trabalhando conosco - cismou que Reserva era um hit. Dizia que o solo do André era espacial. Eu concordo. Então resolvemos fazer o clipe dessa, mas com a mesma proposta de Guarde a Última Dança - pegar cenas famosas e mesclar com algumas nossas e nossos cachorros. Quem aparece comigo é a minha vira-lata Maria Bethânia.  A história dos cachorros, etc, já cansei de falar. Como se trata de um post para fãs da Oito Mãos, quem lê sabe qualé. Tita disse que o vídeo iria ficar viral. Mas acho que ninguém entendeu nada de nada. Nem eu. Confesso que não gosto do clipe, mas tem seu charme. Tita fez tudo sozinho. Brigado Titanic! 



Linhas de Fogo


Acho que já contei a história desse clipe um zilhão de vezes. Mas basta dizer que foi mais um que estávamos presentes. Foi gravado no Horto Florestal em São Paulo e foi uma zoeira eterna. Só me lembro de rir o tempo todo. Tinha uma equipe de cinco pessoas, nunca havia visto tanta gente envolvida numa parada da banda! Gabriela Albuquerque é uma atriz de verdade e eu fiquei abismado uma hora que o diretor disse "Gabi, agora você faz cara de curiosa" e ela fez! Na época me parece que as Manifestações de 2013 atrasaram o clipe (não me pergunte como nem porque) mas acabou valendo a espera. Linhas de Fogo é divertido pra caralho. PS: a ideia inicial do André era gravar uma bailarina mandando ver na performance e a trajetória de seus passos seria guiada por linhas de fogo - ia ser impossível financeiramente. 



Ex-Namorados


Mais um clipe que "encomendamos". André entrou em contado com essa incrível artista, explicou algumas coisas e ela comprou a ideia. O resultado é de tirar o fôlego, porque casa tão bem com a canção que é difícil de acreditar que alguém não ligado à banda teve tamanha precisão em seu trabalho. Carol Pedalino foi ímpar e sua atuação e isso só enriqueceu o poder de Aliás. Tempos depois, Tulipa Ruiz lança um clipe em que uma moça segura um buquê de alface... Ex Namorados é o nosso recorde de exibição: 21.819. Não quer dizer nada, é só um número. 






Infância


Feito por Salomé Selomué, essa gringa pirou na coisa. E nos fez pirar. O clipe é tão intenso que o torna um pouco difícil de ver. A música é aquele batuque tribal infinito e esse visual faz do vídeo uma experiência peculiar. Acho que ela pintou mesmo e fotografou cada take e fez tudo isso na moda antiga. Uma artista que vale muita grana, mas como nós está no corre para divulgar o trampo. Claro que pagamos para ela, mas não o que ela merece.  Terceirizar a parada dava menos trabalho, mas o próximo clipe nos deu mais trabalho... 





Pacificamente




Deu um trampo do caralho. Acordamos 6am, descemos para Ubatuba e foi um corre daqueles. Para você ter uma ideia, começamos a filmar era umas 16h da tarde. Os caras da Firehouse Media estavam lá desde cedo e começaram a fazer imagens. Paramos a filmagem na praia logo que começou a anoitecer e estávamos varando de fome - ninguém almoçou, só amendoins e essas coisas. Rangamos uma pizza, tomamos uma cerveja e relaxamos. Já na casa da praia, o diretor disse "Galera, vocês se importam de fazermos mais alguns takes?". Claro que não... Estávamos cansados, mas... Foi um dos melhores dias da minha vida. Quem não gosta de praia e água salgada tem sérios problemas com a própria existência. Roubei um terno do meu pai e acho que até hoje ele não sacou que foi para cair no mar. Depois, na casa da praia, cerveja, cigarro de palha, cigarro de tâmaras egípcias, vida sendo compreendida, algo espetacular... Foi daqueles dias que eu quis pausar para a eternidade. Uma energia soberana, mesmo sabendo que coisas incrivelmente escrotas aconteciam ao mesmo tempo. A relação da banda estava indo pro brejo, mas gravar Pacificamente foi um último esforço (não menor que o nosso último show) e valeu muito, mas muito mesmo, ter feito parte dessa banda. 





Algo Espetacular



Algo Espetacular foi criado com o meu "foda-se, façam o que quiserem". Eu estava fora, puto da cara, e não queria saber de mais nada. Como em Pucc, eles disseram "tudo bem, vamos fazer sem você", e fizeram. Mas eu estava tão puto que não consegui (e ainda não consigo) admirar o clipe. Eu só conseguia pensar "filhos da puta". Não comentei nada e não compartilhei. Engoli em seco essa obra prima da Firehouse e desse senhor que não faço a menor ideia de quem seja. O clipe é de uma pureza surreal, que fechou nossa trajetória com maestria e tudo o que eu conseguia sentir (ainda sinto) é a pena de uma coisa tão bonita ser tão pouco apreciada, a começar por mim. Oito Mãos é uma banda que você ainda vai ouvir falar muito por aqui e nas mesas de bares (o que estou dizendo, nunca mais frequentei bar) ou seja, por aí... A gente ainda vai se esbarrar muito, eu, os caras e você, nosso fã!


Ah, tem o de Infância 2, mas aquilo eu prefiro nem comentar.