segunda-feira, 11 de outubro de 2010

SWU... tsc tsc.

A gente fica muito feliz quando sabe que seu país vai ser visitado pela turnê de uma banda, no mínimo, interessante. Quando eu fiquei sabendo do tal Woodstock brasileiro, em ITU (?!), não dei a mínima. Achei uma pura perda de tempo gastar uma grana para ver certas bandas que não fazem muito a minha cabeça. Mas então meu telefone tocou e um amigo me disse, todo entusiasmado, que Rage Against The Machine iria estar presente. Alguns dias mais tarde fiquei sabendo que Os Mutantes também chegariam com o seu psicodelismo no palco do evento. Eis que confirmaram Los Hermanos - não tinha mais porque não ir.

Deus sabe como foi foda arrumar grana para ir nesse festival. Gastei um dinheiro que não podia, mas a diversão, na maioria das vezes, é mais importante do que contas a pagar. Comprei o meu passaporte para o grande dia e esperei pelo o que seria uma grande noite de celebração ao rock.

Ás vezes acho que sou roqueiro, ás vezes acho que estou ficando velho. Seria um show de rock um culto à desorganização, falta de respeito, falta de noção, falta do que fazer, falta de sensibilidade e falta de bom senso?

O SWU tinha tudo para ser inesquecível. Mas, de fato, FOI inesquecível.

Eu nunca mais vou esquecer o estacionamento do SWU. Sem nenhum ponto de referência. Qualquer bambu enterrado no chão com bandeirinhas sinalizando qualquer coisa (1,2,3,4...) seria o suficiente para achar seu carro no meio de mais uns 30 mil veículos. Aquele chão de terra ficou tão preocupante com a chuva que todo mundo (inclusive a produção) se esqueceu de que o vento também faz sujeira.

Eu nunca vou me esquecer do caminho de quase 2 quilômetros do estacionamento até a entrada do festival que o público tinha de percorrer. Nem havia começado a diversão e eu já me sentia exausto, com os pés doendo (você coloca o seu pior tênis com medo de pegar chuva). Tudo era terra e poeira levantada por um vento puto.

Nunca vou me esquecer do trabalho dos seguranças muito bem treinados, que ao não saber responder sua pergunta fecham a cara e manda um ligeiro "foda-se" para você com o olhar deles. No SWU, segurança era uma árvore vestida de preto que tinha a função de abrir sua mochila para ver o que você trazia consigo. Sabe... Até concordo com esse procedimento. Drogas são proibidas pela justiça brasileira. Armas também. Qualquer coisa que coloque em risco a vida das pessoas deveria ser proibida logo de cara num evento desses. Mas o que uma embalagem de clube social pode colocar em risco a vida dos alheios? Uma garrafa de água pode conter o que, Antrax? Um porta óculos pode levar uma bomba para matar os ativistas do Rage Against The Machine?

Oras bolas... A PM só serve para por medo. Mesmo que você não tenha nada a dever, um PM estufando o peito e a sua orgulhosa farda que conquistou em um concurso público é de deixar qualquer um peidando mole. A PM fez a revista, uma revista cheia de pampa, não me rele e não me toque, ninguém vai entrar com isso ou com aquilo. Na verdade um bando de merdas de profissionais. O que tinha de maconha e outras coisas (como sempre tem, como sempre deveria ter, é um show de rock... não é?) me fez pensar melhor sobre o trabalho desses policiais.

Mais importante do que drogas ou garrafas d'água seria uma terceira barricada de revista: psicólogos e psicanalistas de plantão, uns 40. Ao menor sinal de desconfiança de um PM perante um "louco", o cara deveria ser encaminhado para um ambulatório e ser avaliado.

Eu sou meio maluco. Claro que sou! Mas eu preso pelo bom senso. Eu respeito mulheres, idosos e crianças. Me importo, sim, pelo próximo e pelo longe. Acredito que se um cara vai com sua mulher curtir um show, ele espera, no mínimo, se divertir.

