sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Mr. Trip





The Beatles - Magical Mystery Tour - 1967

Essa é coisa desse disco - os Fab te chamam para uma viagem sem compromisso. Após Sgt. Pepper, Paul vem mais uma vez com suas alucinantes trips e pega o volante da banda. John está completamente entregue ao vício de Heroína e LCD, um tanto distante das atividades profissionais que lhe eram forçadas como um beatle. Mesmo assim, ele vem com a filosófica I Am The Warlus, onde os efeitos do LCD são, mais uma vez, usados como fonte de inspiração - "Eu sou você, você está aqui e somos todos a mesma coisa, jutos" (ou algo desse tipo). Anos depois, Jim Carrey interpreta com maestria essa canção num disco de George Martin chamado In My Life (poderia ter criado um nome melhor, mas essa não é a praia de Martin).  O curioso é que Magical Mystery Tour não foi concebido para ser um disco em si, mas sim a trilha sonora do filme homônimo, que na época, por ter sido lançado em preto e branco, não fez muito sentido e a crítica caiu de pau, pela primeira vez, num trabalho dos Beatles. "Eles foram longe demais, quem pensam que são?".

Nessa época (até um tanto antes) Paul McCartney tinha todas as portas de Londres abertas para si. Sua casa era frequentada por tudo quanto é tipo de figura, desde artistas plásticos a escritores de uma era que ficou conhecida como beat. Claro, todos devidamente fornecidos de haxixe. Ou seja, além das portas estarem abertas, ele abria a sua casa para muita gente. Linda disse que, quando entrou em sua casa pela primeira vez, era um verdadeiro canto sujo de um solteirão - na geladeira, apenas um pedaço duro de queijo velho e um litro de leite podre. Mas era no salão de música que a mágica acontecia. Paul havia pedido para um sujeito pintar seu piano de armário, e a pintura pode ser vista até hoje nas turnês de Paul, aquele arco-íris psicodélico.

Nessa mesma sala de música John Lennon podia ser visto pelas pessoas que circulavam aquele verdadeiro cortiço. John e Paul apresentavam as canções um para o outro, e eles a avaliavam e faziam ajustes, dando palpites de letras, harmonias e outras partes. A mesma coisa acontecia na casa de John quado Paul dava um pulo por lá - John era um cara casado, recluído e meio puto por não aproveitar a vida como o boêmio Paul o fazia.

A música tema que abre o disco foi composta por Paul, num gráfico esférico e maluco - uma mania que Paul tinha de desenhar suas coisas e que aparentava fazer sentido apenas a ele, coisa de maconheiro. O mesmo tipo de gráfico pôde ser visto no encarte de Press to Play, de Paul. "Abram alas para a mágica e misteriosa turnê", diz a primeira frase do disco. Com um filme em mente, o disco foi se desvinculando da coisa do áudio, dando ênfase ao visual. Sem perceberem, eles fizeram um dos melhores discos da carreira dos fab.

Por exemplo - The Fool On The Hill foi criada com o propósito de se fazer tomadas nas montanhas, mas nem parece... É mais uma canção tocante de Paul, composta no piano psicodélico. Ler a biografia me deu informações inesquecíveis... Claro que é mais do mesmo, mas a forma com que as coisas são contadas é o diferencial da informação. Flying é da tomada aérea, aquela que tanto foi xingada, pois em PB as montanhas vistas de cima não fizeram o menor sentido. O busão fora encomendado pelos Beatles - que, aquela altura, conseguiam absolutamente o que queriam... eles batiam o pé, principalmente Paul, que dizia "ora, veja bem...somos os Beatles meu caro", falava isso para o presidente da EMI quando esse achava as exigências um tanto excêntricas. O busão ficou lindo de foda. Todo amarelo com o logo do disco gigante na lateral. Coisa dos anos 60...

Como sempre, George Harrison sempre fez a diferença. Desde Don't Bother Me, ele sempre vinha na contra mão do que Lennon e McCartney faziam. Isso é natural, cada um tem seu CPF. Blue Jay Way é de um desespero sem precedentes, uma levada arrastada, uma jeito tão peculiar de cantar, com todo aquele efeito na voz. Até aí o disco se mostra, de fato, muito mais despretensioso do que tudo que haviam feito. Sgt Pepper já havia engordado as contas bancárias por umas três gerações de cada um. O foda-se é intuitivo. Aí vem Your Mother Should Know e é preciso lembrar que o baixo do Paul é fora do normal. Parece que o Rickanbacker foi feito para ele tocar, e só. Uma das coisas mais lindas foi ouvir essa canção em si remasterizada. Não estou falando dos craqueados para o You Tube (isso perde o sentido) mas os Cds em si. FODA. E o lado A se encerra com I Am The Warlus, com John aparecendo pela primeira vez no disco, como se estivesse dormindo e distante, daí ele acorda, sacode a poeria e fala "ok caras, vamos por essa porra para foder".

O lado B é simplesmente um emaranhado de sobras. Como eu disse, Magical Mystery Tour não foi criado para ser um disco em si... Só que, cara, as sobras são nada mais nada menos que Hello, Goodbye (Paul); Strawberry Fields Forever (John); Penny Lane (Paul); Baby You're a Rich Man (Paul e John) e All You Need Is Love (John) - isso mostra a guerra sadia que havia entre os dois. Qual era o melhor? Complicado. Não preciso dizer mais nada. Um disco esquecido por muitos, falado por poucos. Há aqueles que dizem se tratar do melhor disco dos Beatles. Logo após, eles levam a brincadeira "mais a séria" e gravam o álbum branco, mas isso é papo para outro post. nível fodástico: TODAS, é claro.

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