terça-feira, 5 de outubro de 2010

Cinco do Dez de Dois mil e Dez

Eu nem me dou o trabalho de parar para ler as coisas que escrevi no ano passado, as promessas para 2010. Mas poderia ser pior. A vida, muitas vezes, é feita de promessas não cumpridas. Acho que é por isso que os católicos pagam promessa de um jeito tão peculiar, doloroso. Subir a escadaria da Penha de joelhos é coisa pra muita fé mesmo.
Estou caminhando para os meus 28 anos de idade e acho que, realmente, estou ficando velho. Quando eu tiver uns 50 e tantos vou ler isso aqui e vou cagar de rir, eu sei disso. Imagino então meus filhos lendo essa parada. O que faz de uma pessoa um ser importante? O que faz uma pessoa ter tanto conteúdo e esse conteúdo ser tão disputado pelas outras tantas pessoas? Deve ser uma merda ser famoso, não poder ter o seu próprio espaço intelectual íntimo - seja lá o que isso quer dizer.
Quando fiz 27, me lembro muito bem que eu falei muito sobre ser a idade da loucura. E, veja bem, é mesmo. Mas o máximo que vou dizer aqui é que de fato eu amadureci um pouquinho mais. Esse ano que passou foi um tanto especial. Muita coisa na cabeça, muita decisão (por mais que ninguém tenha percebido essas decisões, elas foram tomadas por mim e para mim).
Os 27 anos de idade é aquela em que você se torna um adulto (ou não). Eu já nem sei mais que tipo de pessoa eu sou ou em que tipo de tribo eu pertenço. Já fui patinador; roqueiro; violonista de colégio; já toquei na igreja; já fui em acampamentos de igreja e já chorei com muitos amigos nesses retiros espirituais; já acreditei que Cristo é o próprio Deus; já fui (pasmem!) no show da... da... esqueci o nome porra! Não sei o quê Barros; fui no Oficina G3 (esse é legl) e um monte de gente que nem lembro o nome. Já fui para São Paulo ver Kirk Frankling com o mesmo entusiasmo de ir no SWU.
Já fiz um monte de coisa que hoje não faço de modo algum. E hoje eu faço um monte de coisa que antigamente não fazia de modo algum. É importante escrever sobre a própria vida. Ah, se eu tivesse feito isso há alguns anos atras.
Eu acho que nunca quis ser médico ou esses tipos de profissões que as crianças falam que querem ser quando crescerem só para inflar o orgulho dos papais. Minha vó Joana (que deve estar em Nosso Lar, não que eu creia nisso, mas é um nome um pouco mais conveniente do que "céu". No céu tem nuvens e aviões) falava que ia ser legista, isso porque eu adorava pegar uma faca e abrir os peixes que minha mãe preparava para o jantar depois de uma praia. Queria ver o estômago e intestino do bixo. Furava os olhos para ver o que acontecia. Procurava o cérebro, mas esse eu nunca achei. Eu sentava no colo da minha vó, de frente para ela, colocava as duas mãos no rosto dela e esticava, imaginando assim como seria o rosto dela com uma boa plástica. Ela dizia então que eu seria cirurgião plástico.
Eu me lembro de uma época bem breve em minha vida em que eu quis ser pintor de quadros. Cheguei a fazer aula e tudo mais. Lá em casa, na sala, tem uma pintura minha. Mas no fim acabei achando isso coisa de baitola - e não vou perder meu precioso tempo dizendo que não tenho preconceitos, etc, etc...
Também já tentei, empolgado com uma aula de artes na sexta série, ser escultor de giz (sim, aquele que os professores usavam no quadro negro). Eu sei lá o que esculpi, mas achei muito interessante. Então tive a brilhante idéia de construir uma cidade de giz. Tá... Nunca levei esse projeto pra frente.
Já escrevi uma história do Super Homem, que dei o título de "A profecia". Fiz minha mãe comprar uma máquina de escrever para mim e eu digitava o texto de madrugada. A capa eu desenhei e isso foi parar nas mãos da minha prima Karen. Ela leu e gostou. Acho que não tinha nada melhor para ler. Também escrevi um romace policial chamado "O Maníaco da Rosa", o que na verdade foi um bom exercício, munido de um belo clichê.
Pra falar a verdade foi na criação que me achei. Criar é viver um mundo completamente diferente do seu, onde eu posso me expor ou não. Até cinco anos atrás eu nunca imaginei que teria condições de fazer as minhas próprias gravações. E também nunca imaginei que teria uma ferramenta de trabalho para escrever (um noteboock). Era tudo o que eu precisava. Agora só falta um carro, mas esse deixa para quando eu tiver uns 32 anos. Mas quem me conhece sabe que não sou um cara materialista, de modo algum. Tanto que minhas coisas perdem o aspecto de novo rapidinho. Imaginem um carro meu? Queimarei o banco dele em semanas.
Como de praxe, sempre paro por aqui e escrevo algo quando estou prestes a completar mais um incrível ano de vida. Não posso ir sem deixar uma reflexão sobre a vida, coisa que deve servir para o futuro, quando eu estiver um pouco perdido ou inflando de ego, volto aqui e leio como eu era nesses dias. É uma forma de congelar o presente.
A vida, até agora, revela-se nos sentidos, tanto os do corpo quanto os da mente. A arte costuma exercer essa função em alguns casos. Descobrir sempre é um prazer, pois faz a sua própria existência não ser mesquinha. O dia depois do outro somam uma aventura pra lá de explosiva e sempre (sempre) o exercício de olhar para trás (mais do que para frente) te livra de situações constrangedoras e também te fazem um ser humano mais equilibrado. Não devo, em hipótese alguma, julgar as pessoas pelo o que elas fazem. A fraqueza delas pode ser a sua um dia. Acho que a misericórdia ainda é a grande salvação da humanidade, mas ser misericordioso é algo que exige muita paz de espírito, paz essa que é cada vez mais complicada de adquirir, espírito cada vez mais longe de se elevar, pois temo em me fincar na minha própria carne. Não me julgue por isso, pois, oras bolas, sou um homem feito de carne e osso, e não um espírito querendo ser um homem.

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