quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Double Fantasy - 1980



Certa vez eu tentei escrever um texto para o "Museu de Grandes Novidades" sobre esse disco. O resultado foi sofrível, pois eu fiquei perdido. O texto foi engavetado e nunca mais falei de John Winston Lennon. Um dia irei ler uma das inúmeras biografias desse cara para poder entender um pouco o que foi a sua vida, pois o que sei foi o que o Paul disse na sua biografia, Many Years From Now. Olhando para fotos de John no buscador da Google, muita coisa se passa na minha cabeça. Um cara que foi ceifado de um futuro brilhante. Eu sempre penso no que seria sua vida se ainda estivesse vivo. Muitos o endeusam e muitos o comparam com Paul. Eu, particularmente, acho isso uma grande merda. É praticamente impossível comparar Paul a John, e minha discussão termina no seguinte: A única diferença entre Paul e John é que o John foi assassinado e não teve como dar continuidade a sua música. Outros dizem que, de qualquer modo, a discografia de John no início da carreira solo é muito superior com a de Paul - isso é outra coisa que discordo profundamente, pois além de ser uma comparação ridícula, comparar Plastic Ono Band e Imagine com RAM e Wild Life (McCartney não conta, pois foi gravado numa época em que os Beatles ainda existiam legalmente) é algo insuportavelmente impossível. Mas se você voltar na carreia de Lennon/McCartney, apesar de, de fato, as canções serem sempre desenvolvidas pelos dois, há o lado singular de cada compositor. Dizer, por exemplo, que Strawberry Fields Forever é melhor que Penny Lane (ambos saíram em compacto lado A lado B como antecessor de Sgt Pepper) é tarefa que nem George Martin consegue resolver. 

Para eleger o melhor disco de John - ou, melhor dizendo, o disco para resultar em texto aqui nesse blog - foi preciso muito esforço e sentimento. A fumaça que paira sobre meu notebook (se é que você me entende) ainda me ajuda a encontrar soluções para esses grandes mistérios mitológicos musicais na minha pequena mente de amante do ato de se expressar. Sei lá quem é que lê isso aqui. Se é que leem... Vendo as estatísticas do blog, percebo que gringos andaram acessando, principalmente os posts "Os melhores filmes de Terror" e "Os melhores filmes de Porrada". É claro que eles não estão me lendo, eles estão vendo as fotos que publiquei, que também foram chupinhadas do Google. A coisa é grande. Seria interessante traduzir esses textos para o inglês? Quem sabe... se tiver alguém aí para me ajudar nisso, não confio na ferramente do Google. 

Mas também não confio no meu julgamento em dizer que Double Fantasy é o meu disco preferido de John. E, de qualquer modo, vou tentar me explicar o porque dessa afirmação. Double Fantasy é isento dos sentimentos angustiantes de John. É o último disco. Voltando na minha nóia de comparações, é o Abbey Road do John. Aqui John não tenta mandar recados a ninguém (pelo menos explicitamente). Ele não se lamenta pelas coisas horríveis que viveu, como se apenas ele passasse por coisas horrorosas na vida. Ele não lamenta a morte de sua mãe, o abandono de seu pai. Ele não esnoba Paul McCartney nem os Beatles e nem a Jesus Cristo. Ele não deixa claro o seu pensamento raivoso sobre certas coisas do mundo. Ele, de fato, sente a paz que ele tanto disse que deveríamos dar uma chance para ser estabelecida. Yoko carrega a responsabilidade de ser a mulher mais odiada no mundo. Em outras palavras, Double Fantasy é perfeito. 

Depois de cinco anos cuidando de seu filho Sean, John vai pro estúdio e trabalha no disco. Gravado em NY, o disco é acompanhado por uma banda de primeira. E as composições vão direto ao coração, sem passar por toda o filtro beatlemaníaco. É um disco feliz, um louvor ao amor. O amor, o velho amor, que John tanto soube falar no início da carreira, é o norte de seu recado. Just Like Starting Over é o recomeço disso tudo, de sua nova vida, de sua nova forma de agir, um homem de 40 anos percebendo que a vida não é nada além de estar vivo e ter seu filho e sua esposa por perto, completando, dando sentido. Um amigo meu disse esses dias que ter filhos é dar um novo significado a vida. O vanguardismo de Yoko Ono é tratado com respeito. O melhor da música de Yoko está nesse disco. Beautiful Boy fez até Paul McCartney chorar, tamanha era a capacidade de John em expressar em música os seus sentimentos. Woman é um clássico, um brilho, uma pintura, gol na final do campeonato, notícia boa depois de um péssimo dia, filme foda que pegou de surpresa, livro com final surpreendente, sorriso da mocinha, filé com molho madeira... É uma canção de arrepiar os poros, de querer ouvir sem parar. A frase "Eu te amo" nunca foi tão bem cantada até John escrever essa canção, que coloca um ponto final sobre os limites do amor. John e Yoko foram o casal mais esculachado de todos os tempos. Ninguém entendia o que ele via na japonesa. Ele tentou dizer, opa se tentou. Em Oh My Love (de Imagine) ele disse que o amor tirou o véu e ele via tudo mais claro e mais lindo. Em Mind Games, ele disse que o amor é a resposta. Sempre enigmático, sempre o melhor crítico e interpretador de seu trabalho, John Lennon fez de Double Fantasy a sua grande despedida, como se soubesse que seu fim estava próximo. O mundo nunca mais foi o mesmo sem John Lennon, e percebo que a pessoa que mais sente sua falta é Yoko e Paul McCartney. Vendo Paul tocar Here Today ao vivo, você entra no universo único desses homens, ali, no meio da multidão, você, por alguns minutos, saca qual era a relação deles. O artista se expõe demais e algumas vezes essa exposição pode ser fatal. 



John Lennon, o grande. nível fodástico: TODAS. 

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