segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Black Sabbath, 1970





Difícil... Muito difícil falar sobre isso. Nesse momento estou ouvindo “Black Sabbath 1970” e muita coisa se passa em minha cabeça. Os sinos, o vento, a chuva. Ozzy cantando como se fosse marido da Dona Morte (aquela do Penadinho, lembra?), todo mundo um tanto calmo, mas absurdamente sinistro; Tony Iommi fazendo da guitarra algo muito além do que simplesmente tocar. Tente expressar com palavras – arrisco-me a dizer que o peso que tanto caracterizou uma era vinha praticamente do falante do seu amplificador. É claro que, como banda, todos tinham seu peso, sua evidência. Mas o timbre de Tony...

Em 1970 o mundo era um tanto do sonho que vivemos hoje (claro, depende de tua idade e do que você considera ser um sonho). O rock, em seu caule, era ousado e pesado. Mas não barulhento e agressivo. Alguns chamam isso de hard rock. Eu chamo de evolução. Não consigo imaginar Ozzy e Tony pensando “precisamos fazer algo de diferente, algo que o mundo ainda não ouviu”. Imagino que a coisa simplesmente aconteceu. Ingredientes num caldeirão fervendo. Asa de morcego, unha de porco, terra de cemitério. Contos do túmulo. Junta a galera em volta da fogueira e vamos enxergar a diversão no crepúsculo.

Há de se entender que algumas pessoas simplesmente não dão a mínima para demônios, diabos, anjos, céu e inferno. Algumas pessoas até fazem disso o seu ganha pão. Falam disso como se fosse a coisa mais natural do mundo. Se você parar pra pensar, realmente, coisas que assustavam o povo antigo pode não fazer muito sentido hoje em dia. Vivemos num mundo onde o terror é outro, é bomba, é corrupção, é assalto, é assassinato, causados pelo próprio ser humano, e que algumas pessoas justificam tudo isso dando créditos ao tinhoso. De qualquer modo, até os assassinos amam. “My name is Lucifer, please take my hand”. O que isso tudo pode querer dizer são outros mils (pra não dizer quinhentos), o importante é que assustou e ainda assusta uma multidão de gente que, só de pensar em Ozzy e companhia, treme dos pés à cabeça.


Quanto à música que há nesse disco, ela é brilhante, é luz. Um diamante que reflete a claridade de um mundo recheado de mistérios, de uma vida dosada de bem e mal. Ozzy canta muito, preciso em suas notas. Tony é direto, o tipo de guitarrista que deu as mãos a tantos outros e influenciou toda uma geração de guitarristas que vieram depois. Geezer Butler e Bill Ward completam o álbum de figurinhas.
Em muitas de minhas viagens sem sair do lugar, estive com Guilherme Moraes enquanto ouvíamos Black Sabbath nos monitores do estúdio e ele berrava e apontava para os falantes, como se ali estivesse acontecendo uma performance ao vivo: “o que me entristece é o pré conceito musical que há em alguns caras, pois o que há de errado em apreciar isso e ao mesmo tempo um, sei lá... Vinícius de Moraes?”. Não vejo nada de errado nisso. Não é ser eclético, é ser justo.

A nova música pulsa. A nova era. Pulsa de dentro pra fora, de fora pra dentro. A música nunca estagnará. Ela sempre terá suas ramificações, seus caminhos, suas encruzilhadas. A música dá cor à vida. Mesmo se ela for escura, onde não há como enxergar as cores. Mesmo que seja um sábado escuro, enegrecido, há luz nisso tudo. Muitas vezes é na escuridão que enxergamos além, pois deixamos de usar os olhos e passamos a usar os ouvidos, nosso grande órgão, nosso mestre, nosso guia. O velho é aquele que morre. A história é eterna. É nova, pois o tempo é só uma questão de ponto de vista.
Black Sabbath é um retrato perfeito da virada, do novo, do incomparável, do ditador de tendências. É o simbolismo do roqueiro que se veste de preto, com camisas de banda, com correntes, anéis.  É uma banda que faz parte da evolução e que contribuiu para essa evolução continuar na maré de tendências. O mundo agradece.

Dedico esse texto ao querido Danilo Bracalenti, o cara que me disse “Pompeo, você já ouviu isso?”, apertando o play em seguida. 

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