quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Led Zeppeling IV - 1971




Quando eu era criança, o Led Zeppeling já era um dos maiores fenômenos do Rock And Roll mundial. Minha educação musical foi discreta, pouca coisa foi me mostrada. Na verdade, quem fazia as honras de mostrar isso ou aquilo pra mim e meu irmão (dois molequinhos que mostravam levar jeito para tocar - meu irmão nas panelas e bacias de plástico e eu soltando a voz) era meu pai. Meu pai tinha uma bateria Pearl Export e nos fins de semana entupia seu velho Fiat Uno 86 cor de creme com a batera e ia para Piratininga (Niterói-Rj) fazer um som no extinto Nó Na Madeira (do João do Nó) com o pessoal do Couros e Cordas (que tinha o que dizem ser o melhor tocador de tantã do Rio de Janeiro, o Zé Três Bicos). Naquela época os músicos eram unidos. Niterói era uma cidade que vivia música. Meu pai via Artur Maia num canto bebendo seu choppinho e fumando a sua maconha enquanto dizia "e ae paulixta, vai fazer um som hoje?". Outros grandes que tocaram com todo mundo foram Marcelo Martins (que meu pai o chamava de Marcelinho) e Zeca Nuto, ambos saxofonistas. Os caras que eu chamava de tio eram o Júlia São Paio (o maior de todos, o FODA) o Mauro Costa Júnior (um sênior no violão fazendo flamenco) e o Luciano (um baixista que toca com todo mundo também). 

Mas de qualquer modo, meu coroa via o nosso interesse nos instrumentos. Eu e meu irmão sentávamos atrás do bumbo da Pearl e ficávamos viajando na vibração da banda tocando. A gente já arriscava alguns palpites, alguma coisa de tempo musical... tudo isso com 5 ou 6 anos. 

Sendo assim, o coroa mostrava as coisas. Lembro de Santana, com Soul Sacrifice, Evil Ways, Oye como Va. Mostrou um som do Spyro Jyro. E mostrou Rock And Roll, do Led. "Olha só o que esse cara faz na bateria"... Meu coroa, quando tinha seus 19,20 anos, tocava nas noites de São Paulo com seu amigo João Antônio - o tipo de história que não vira biografia porque não vingou sucesso comercial nacional, mas que daria um livro foda - e o Led fez a cabeça do coroa na época. Starway To Heaven é sinistra. Certa vez o coroa disse, enquanto ouvíamos esse disco, na hora que toca Starway: "Esse cara, quando fez essa música, estava encostado no espírito santo, só pode..." 

Será que há o que falar sobre esse disco? Tem sim. É um disco cheio de graça, um disco engraçado. Certa vez um amigo me disse que me ver cantando All You Need is Love, dos FAB, era uma coisa engraçada. Percebendo meu desapontamento, pois entendi algo como uma piada, ele me disse que era um momento cheio de graça. A graça é coisa séria. Esse disco do Led é cercado de um mistério vibratório do além. Um disco onde o rock and roll flertou com o além, a ponto de até o reverb usado na bateria ter sido natural, de verdade, num pé direito de 15 metros, em baixo de uma escada. O mato e o ar fora da casa estiveram presentes na gravação de Robert Plant e sua voz enigmática, única e desafiadora. John Paul Jones sendo o baixista que toda bada deveria ter. John Bonham - pra não dizer o melhor do mundo, pois seria injustiça com outros - toca com todas as almas do mundo, sendo assustadoramente perfeito no tempo musical na intro de When the Levee Breaks  . E Jimmy Page, além de produzir o álbum, se expressa na guitarra de um modo ao mesmo tempo punk, no sentido de "foda-se, essa merda não precisa fazer sentido", e preciso na técnica desprovida de apego. Page é tão foda que impressiona Jack Withe e The Edge apenas com um riff de guitarra - e impressiona o mundo dos amantes do instrumento. Não tem essa coisa de rei do timbre, rei do riff, rei do slide, rei da base, etc... Jimmy Page é um guitarrista de banda, onde a música era mais importante do que o apego à perfeição técnica - é aí que a coisa fica perfeita. 

Led Zeppeling IV vai da porrada ao doce, do espiritual ao carnal, do ilusório ao real. Os deuses do rock se orgulham. 

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