segunda-feira, 17 de junho de 2013

Bravo. Dia 2 e 3.

A semana passou lentamente. Eu estava ansioso para dar continuidade ao trabalho. Mesmo com todo o assunto das manifestações desse país que um dia será digno de seus filhos, eu não conseguia parar de pensar no meu disco. Acho injusto ter que pensar em outras coisas além do que anda acontecendo. Mas precisamos continuar com a  vida. A minha me traz, mesmo que timidamente, ao estúdio para vomitar todas as minhas necessidades de vivência. Ver as cores de seus sons sendo produzidas num fervilhão de ideias e perceber que há uma banda tocando no software - mesmo que eu tenha feito tudo o que se ouve - é demais! Eu já deveria ter me acostumado com tal coisa, mas é sempre novo. 

A começar que usei o baixo Gianinni Stratosonic da igreja que minha mãe congrega. Penso seriamente em fazer uma oferte para eles. Levei o baixo no Paulinho (luthier que trabalha ao lado da Playtech) e ele deixou o bichão pomposo. Em coisa de algumas horas tínhamos todos os baixos gravados. Ele foi plugado num rack da Line 6, o tipo de coisa que ajuda a ganhar tempo, pois o som já vem pronto.

Outra coisa que traz o som pronto é um rack simulador de amplificadores e efeitos diversos da BOSS, o GT Pro. 


Luis (o Alcaide, sem acento no i) dono do estúdio Norte, disse que essa ferramente era uma mão na roda, pois teríamos um mundo de possibilidades. Confiei nele e largamos os amplificadores de lado. O interessante nisso tudo é que o som vindo do Boss parece algo muito "forçado", muito "pasteurizado". Mas quando é somado à música, parece que ele estava pronto para uso. Você consegue fazer de tudo - regular delays, flangers, chorus, compressores, drives, octaves... Você vai  do som mais limpo e encorpado ao mais trash possível. Com essa belezinha nós fizemos verdadeiros paredões de sons. Há momentos em que temos quatro ou cinco guitarras fazendo a mesma coisa para dar uma profundidade colossal ao som. Tudo isso gravado com minha Fender. Estou considerando a hipótese de mandar um email ao pessoal da BOSS e perguntar se eles não querem que eu seja um representante sobre como usar as coisas dele. (sacanagem, eu não me acho tanto assim). 

Mas daí tivemos que gravar um solo. Algo que viria das profundezas, carregando fogo numa bola de fúria incontrolável. Seu feedback deveria ser incontrolável. Precisávamos de uma força insuportável de watts vindo de válvulas de potência somado com ruídos de carga elétrica e ondas sonoras dançando entre alto falante e captador das minhas cordas 0.10. Dessa vez não foi meu bom e velho amigo Fender Hot Road, ele ficou pra outra. Entrou no time uma combinação inusitada (ou não seria tão inusitada assim?). Em cima, mandando todo o seu amor e ódio, nosso amigo Marshall JCM. 


Em baixo, recebendo tal amor e ódio, um caixa de 4 falantes de 10 da Mesaboogie. Guitarristas de plantão, é preciso sorte e um tiquinho de grana para ter essa experiência. Estar numa sala de captação, afinar sua guitarra, o técnico dizer "vai" e você ter que ter discernimento suficiente para controlar um monstro desses no volume 5... Chega a doer na pele. Os takes são cada vez mais mágicos. Só depende de você fazer o seu trabalho. O único solo de guitarra propriamente dito que ouviremos em BRAVO foi feito dessa maneira. Eu abria o volume e vinha aquela "búúúúu´píííí fuóóóón" e eu tinha que tocar imediatamente para não ter isso. Viro de costas para o ampli para limpar o solo. Viro de frente pra ele para sujar tudo e meto o foda-se. Penso em Jimi, em David, em Eric (sério). Sinto que, mesmo tocando todos os instrumentos do meu disco, é na guitarra que eu mando bem. Deus nos abençoe! 
Logo logo voltaremos com novidades. O disco está ficando altamente Bravo. 

Que nosso país seja abençoado pelo criador. 

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