Nunca vou me esquecer o pânico que passei. Assim que começou o show do Rage, uma onda de vibrações calorosas pegou de assalto as 50 mil pessoas presentes no vale em que foram montados os 2 palcos. Sim, era um vale, um mato sem cachorro. Após cerca de 5 minutos de uma sirene que parecia prever um "fudeu, escondam-se, salve-se quem puder, aí vem Rage Against The Machine", Zack de la Rocha e a trupe toda entoaram "Testify", e um mar de gente começou a pular, como se o riff da porrada (não era música nem rock, era porrada) mexesse com as pernas. Olhei para o lado e minha namorada pulava junto, pois se ela não pulasse com certeza estaria em apuros. Pensei "preciso sair daqui". Tarde demais. Em seguida a banda tocou "Bombtrack", e uma bomba explodiu no meio da multidão. Não era uma bomba de verdade, se não isso de fato sairia nos jornais. "Tumulto e trânsito marca o primeiro dia do festival" foi o máximo que conseguiram escrever. Se eu fosse jornalista eu daria um jeito de escrever o que passei. Mas esse blog também serve para isso. - Não sei porque, mas uma galera invadiu uma ilha da câmera de vídeo que estava precariamente protegida por grades de ferro, ao mesmo tempo em que inúmeras rodinhas de bate cabeça (aquelas em que a galera fica se debatendo enquanto o som rola) se formavam (era esse tipo de gente que os psicólogos deveriam barrar). Do nada, absolutamente do nada, uma força maior começou a empurrar quem queria simplesmente curtir o som da banda e dar uns pulos de vez em quando. Quando eu vi, minha namorada estava grudada em mim e eu estava grudado em outras 8 pessoas, tudo prestes a desabar, indo para o fim. Pânico é a palavra certa que se sente quando você tem que lutar pela sua vida, pois um bando de idiotas não conseguem simplesmente curtir alguma coisa na boa. Por cerca de 3 minutos eu achei que iria morrer. Meus pés perderam a noção do que era chão e o que era pé dos outros, enquanto meu braço esquerdo protegia minha namorada de qualquer coisa pior, ao que meu braço direito ia tentando entender alguma direção; meu coração batia descompassadamente enquanto eu sentia que a força que nos empurrava era cada vezes maior e a galera que a gente involuntariamente invadia não entendia nada. Eu berrava com todo o meu ser "sobe, sobe" para a galera em que eu ia em direção. Via que não funcionava e berrava "parou, parou" para o pessoal que empurrava. Tentei em vão parar e empurrar de volta. Eu respirava com dificuldades por causa do pânico. Cheguei a machucar minha namorada de tanto que eu queria protegê-la. Até pra Deus eu apelei minhas suplicas. Até que teve uma hora em que conseguimos nos virar e sair daquele verdadeiro inferno. Não consegui nem olhar para trás. Fiquei completamente traumatizado. Fui ver o resto do show bem longe daquele bando de filhos da puta.

É claro, óbvio e mais do que certo que a banda Rage Against The Machine é do caralho. Tocam muito, perfeitos. Mas parece que eles liberam essa energia anti-regra, contra o sistema, seja lá qual for esse sistema. Burro é o cara que acha que esse sistema seria uma tentiva de organizar um festival. "Vamos destruir tudo". Ouvi dizer que o próprio Zack sugeriu que a galera invadisse a área Vip. Pra quê?

OS MUTANTES - Fiquei muito feliz quando percebi que os 2 palcos eram um do lado do outro, de modo em que eu não iria precisar decidir entre Mutantes e Los Hermanos. A organização não disponibilizou essa informação, mesmo porque a divulgação disse que as duas bandas tocariam praticamente no mesmo horário. Merda para eles, para todos eles. Divulgação merda. Organização merda. Sérgio Dias parecia, de fato, emocionado. "Fazem 40 anos que a gente espera ver vocês assim, tanta gente. Parabéns!" Abriram o show com "Vida de Cachorro". A moça até que canta bem, aliás canta até demais. Parece vocal de banda gospel, cheio de vibratos, os mesmos vibratos que o Sérgio disse para mim serem irritantes em certos cantores. Mas teve bem. É que a Rita era a Rita... "Virgínia" foi entoada pela voz de Sérgio como se os anos não tivessem feito a mínima diferença em suas cordas vocais". "Technicollor" foi foda. Sérgio toca guitarra como se um bebê toma sua mamadeira - parece fácil demais. Põe na cara de muito moleque que acha que sabe tocar alguma coisa. A banda em sim é muito, mas muito ensaiada. Não erram nada. As vocalizações são quase divinas, perfeitas. Tocaram um repertório digno de fã dos Mutantes - tive a impressão de que só eu estava entendendo o que eles faziam. Até que começaram com "Ela é minha menina", música essa famosa nos bailes de samba rock e companhia, e todo mundo sambava e catava. Eu ria. Tocaram "Top Top" e "Ando Meio Desligado" - essa última ninguém sabia cantar o refrão em inglês. Então tocaram "Balada do Louco", como só tinha louco, todo mundo cantou. E foi bonito. Os Mutantes parecem exalar o misto de decência e sacanagem. Ao mesmo tempo que levam muito a sério o seu "rock and roll samba bossa do calango doido", eles brincam demais, do jeito que sempre foi. Dinho Leme toca muito, contrariando os mais bestas que acham que bateria tem a ver com malabarismo. Pena que o festival em si só permite cerca de 30 minutos para as bandas "secundárias". Eles deveriam ter um dia para serem a banda principal. Surpreendente.

