terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Bloco do Eu Sozinho - Los Hermanos - 2001





Era uma época estranha no Brasil. Na televisão que vinculava música (aquela dos VJ's) só se via Pato Fu, Jota Quest, Skank, Kelly Key, Oasis (a salvação) Silverchair, Metallica (com o Load e Reload), Virgulóides (nessa bumba não ando mais, acharam um bagulho no banco de trás)... Deu para sacar. Um horizonte perdido. Deserto pelando sem grandes expectativas. A mesma coisa que vivemos hoje e adoram falar de CSS, A Banda mais Bonita da Cidade, Emicida, Crioulo, Tulipa Ruiz e Marcelo Janeci - me recuso a citar Michel Teló, Luna Santana e Restart, mesmo sabendo que acabei de citar, esqueçam esses caras, estou falado de música. Antes de voltar ao assunto, ainda acredito que viveremos uma reviravolta, mesmo que seja em culto de antiguidades, que no meio dessa zona se tornam novidade. 

O que aconteceu depois que o Los Hermanos mostrou sua força produtiva, intelectual e criativa, o rock brasileiro nunca mais foi o mesmo, pois qualquer compositor que soava diferente de coisas na rádio era comparado com os barbudos. Há ainda de se afirmar que Anna Júlia, de finados dos anos 90, foi uma grande onda no mar agitado da banda. A música era sim espetacular e ainda é. Lembro muito bem que era obrigação tocá-la em qualquer palco que eu subia. Foi uma época peculiar. No disco de estréia, o LH tinha uma veia agressiva instrumental somado com os vocais quase fracos para berros de Camelo e de suas letras, que geralmente falava de traição - na escola, as pessoas diziam que LH era uma banda de cornos. 

E assim foi... Anna Júlia explode, tem mais uma bacana ali, que era Primavera - e o resto só foi virar hit depois que os caras lançaram mais dois discos e arrebanharam uma multidão de fãs - e houve um silêncio. Seriam mais um Virgulóides, mais uma banda de uma música só? Nada ia acontecer. Os caras que saíam na capa da Capricho não tinham outra coisa como Anna Júlia. Que mundo injusto. 

O lançamento de Bloco do Eu Sozinho foi discreto. Pouco se disse, além das necessidades básicas de um lançamento fortalecido por gravadora - música de trabalho na rádio e na MTV com clipe. A Abril deve ter pensado "uma coisa é você ser um Beatle e lançar um Sgt Pepper. Outra coisa é você ser um babaca que não é conhecido além de um hit de rádio e querer lançar essa coisa sem pé, sem cabeça... Aqui rola grana meus amigos, GRANA! Essa porra não vai vender nem fodendo". Mas vendeu. 

Eu já tinha ficado intrigado com o refrão "deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz". Lembro que achei a rima um tanto tensa, mas achei a coisa da transição Anna Júlia/Todo Carnaval tem Seu Fim fora de parâmetros. Uma letra verdadeira, que fazia sentido. Um clipe gravado em câmera lenta e que tinha corrida de sacos. Não soava como um punk forçado, soava como rock and roll puro e simples. Daí estive no carro com meu pai, tocou a música de novo. "Olha pai, lembra aqueles caras de Anna Júlia, essa é a nova música deles" - e coloquei o volume no 11. Alguns dias depois, completamente intrigado pela coisa toda, fui na 13 de maio e comprei um genérico do Bloco. Paguei 5 conto. Fui para casa. Me sentei na frente do estéreo, com as pernas ajeitadas no tapete de casa, e dei o play. 

O que se passou nunca mais foi tirado de mim. A surpresa é fundamental. Em todo o decorrer do disco, eu ia sendo pego de uma tal forma. Não era modinha, ninguém ao menso sabia que eles haviam lançado um disco novo. Aquela banda de merda, ninguém dava moral. A internet não era como hoje. Os fãs de coisas novas ficavam em casa, imaginando que apenas eles gostavam, porque não se falava. O Oasis era a mesma coisa. Gostar de LH era sinônimo de ser babaca. Hoje é status (e eu odeio isso, a moda). Esse disco tem um significado relevante para mim - era a música que eu queria ouvir. 

Revelou-se, além de tudo, Rodrigo Amarante como um dos maiores compositores do Brasil, com Retrato para Iaiá e Sentimental. O disco é melancólico, desde seu título (hoje espalha-se o tal do forever alone, coisa que os caras já pregavam). Estar sozinho é ter tempo para pensar em você. Sentado na sala ouvindo o disco, eu estava de fato num bloco do eu sozinho. Usando notas dissonantes, o LH fez um rock um tanto desvinculado de influências e abriram as portas para as bandas que brigavam com o comercial. 

Mais tarde tive o prazer de vê-los ao vivo pela primeira vez no Campinas Hall - e haviam mais fãs que eu poderia imaginar. Todos esgoelando as frases (sim, frases, uma após a outra, não apenas refrões), e naipes dos metais e todos os arranjos. Percebi que ali haviam pessoas que foram tocadas pela expressão da música desses caras que não deram a mínima para o sucesso que havia caído sobre eles - não havia cenário, não trajavam roupas extravagantes, não eram um clichê. Um grande suspiro. Fomos salvos.

O Bloco do Eu Sozinho tinha aquela coisa de ser meu, apenas meu. O Ventura espalhou-se de tal forma que o charme de "apenas eu curto isso" foi pro ralo, mesmo tendo adorado o disco quando foi lançado. Mas o Bloco é isso, único, para aqueles que sentiram o brilho da escuridão melancólica. nível fodástico: TODAS. 

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