Mallu Magalhães - Ela é a Sandy que deu certo, como diz minha namorada. Beleza, a Sandy não deu errado, mas não faz nem folk, nem rock e nem música que nem faz a Mallu. Moça bonita, dos cabelos longos timidamente presos. Uma concentração fora do comum. Uma banda que poderia ser menos bagunceira, menos barulhenta. Mallu canta tranquilo, super-afinada e seu violão não faz muita coisa (ou ela que não faz muita coisa no violão... tem hora que você não sabe o quê é o quê). Quando ela estourou no Brasil, parecia uma mula. Não falava coisa com coisa e tinha aquela cara de "ãn?". Dois ou três anos depois do estouro, umas bimbadas com o Camelo, umas conversas com o Camelo e muitos shows por aí, a moça aprendeu a falar em público. Parece uma veterana. Tinha fã e o escambau na platéia. Gente que foi para ver o Rage, parava ali na "tenda oi" e ficava preso pelo brilho da menina. Ela é muito boa, mesmo.

LOS HERMANOS - Sou fã da banda, muito fã. Mas esse show foi apático, estranho e sei lá. Muito cara de "já te vi". Com certeza você vai ouvir "Além do Que se vê" e "Sentimental" no show deles, e do começo ao fim o publico vai entoar não só refrões, mas arranjos de metais, teclados, bateria e, claro, refrões. Mas era para ter algo a mais. De novidade só os óculos do Marcelo. Li por aí que eles estavam claramente emocionado... Duvido muito. Camelo parece ser um nerd tão nerd que não sabe falar com o publico, aí diz coisas como "Brigado... Brigado... Vocês são a razão disso tudo. Sem palavras. Cês são foda", ao que Rodrigo Amarante (o galã com sua camisa azul estranhassa) diz "Já afinei (a guitarra) pode parar". Veja um dos dois DVD's da banda e verá que tudo o que o Camelo diz é "obrigado, sem palavras"; e Amarante diz "vocês vieram mesmo! Quanta gente!". É caras, cês são fodas e nós sabemos. Não precisam dar uma de "eu não sabia que ia ser assim"; não precisam se fazer de surpresos e não precisam tentar aparentar emoção. Emocionado ali era o Bruno Medina, que, como sempre, estava puto e doido para ir deitar em sua cama. Amarante louco como sempre. Caras, bocas, pernadas, agachadas. Como eu já vi uma porrada de show deles, tem hora que fico viajando em backstage. Teve um momento em que o Amarante pediu algo para beber, pois foi o gesto dele. Um roadie caminhou até perto dele e pegou um copo, levou o copo até um cara que parecia ser um segurança e esse cara tinha uma garrafa (eu estava longe, mas deduzi ser wisky) e encheu. Ninguém percebeu, mas uma das guitarras do Camelo caiu com tudo no chão por que um cabo dele enrolou no pedestal da guita e paff! Que dó... Para os curiosos, Amarante agora usa 2 Epiphone Casino, eternizadas pelos Beatles - no lugar das clássicas Fender Telecaster. As Fender, para o som do Los Hermanos, dão muito, mas muito mais som. Foi bom revê-los. Estão bem... Ainda bem.

Rage Against The Machine - Pânico, destruição e desordem. Um slogan foda seria "fui no show do Rage Against e sobrevivi".

O SWU foi uma coisa que não se faz. Um amigo meu que mora na Inglaterra disse que esses festivais por lá não são feitos para um público tão grande. Esses festivais só servem para encher o cú de grana de quem já tem dinheiro suficiente. Não havia ninguém para orientar na hora do empurra-empurra. Ninguém para mostrar a saída (não sou obrigado a ter memória fotográfica). Os PM's só fizeram seu terrorismo na entrada. Não havia nenhum na saída. Um lugar desses deveria ter, no mínimo, bebedouros (água a 4 conto?). Os banheiros eram nojentos e mal planejados. O bar não tinha troco pra 50 (cobravam 6 o refrigerante e 9 a cerveja). As maquininhas de cartão ficaram fora do ar (culpa da empresa de cartões? foda-se. Uma simulação daria conta do recado). Simples, uma falta de respeito ao consumidor, onde tudo no Brasil só visa o lucro - bem estar do publico é conversa para depois que o evento acabar. E a fila para ir embora? Deixa pra lá.

Um comentário:

  1. Fiquei curioso em saber se alguma banda fez bis, igual teve uma exceção ontem ...

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